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A doutrina da predestinação de Lutero é “Reformada”?

Escrito por  James R. Swan
Lutero e a TULIPa do calvinismo

I. Introdução

Parece não haver nada mais enfurecedor para um luterano que sugerir que Lutero era fundamentalmente um calvinista em sua visão da soberania e predestinação. O diretor executivo da Concordia Publishing House, Reverendo Paul McCain declara, “Sempre que a questão do porquê alguns são salvos e não outros surge, é normal que calvinistas que defendem que Deus predestinou alguns para o inferno, e outros para o céu, puxem Martinho Lutero em seus argumentos e clamem que eles estão na verdade sendo fiéis ao que Martinho Lutero ensinou. Que isto fique claro: Martinho Lutero não ensinou a predestinação dupla”1.

McCain poderia ter vários autores reformados em mente. Em seu livro Escolhidos por Deus, R.C. Sproul conta sua antiga resistência intelectual à doutrina da predestinação. “Minha luta com a predestinação começou cedo em minha vida cristã. Eu conhecia um professor de filosofia no colégio que era um calvinista convicto. Ele declarou a tal visão 'reformada' da predestinação. Eu não gostei. Não gostei tanto. Eu lutei contra ela com unhas e dentes através do colegial”2. Parte do argumento de Sproul para eventualmente abraçar a visão reformada inclui uma lista comparando aqueles que mantiveram um tipo parecido de predestinação reformada contra aqueles que não mantiveram. Agostinho, Aquino, Lutero, Calvino e Edwards são colocados contra Pelágio, Armínio, Melanchthon, Wesley e Finney. Sproul aponta que tal comparação não prova a veracidade de uma visão sobre a outra, mas “nós devemos levar a sério o fato de que tais homens letrados concordaram sobre este tema difícil”3. Sproul declara,

É importante para nós vermos que a doutrina reformada da predestinação não foi inventada por João Calvino. Não há nada na visão da predestinação de Calvino que não havia sido antes pronunciada por Lutero e Agostinho. Depois, o luteranismo não seguiu Lutero nesta questão mas Melanchthon, que alterou suas visões depois da morte de Lutero. É também digno de nota que em seu famoso tratado sobre teologia, As Institutas da Religião Cristã, João Calvino escreveu pouco sobre o tema. Lutero escreveu mais sobre predestinação que Calvino4.

Lutero escreveu mais sobre predestinação que Calvino? Melanchthon alterou a visão luterana da predestinação para os luteranos subsequentes? Tais declarações poderiam facilmente levar a equívocos sobre os pontos de vista de Lutero e Calvino da predestinação, assim como os pontos de vista de Lutero e os chamados cinco pontos do calvinismo. Alguns no campo reformado têm feito precisamente isto. Lorraine no seu A Doutrina Reformada da Predestinação declara que Lutero “entrou na doutrina de coração tão quanto o próprio Calvino” e “Ele até mesmo a declarou mais entusiasmadamente e procedeu a níveis mais duros em defendê-la do que Calvino jamais fez”5. O popular livro de introdução ao calvinismo de Duane Edward Spencer coloca Lutero entre aqueles “teólogos partidários” que mantiveram “as preciosas doutrinas da graça conhecidas como calvinismo”6. A introdução ao calvinismo de Edwin Palmer se refere a Lutero como um “bom calvinista”7. O resumo clássico do calvinismo de Steele e Thomas inclui Lutero como um campeão listado no “modelo exemplar de calvinistas”8.

Este artigo irá examinar os pontos de vista de Lutero comparados às doutrinas reformadas da predestinação, dando atenção aos slogans calvinistas da depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, vocação eficaz e perseverança. Enquanto a teologia de Lutero pode ser teologia da Reforma, ela não é teologia reformada. Se alguém falha em levar em conta as pressuposições de Lutero assim como suas declarações explícitas sobre a predestinação, expiação, perseverança, etc., erros grosseiros contra sua teologia ocorrerão. Enquanto há similaridades entre as visões de Lutero e a visão reformada, diferenças importantes ainda separam os dois lados. Quando o reformado acidentalmente apela para Lutero como um de seus próprios, ele faz assim às custas da precisão histórica.

II. O Deus oculto e o Deus revelado

Tratar Lutero acuradamente requer lê-lo de acordo com seus próprios paradigmas teológicos, particularmente um básico entendimento de seu uso do contraste e paradoxo. Lutero frequentemente contrastou a fraca tentativa humana de conhecer Deus e Deus como ele se revelou. Ele abomina especulação filosófica sobre Deus, de tentar conhecer Deus como Ele é em sua majestade pura. Se um ser pecador descobrisse Deus como Ele é em si mesmo, ele iria imediatamente se encolher de medo perante Deus em sua absoluta majestade e santidade. Ele não iria se encontrar confrontando um amoroso avô barbado com braços abertos dando boas vindas a suas criaturas em sua divina presença. Ao invés disto, uma criatura pecadora na presença de Deus seria similar a um inseto se escondendo para não ser esmagado por um imenso e poderoso inimigo9. Lutero chama o pedido de Moisés de ver a face de Deus de “o próprio pecado original, pelo qual nós somos impelidos a aspirar por um caminho até Deus através de especulação natural”10.

Lutero descreve Deus em sua majestade pura como o Deus oculto (deus absconditus). Este Deus tem controle absoluto sobre tudo. Da agenda do Deus oculto, uma criatura finita não pode saber nada. Ele é o Deus que impinge sua “secreta e terrível vontade” que inclui o punimento predestinado de pecadores. Desta vontade secreta, nenhuma criatura deve especular ou inquirir11. Em resposta a Erasmo, Lutero explica Deus como oculto e também revelado (deus revelatus):

Nós temos que argumentar por um lado sobre Deus ou a vontade de Deus como pregado, revelado, oferecido e adorado, e por outro lado sobre Deus como ele não é pregado, não revelado, não oferecido, não adorado. Na medida, portanto, que Deus se oculta e deseja ser desconhecido para nós, não é da nossa conta... Deus deve portanto ser deixado para si mesmo em sua própria majestade, pois a este respeito nós não temos nada a ver com ele, nem ele quis que tivéssemos algo a ver com ele12.

De acordo com Lutero, em sua misericórdia para com a humanidade, Deus cobre sua majestade. Ele faz assim não para se manter desconhecido, mas para se revelar à humanidade. Ele se veste de várias formas de tal forma que suas criaturas não são imediatamente destruídas pela sua santidade e glória. Isto se torna um paradoxo crucial para Lutero. Deus se mantém oculto enquanto simultaneamente se revela. O Deus oculto não revela aspectos de sua operação, essência ou vontade inescrutável. Mas o Deus revelado usa máscaras pelas quais interage com sua criação e faz seu amor pela criação conhecido. Por exemplo, Adão conheceu a presença de Deus pela máscara do som da brisa correndo pelo Éden. Deus usa a máscara do assento de misericórdia no tabernáculo para se revelar aos sacerdotes de Deus. Depois da ressurreição de Cristo ele se revela na Ceia do Senhor e batismo. Mas a suprema máscara que Deus usa é a encarnação. Se alguém fosse perguntar a Lutero como Deus se fez conhecido mais claramente, sua resposta seria “em Jesus Cristo”. Se alguém quer conhecer a vontade de Deus, deve ouvir a voz de Cristo. Este Deus revelado e misericordioso salvador proclama, “Eu não desejo a morte do pecador”. Este Deus revelado proclama salvação para toda a humanidade em um mundo caído.

A distinção entre o Deus oculto e revelado tem um papel significante nas polêmicas em volta da visão de Lutero sobre a predestinação. Aqueles de convicção reformada precisam considerar se o próprio paradigma é ou não consistente com a teologia reformada. É este paradoxo uma útil descrição de Deus? Ou, o paradoxal Deus revelado e oculto de Lutero descreve uma deidade esquizofrênica com duas vontades diferentes? O Deus oculto deseja a morte de certos pecadores. O Deus revelado deseja que todos os pecadores vivam.

Certamente a teologia reformada afirmaria com Lutero que o próprio ser de Deus está além de nossa compreensão total, que Deus não se revelou na totalidade e que ninguém conhece seu conselho secreto. Louis Berkhoff declara, “Teologia reformada mantém que Deus pode ser conhecido, mas que é impossível ter um conhecimento dele que é exaustivo e perfeito em todo sentido”13. Calvino declara, “Sua essência é incompreensível; por isto, sua divindade foge além de toda percepção humana”14. Hendrikus Berkhoff declara, “Do fato da revelação nós aprendemos que fora deste evento Deus é para nós o oculto”15.

Certamente a teologia reformada afirmaria com Lutero que um pecador perante o santo Deus, não coberto com a justiça de Cristo, fica em eterno julgamento. Certamente a teologia reformada afirmaria com Lutero que Cristo é a revelação central de Deus para a humanidade (Confissão Belga, Artigo XXVI). Certamente a teologia reformada afirmaria com Lutero que as coisas ocultas pertencem ao Senhor, mas as coisas reveladas pertencem a nós e nossos filho para sempre ({joombible X.5.29:29}Dt 29:29{/joombible}). Como Calvino declara, “Segue-se que ele tem outro desejo oculto que pode ser comparado a um abismo profundo... Moisés... nos convida a não apenas direcionar nosso estudo à meditação sobre a lei, mas para olhar a providência secreta de Deus com temor”16.

III. As duas vontades de Deus, de Lutero

Mas é reformado dizer que há duas vontades de Deus com diferentes intenções? A questão é de particular relevância já que alguns luteranos declaram que discutir a doutrina de predestinação não é mais que especular sobre a vontade não revelada do Deus oculto, uma discussão que deve ser evitada inteiramente. Don Matzat, do show de rádio luterano Issues Etc. declara, “Lutero acreditava que qualquer debate, discussão ou argumento sobre a doutrina da eleição deveria ser evitado”17. Matzat cita Lutero declarando que ao discutir a predestinação,

Eu esqueço tudo sobre Cristo e Deus quando eu me encontro nestes pensamentos e de fato chego ao ponto de imaginar que Deus é um velhaco. Nós devemos ficar no mundo, no qual Deus é revelado para nós e a salvação é oferecida, se nós cremos nele. Mas ao pensar sobre predestinação, nós esquecemos de Deus... Contudo, em Cristo estão escondidos todos os tesouros ({joombible X.58.2:3}Cl 2:3{/joombible}); fora dele tudo está trancado. Então, nós deveríamos simplesmente recusar discutir sobre a eleição. Tal disputa é tão irritante para Deus que ele instruiu o Batismo, a Palavra dita, e a Ceia do Senhor para agir contra a tentação de se engajar nisto. Nestes, devemos persistir e constantemente dizer, eu sou batizado e acredito em Jesus. Eu não me importo nem um pouco sobre a predestinação18.

O erudito luterano Lowell Green contrasta o paradigma de Calvino que “alguns foram predestinados para a vida eterna e outros para a perdição eterna” com Lutero e declara, “Lutero seguiu esta linha? De forma alguma! Como as confissões luteranas, ele sabia somente de uma eleição vinda do evangelho”19.

Enquanto o reformado faz distinções entre a vontade decretiva e preceptiva, e também distinções entre a vontade secreta e revelada de Deus, eles não estão fazendo a distinção que Lutero está fazendo. A.A. Hodge define a vontade decretiva de Deus como “Deus eficazmente tencionando a certa futurição de eventos” e esta vontade é secreta porque “apesar dela algumas vezes ser revelada ao homem nas profecias e promessas da Bíblia, ainda é em grande parte escondida em Deus”20. Hodge declara que a vontade de Deus é “um ato eterno, sem sucessão e todo compreensivo em todas as suas relações, condições e sucessões, que jamais foram, são ou serão”21. Mesmo que misteriosas, estas vontades de Deus não ficam em paradoxo ou contradição entre si.

O teólogo luterano Francis Pieper argumenta que o calvinismo ensina “a doutrina não escriturística de que a vontade de Deus é dupla do princípio, como se Deus originalmente decidiu salvar somente uma parte da humanidade e condenar o resto”22. Pieper de fato vê isto como se o reformado provasse o conselho secreto do Deus oculto: “Nós somos absolutamente incapazes de conhecer Deus em seu ser absoluto”23. “Nós podemos conhecer Deus apenas até onde Ele, em misericordiosa condescendência a nossa limitada compreensão humana, se revelou para nós nas Escrituras Sagradas”24. As Escrituras de acordo com Pieper proclamam uma ênfase no Deus revelado: “'Qual é a vontade de Deus em relação ao salvar e condenar do homem?' Devemos com base em {joombible X.50.3:17-18}João 3:17–18{/joombible}, etc., primeiro pensar de Deus como desejando condenar ninguém, mas salvar todos os homens, sem exceções, pela fé em Cristo”25. Deus está somente “desejando condenar aqueles que se recusam a crer em Cristo”26.

Como o paradigma de Pieper se compara a uma exegese reformada das Escrituras? Um exemplo informativo mostrando o contraste entre as duas visões está em {joombible X.68.3:9}2 Pedro 3:9{/joombible}. Este verso declara que Deus não deseja que ninguém se perca. Pieper argumenta que este verso é uma prova da gratia universalis para cada e todo indivíduo27 demonstrando a vontade revelada de Deus. Pieper rechaça o calvinismo, não se dando conta que o próprio Calvino comentou sobre este verso,

Se Deus deseja que ninguém se perca, por que é então que tantos se perdem? A isto minha resposta é que nenhuma menção é aqui feita do propósito oculto de Deus, de acordo com o qual o réprobo está morto em sua própria ruína, mas somente de sua vontade como é feito conhecido a nós no evangelho. Pois Deus ali estende sua mão sem diferenciação a todos, mas toma somente aqueles, para trazê-los a si mesmo, os quais ele escolheu antes da fundação do mundo28.

No entanto muitos teólogos reformados declaram que o contexto explicitamente explica o significado:

“O Senhor é longânimo conosco, não desejando que ninguém se perca, senão que todos venham a se arrepender”. A palavra restritiva é “nós”. “Ninguém” se refere a “conosco”. Isto não resolve o problema instantaneamente, contudo, pois “nós” pode se referir a nós, seres humanos (universalmente), ou a um grupo particular de “nós”. Já que 2 Pedro está escrito por um fiel cristão para fiéis cristãos e pelos fiéis cristãos, é mais provável que “nós” se refira a fiéis cristãos29.

Similarmente, {joombible X.61.2:4}1 Timóteo 2:4{/joombible} declara que Deus quer que todos os homens sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade. O reformado argumenta que o contexto fala de tipos de homens, como os versos um e dois falam de fazer orações e intercessões “para todos, por reis e todos aqueles em autoridade”. O texto não está fazendo uma declaração universal, mas sim falando de diferentes classes de homens. Pieper no entanto vê tal exegese como “pensamento anti-escriturístico” pois “advogados da gratia particularis negam passagens da Escritura que proclamam a gratia universalis de seu significado claro”30. O reformado ignora “a vontade revelada de Deus, sua vontade de salvar todos os homens”, e ao invés disto interpretam a passagem de acordo com “a vontade de Seu prazer, Sua vontade escondida, de acordo com a qual a verdadeira intenção de Deus é salvar somente o eleito”31. Contrário a Pieper, muitos dos reformados argumentam que a vontade revelada de Deus é para Cristo salvar seu povo de seus pecados ({joombible X.47.1:21}Mateus 1:21{/joombible}), e estes foram comprados pelo sangue de Cristo de toda tribo, língua, povo e nação ({joombible X.73.5:9}Ap 5:9-10{/joombible}).

Estas passagens universalistas que os luteranos juntam são frequentemente pronunciadas sem uma consideração cuidadosa do contexto. Tal afirmação pode parecer absurda, mas quando um sistema teológico começa com um pressuposto subjacente de que Deus tem duas vontades, que necessidade há de sondar uma passagem que pode-se facilmente interpretar como a expressão de um paradoxo subjacente de interpretação? Não há necessidade de harmonizar um texto em que tanto o Deus revelado e escondido desejam diferentes resultados. Este tipo de escrutínio é decidido antes de qualquer trabalho exegético.

Frequentemente luteranos reprovam a argumentação reformada como que usando a “razão” para interpretar as Escrituras ao invés de simplesmente deixar o texto falar. “Razão” no sentido polêmico luterano é visto como aquela que tenta fazer os mistérios das Escrituras serem racionais para a mente humana. Mas o mesmo poderia ser dito do próprio Lutero a respeito de sua solução para a presença de Cristo na Ceia do Senhor. Mais ainda, alguém poderia simplesmente aplicar a mesma crítica à argumentação luterana: eles “racionalizaram” que há duas vontades diferentes no ser de Deus. Eles chegaram à conclusão do paradoxo depois de uma racionalização.

IV. Dois dilemas luteranos das duas vontades de Deus

Luteranos enfrentam dois dilemas sobre o paradigma das duas vontades de Deus. A primeira é a do duplo padrão. Eles censuram os reformados por investigar o conselho secreto do Deus oculto enquanto o próprio Lutero discutiu de fato a vontade secreta do Deus oculto a respeito da predestinação.

Assim Deus esconde sua eterna bondade e misericórdia sob ira eterna, sua justiça sob iniquidade. Este é o grau mais alto de fé, crer que ele seja misericordioso quando ele salva poucos e condena muitos, e crer que ele seja justo quando por sua própria vontade ele nos faz necessariamente condenáveis, de forma que ele pareça, de acordo com Erasmo, se deleitar nos tormentos dos miseráveis e ser digno de ódio ao invés de amor32.


Nos capítulos 9, 10 e 11 [de Romanos, Paulo] ensina sobre a predestinação eterna de Deus – de onde originalmente procede quem deve crer ou não, quem pode ou não se livrar do pecado – de forma que nossa salvação seja tomada inteiramente das mãos e colocada nas mãos de Deus apenas. E isto é completamente necessário. Pois nós somos tão fracos e incertos que se dependesse de nós, nem uma simples pessoa seria salva; o demônio certamente teria mais força que nós todos. Mas já que Deus é confiável – sua predestinação não pode falhar, e ninguém pode vencê-lo – nós ainda temos esperança em face do pecado33.


Nós sabemos muito bem que Deus não ama ou odeia como nós, já que nós somos mutáveis tanto no nosso amor quanto no ódio, enquanto que ele ama e odeia de acordo com sua eterna e imutável natureza, então aqueles sentimentos e humores passageiros não se levantam nele. E é este fato que torna completamente sem sentido a livre escolha, pois o amor de Deus para os homens é eterno e imutável, e seu ódio é eterno, sendo anterior à criação do mundo, e não somente pelo mérito e obra da livre escolha; e tudo se faz pela necessidade em nós, de acordo com ele ou amar ou não amar a nós de toda a eternidade, de forma que não somente o amor de Deus mas também a forma de seu amor impõe necessidade em nós34.


Esta palavra, então, “Eu não desejo a morte de um pecador”, como você vê não tem outro objetivo além de pregar e oferecer a misericórdia divina para o mundo, uma misericórdia que somente o aflito e o atormentado pelo medo da morte recebe com alegria e gratidão, porque neles a lei já cumpre seu ofício e trouxe o conhecimento do pecado. Aqueles, contudo, que não tem experimentado o ofício da lei, e nem reconhecem o pecado ou sentem a morte, não têm uso para a misericórdia prometida por aquela palavra. Mas por que alguns são tocados pela lei e outros não, de forma que o primeiro aceita e o último despreza a graça oferecida, é outra questão e uma não trabalhada por Ezequiel nesta passagem. Pois ele está aqui falando da pregada e oferecida misericórdia de Deus, não daquela oculta e terrível vontade de Deus pela qual ele ordena por seu próprio conselho qual e que tipo de pessoas ele deseja ser recipientes e compartilhadores de sua pregada e oferecida misericórdia. Esta vontade não deve ser investigada, mas adorada de modo reverente, como de longe o segredo mais impressionante da Majestade Divina, reservado para si somente e proibido para nós mais religiosamente que qualquer número de cavernas Coricianas35.

Estes breves trechos poderiam ser combinados com a extensiva argumentação de Lutero declarada ao longo de seu Da vontade cativa. Ali Lutero deixa claro declarações sobre o ensino bíblico explícito que Deus endureceu o coração de Faraó, e que Jacó foi amado a despeito de Esaú, para citar apenas alguns exemplos. Lutero argumenta ao longo de seu livro contra Erasmo sobre a liberdade de Deus para fazer o que ele deseja como o supremo oleiro, não de uma especulação filosófica, mas usando extensiva argumentação escriturística. Enquanto que ele de fato faz uma distinção entre o Deus revelado e o oculto em sua obra, esta distinção frequentemente parece secundária em sua argumentação, ou talvez meramente declarada mas não aplicada. O estudioso de Lutero, Paul Althaus, faz as seguintes observações pertinentes ao paradigma de Lutero do Deus revelado/oculto no Da vontade cativa. Embora não de uma perspectiva Reformada, Althaus claramente encontra Lutero expressando a vontade do Deus oculto, e se o paradigma é bíblico como expresso por Lutero:

Nós devemos perguntar se aquela distinção [do Deus oculto/revelado] é mesmo substancialmente escriturística. Certamente a Bíblia está ciente de um negro mistério de Deus endurecendo o coração de um homem. Para a Bíblia, contudo, esta continua a ser somente a borda negra que envolve a luz brilhante da vontade de Deus de salvar o homem. Para Lutero por outro lado – pelo menos no Da Vontade Cativa – seu conhecimento do Deus oculto se estende como uma larga sombra sobre a figura da vontade revelada de Deus. Em comparação à Bíblia, uma mudança de ênfase ocorreu. É uma coisa não esconder fato preocupante de que Deus também endurece o coração dos homens e no temor de Deus, te levá-lo a sério como a Bíblia faz; é, contudo, uma coisa completamente diferente fazer – como Lutero – o mistério que nos confronta na história do trato de Deus com os homens e com pessoas, um mistério que certamente conflita com a vontade de Deus de saber como a conhecemos, e a desenvolver em uma completa doutrina da dupla vontade de Deus, da dualidade e extensiva oposição entre o oculto e o revelado Deus. É uma coisa quando Paulo discute o endurecimento do coração de homens por parte de Deus sem imediatamente entender isto como uma rejeição final; e é outra coisa bem diferente quando Lutero não mais entende este endurecimento como uma transição para a misericórdia (como Paulo faz em Romanos 11) mas o interpreta como uma rejeição final. A doutrina de Lutero do Deus oculto, apesar dele a basear nas Escrituras, certamente vai além das Escrituras tanto em sua forma quanto conteúdo36.

O segundo dilema que os luteranos enfrentam é o próprio relato bíblico. A razão pela qual Lutero foi capaz de reunir argumentação bíblica que alegadamente sondava o conselho secreto do Deus oculto contra Erasmo é porque a própria Bíblia discute predestinação e reprovação. Para Lutero, estes ensinos bíblicos não eram obscuros. Para Erasmo, Lutero declara,

O apóstolo Paulo, em sua epístola aos Romanos, discute estas mesmas coisas, não em um canto, mas publicamente e perante todo o mundo, da forma mais livre e mesmo nos termos mais duros, quando ele diz: “Ele endurece a quem Ele quiser” e, “Deus, desejando mostrar sua ira”, etc. ({joombible X.52.9:18}Rm 9:18{/joombible}, {joombible X.52.9:22}22{/joombible}). O que poderia ser mais duro (para a natureza não regenerada pelo menos) do que as palavras de Cristo: “Muitos são chamados, mas poucos os escolhidos” ({joombible X.47.22:14}Mt 22:14{/joombible}), ou: “Eu conheço aqueles que eu escolhi” ({joombible X.50.13:18}João 13:18{/joombible})? Nós temos isto, é claro, em sua autoridade que nada mais inútil poderia ser dito do que estas coisas, porque homens ímpios são levados por eles a cair em desespero, ódio e blasfêmia37.

Luteranos frequentemente insistem que discutir tudo que é conferido em predestinação deve ser evitado. O Livro da Concórdia declara, “Se nós desejamos pensar ou falar corretamente e proveitosamente sobre eleição eterna ou sobre a predestinação e ordenamento dos filhos de Deus à vida eterna, nós devemos nos acostumar a não especular a respeito da absoluta, secreta, escondida e inescrutável presciência de Deus”38. Mas, passagens tais como Romanos 8-11 investiga aquilo que luteranos dizem que deve ser evitado, incluindo a salvação de alguns e a perdição de outros. Efésios 1 se lança em uma extensiva alegria doxológica sobre a predeterminação de Deus de seus escolhidos, enquanto {joombible X.67.2:7-8}1 Pedro 2:7-8{/joombible} fala daqueles que não crêem “para o que também foram destinados”. O Senhor fala do conhecimento evangélico escondido dos sábios e prudentes, mas revelados aos pequeninos ({joombible X.47.11:25}Mt 11:25{/joombible}). Aqueles que não acreditam não são ovelhas de Cristo ({joombible X.50.10:26}João 10:26{/joombible}). Quando o reformado insiste “Deus de toda a eternidade decretou justificar todos os eleitos, e Cristo, na plenitude do tempo, morreu por seus pecados”(Confissão de fé de Westminster, Capítulo 11) e que “alguns recebem a dádiva da fé de Deus, e outros não recebem, por causa do eterno decreto de Deus” (Cânones de Dort, Artigo 6), a razão para tais declarações confessionais são declarações explícitas das Escrituras.

V. A ênfase de Lutero na predestinação

Em diálogo com luteranos, me foi dito que Lutero erroneamente foi além de seus próprios paradigmas com tais declarações como as citadas acima, consequentemente aprofundando-se no conselho secreto do Deus oculto. Em justiça a esta crítica, eu encontrei poucas declarações extensivas ou detalhadas de Lutero como estas encontradas em seu Da Vontade Cativa, depois de sua composição. No entanto não há declarações explícitas de Lutero se arrependendo de sua argumentação contra Erasmo ou que ele especulou erroneamente sobre a vontade do Deus oculto. Em uma carta de Lutero de 1537 a respeito de uma coleção publicada de seus escritos, Lutero declara, “A respeito [do plano] de colecionar meus escritos em volumes, estou bem calmo e não tão ansioso sobre isto porque, incitado por uma fome Saturniana, eu preferiria vê-los todos devorados. Pois eu reconheço que nenhum deles são realmente livros meus, exceto talvez o Da Vontade Cativa e o Catecismo”39.

Sproul provavelmente não está errado em sua afirmação que Lutero escreveu mais sobre a predestinação do que Calvino em suas Institutas, se de fato Sproul está comparando estas com o Da Vontade Cativa. Ao longo de sua carreira, no entanto, Calvino de fato escreveu mais sobre o assunto do que Lutero. Depois de seu Da Vontade Cativa, somente um punhado de declarações breves podem ser reunidas. Sproul não está sozinho em fazer tais declarações comparativas. Um dos estudos mais extensivos sobre Lutero e a Predestinação foi reunido por Harry Buis “especialmente concentrando-se na demonstração do fato que Martinho Lutero manteve uma forte doutrina da predestinação assim como João Calvino”40. Buis estressa cada declaração de Lutero que ele pode encontrar através de um paradigma reformado. Buis clama que Lutero fez numerosas declarações sobre os “principais pontos do Calvinismo” “que foram mais extremos que qualquer um que Calvino jamais fez”41. Muitas das declarações que Buis compilou no entanto falam somente da vitalícia crença de Lutero que a vontade humana era escrava, um assunto frequentemente endereçado por Lutero. Ele gasta tempo considerável com o Da Vontade Cativa, mas evita qualquer discussão completa sobre o paradigma de Lutero do Deus oculto/revelado. Buis pega a declaração mais deficiente como prova para o calvinismo de Lutero. Por exemplo, De {joombible X.68.3:9}2 Pedro 3:9{/joombible} Buis diz que Lutero questionou se Pedro realmente o escreveu. Isto serve como prova do calvinismo de Lutero! Pelo contrário no entanto, Lutero estava provavelmente aludindo às dúvidas de Eusébio, História Eclesiástica, Livro III, capítulo 3, parágrafo 1. Lutero na verdade afirma de 2 Pedro no mesmo contexto, “Ainda é confiável que este é apesar de tudo a carta do apóstolo”42. Buis cita extensivamente do comentário de Romanos pré-Reforma de Lutero, ainda que este escrito preceda o paradoxo de Lutero do Deus oculto/revelado, e também se deriva de um tempo onde o próprio Lutero estava atormentado pelas dúvidas sobre sua própria predestinação. Buis então conclui seu tratamento de Lutero com numerosas citações do Conversas à Mesa de Lutero, um escrito não feito pelas mãos de Lutero. Apesar de ter boas intenções, Buis demonstra que aqueles de uma perspectiva Reformada precisam ser cuidadosos com contextos, não permitindo seus próprios paradigmas teológicos interferirem na leitura precisa do texto.

Mas nem todos de uma perspectiva reformada são tão aleatórios com Lutero. Herman Bavinck se posiciona bem diferentemente de Buis: “Lutero consequentemente, evitou progressivamente a doutrina especulativa da predestinação, a vontade do bom prazer divino, o Deus oculto, preferindo se focar no ministério da Palavra e sacramentos, aos quais a graça está ligada, e dando progressiva proeminência à vontade redentiva universal de Deus, sua vontade expressa”43. Depois de peneirar através das declarações reunidas por Buis, Bavinck parece estar certo. As últimas declarações de Lutero sobre a predestinação tem mais ênfase pastoral do que polêmica ou doutrinária.

VI. Evitando especulação sobre a Predestinação

De fato as coisas secretas pertencem ao Senhor, mas que Deus ordena alguns para a salvação enquanto outros são mortos e deixados em seus pecados não é biblicamente algo secreto. Enquanto o Da Vontade Cativa de Lutero concorda e argumenta este ponto, o posterior Lutero enfatiza evitar especulação desnecessária sobre a predestinação. “Nós devemos nos refrear de debates sobre a predestinação e de discussões similares. Eles são carregados com perigo e injúrias, porque eles investigam a vontade e conselhos ocultos de Deus à parte da Palavra. Eles querem investigar e explorar tão inquisitivamente por que Deus revelou a si mesmo de uma forma ou outra, e por que Ele tão seriamente se esforça para persuadir nossa vontade a acreditar”44.

Em suas palestras sobre Gênesis perto do fim de sua vida, Lutero reviu o tema da predestinação brevemente. Ele menciona Da Vontade Cativa, destacando sua distinção do Deus oculto/revelado:

Eu ensinei em meu livro Da Vontade Cativa e em outro lugar, a saber, que uma distinção deve ser feita quando alguém lida com o conhecimento, ou melhor com o tema, da divindade. Pois alguém deve debater ou sobre o Deus oculto ou sobre o Deus revelado. Com respeito a Deus, enquanto ele não é revelado, não há fé, não há conhecimento e não há entendimento. E aqui deve-se apegar à declaração que o que está acima de nós não é de nosso interesse. Pois pensamentos deste tipo, que investigam algo mais sublime acima ou fora da revelação de Deus, são completamente diabólicas. Com eles nada mais é alcançado além de um mergulho na destruição; pois eles apresentam um objeto que é inescrutável, a saber, o Deus não revelado. Por que ao invés disto não deixar Deus manter suas decisões e mistérios em segredo? Não temos razões para nos esforçar tanto para que estas decisões e mistérios sejam revelados a nós45.

Tais comentários tardios de Lutero são frequentemente trazidos contra o uso de Lutero pela teologia reformada. O pastor McCain declara, “Quando calvinistas apelam à [Da vontade cativa] em suporte de sua doutrina da predestinação, eles o fazem de tal forma a frequentemente isolar este documento do resto de seus escritos e ensinos”46. Mas quando alguém busca através dos escritos posteriores de Lutero, percebe-se que ele não repudia em nenhum lugar suas declarações mais antigas.

Lutero achou que o tema não deveria ser discutido? Como poderia Lutero tão vigorosamente engajar no tema no Da Vontade Cativa, mas anos depois dizer que todos deveriam evitar o tema? Lutero tinha uma solução, frequentemente ignorada: somente homens especialmente qualificados seriam aqueles que discutiriam o mistério da predestinação. Comentando sobre Deus se arrepender de ter feito o homem em {joombible X.1.6:6}Gênesis 6:6{/joombible}, Lutero declara,

Este é o simples e verdadeiro significado. Se você referir estas palavras à vontade da divina essência, que Deus tem determinado isto da eternidade, tal discussão é carregada com perigo e não pode ser conduzida exceto por homens espirituais e aqueles que têm sido bem treinados por suas experiências, homens como Paulo, que ousou conduzir uma discussão sobre a predestinação47.

A extrema cautela que Lutero sugeria sobre a predestinação não vem somente de suas experiências pré-Reforma, mas também de suas experiências como pastor. Ele encontrou aqueles que estavam preocupados com a predestinação, internamente batalhando com questionamentos sobre se eram dos eleitos ou não. Em uma carta de 1531 para uma mulher angustiada sobre sua eleição, Lutero explica que ele mesmo esteve atormentado por tais dúvidas e “trazido aos limites da morte eterna por elas”48. Ele a aconselha a não examinar o conselho secreto de Deus, a reconhecer que tal especulação vem de Satanás, e que ela deveria buscar por Cristo para ter sua certeza. “Desta forma, eu digo, e de nenhuma outra, alguém aprende como lidar apropriadamente com a questão da predestinação. Será evidente que você acredita em Cristo. Se você acredita, então você é chamada, então você está certamente predestinada”49. Ao comentar sobre João 17, Lutero declara:

Se alguém quer saber se é eleito ou como ele está com Deus, que ele simplesmente olhe para a boca de Cristo, a saber, para esta passagem e aquelas como esta. Pois apesar de ninguém poder dizer com certeza quem será [chamado] no futuro ou quem irá finalmente perseverar, é apesar de tudo certo que aqueles que foram chamados e chegaram a ouvir esta revelação (ou seja, a Palavra de Cristo), contanto eles também aceitem ela seriamente (ou seja, eles consideram e acreditam que ela é inteiramente verdadeira), eles são aqueles dados a Cristo pelo Pai. Aqueles que são dados a Ele, Ele defenderá e protegerá para que eles não pereçam, assim como Ele diz em {joombible X.50.6:39}João 6[:39]{/joombible}: “Esta é a vontade do Pai, que me enviou, que eu não perca nada que Ele me deu”. E posteriormente neste capítulo [{joombible X.50.17:12}João 17:12{/joombible}]: “Aqueles que Tu me deste eu guardei, e nenhum deles foi perdido exceto o filho da perdição”. Novamente, em {joombible X.50.10:28}João 10[:28]{/joombible}, Ele fala das ovelhas que ouvem sua voz: “Eu dou a eles vida eterna, e eles nunca perecerão, e ninguém os tirará de minhas mãos”50.

Lutero no entanto não estava simplesmente preocupado com aqueles que batalhavam ao examinar sua eleição. Ele encarava também aqueles que promoviam o puro fatalismo antinomiano. “Eu ouvi que aqui e ali entre os nobres e pessoas de importância, declarações viciosas estão sendo espalhadas a respeito da predestinação ou da presciência de Deus. Pois é isto que eles dizem: 'Se eu sou predestinado, eu devo ser salvo, faça eu o bem ou o mal. Se eu não sou predestinado, eu serei condenado a despeito de minhas obras'”51. Lutero ataca tal fatalismo sem lei como “demoníacos e envenenados dardos e o próprio pecado original”52, “pois para que fim serve ter enviado seu Filho para sofrer e ser crucificado por nós? De que utilidade era constituir os sacramentos se eles são incertos ou completamente inúteis para nossa salvação? Pois de outra forma, se alguém foi predestinado, ele teria sido salvo sem o Filho e sem os sacramentos ou a Santa Escritura”53. “Então devemos detestar e evitar estas palavras viciosas que o epicureu espalha: 'Se é assim que acontecer, que aconteça'”54.

A ironia para os luteranos é que Calvino compartilhou de muitas das preocupações de Lutero. Calvino sugere examinar o conselho secreto de Deus para determinar a eleição de alguém? Não, Calvino declara, “Não podemos encontrar a certeza da nossa eleição em nós mesmos, e nem mesmo em Deus Pai, se olharmos para Ele à parte do Filho. Cristo, então, é o espelho no qual deveríamos, e em que, sem engano, podemos contemplar a nossa eleição... se estamos em comunhão com Cristo, temos a prova suficientemente clara e forte que estamos inscritos no Livro da Vida.”55. Sua mais famosa cautela vem do livro III das Institutas:

A discussão acerca da predestinação, quando já por si mesma é matéria um tanto enredilhada, a curiosidade dos homens a torna assaz confusa e inclusive perigosa, visto que o entendimento humano não se pode refrear nem deter-se, por mais limites e termos que se lhes assinale, para não extraviar-se por caminhos proibidos e elevar-se com empenho, se fosse possível, de não deixar segredo de Deus sem revolver e esquadrinhar. Quando vemos a muitos, a cada passo, arrojar-se a esta audácia e improbidade, e entre esses alguns doutro modo não maus, importa que sejam, em tempo oportuno, advertidos sobre qual lhes é nesta parte a medida de seu dever. Portanto, primeiro que se lembrem de que, enquanto investigam a predestinação, tentam penetrar nos íntimos recessos da divina sabedoria, na qual, se alguém segura e confiantemente irrompe, tampouco conseguirá saciar-se com que sua curiosidade, e estará a adentrar um labirinto do qual não achará nenhuma saída. Pois não é justo que impunemente procure o homem devassar as coisas que o Senhor quis que fossem escondidas em si próprio e esquadrinhe desde a própria eternidade a sublimidade da sabedoria que ele quis que seja adorada e não que seja apreendida, para que também por meio dela ele viesse a ser admirado. Os desígnios secretos de sua vontade que determinou devessem ser-nos desvendados, esses no-los revelou em sua Palavra. Mas determinou que é bom comunicar-nos tudo aquilo que via sernos necessário e proveitoso56.

Uma diferença entre Lutero e Calvino no entanto é que Calvino não achava que as discussões da predestinação deveriam ser evitadas completamente. “Há outros que, desejando curar este mal, tudo que requerem é que cada menção da predestinação seja enterrada; de fato, eles nos ensinam a evitar qualquer questão sobre isto, como faríamos de um recife”57. Calvino argumenta que as Escrituras são a escola do Espírito Santo. Já que as Escrituras fazem muitas referências à predestinação, é útil estudá-la. “Insisto que devemos permitir ao homem cristão abrir a mente e os ouvidos a todas as palavras de Deus que lhe são dirigidas, desde que se faça com esta moderação: que assim que o Senhor haja fechado sua santa boca, também fecha ele atrás de si o caminho à especulação”58. A tradição reformada assim desenvolveu um completo e robusto tratamento da predestinação.

VII. Lutero não era um calvinista de cinco pontos

Enquanto as similaridades e diferenças acima mostram que a visão de Lutero da predestinação é repleta de equívocos de ambos luteranos e calvinistas, os reformados precisam evitar dizer que Lutero era um calvinista de cinco pontos. É fácil pensar que simplesmente porque Lutero acreditou em uma forma de predestinação, ele então logicamente abraçou todas as outras pétalas da tulipa calvinista.

Os comentários de Lutero sobre o cativeiro da vontade têm sido frequentemente repetidos por calvinistas ao descrever a depravação total. Calvinistas mantêm, “Homem em seu estado natural é incapaz de fazer qualquer coisa ou desejar qualquer coisa agradável a Deus. Até ele ser 'nascido de novo' do Espírito Santo, e dado um espírito humano vivente, homem é escravo de Satanás que direciona o homem a cumprir os desejos da carne que são inimizade contra Deus”59. Igualmente Lutero declarou, “A vontade humana é colocada entre os dois como um animal de carga. Se Deus montá-lo, ele deseja e vai onde Deus desejar, como o salmo diz: 'Me tornei como um animal [perante ti] e estou sempre contigo' {joombible X.23.73:22}[Sl 73:22 f.]{/joombible}. Se Satanás montá-lo, ele desejará e irá onde Satanás desejar; nem poderá escolher correr para qualquer dois dois montadores ou buscá-los, mas os próprios montadores lutam pela possessão e controle dele”60.

De tais declarações fortes do Da Vontade Cativa, calvinistas podem pensar que as outras doutrinas do calvinismo para Lutero devem seguir-se logicamente. Como o paradigma continua , se alguém admitir que o homem é escravo do pecado e morto no pecado, todas as outras pétalas da tulipa se seguem logicamente. Este tipo de raciocínio no entanto não funciona com Lutero. Quando Lutero se aproximou das Escrituras, ele rejeitou o uso medieval do lógico “ergo” (então). Ele achava que teologia não era “racionalização” teológica sistemática. Não é simplesmente questão de mover de uma conclusão humana para outra. Teologia era sempre uma questão de “denotar”. Por exemplo, ao invés de fazer um argumento X + Y então = Z, Lutero expressaria o mesmo argumento pelo seu uso do “no entanto”. Ou seja, X + Y no entanto Z. Esta é a grade subjacente do uso de Lutero do paradoxo em sua teologia.

No antigo comentário de Lutero sobre Romanos ele comenta sobre “Deus quer todos os homens salvos” ({joombible X.61.2:4}1Tm 2:4{/joombible}). Ele diz que falar desta forma “deve ser entendido somente com respeito aos eleitos” e que “Cristo não morreu por absolutamente todos”61. De tais comentários parece fácil concluir que Lutero ensinou a expiação limitada. Além deste comentário pré-reforma, não há outra evidência que Lutero manteve tal visão ao longo de sua vida sobre a extensão da expiação. Lutero diria ao invés disto coisas como, “[Cristo] não ajuda apenas contra um pecado, mas contra todos os meus pecados; e não contra meu pecado apenas, mas contra o pecado de todo o mundo. Ele vem para levar não apenas a doença, mas a morte; e não minha morte apenas, mas a morte de todo o mundo”62. Para Lutero, o Deus revelado de fato morreu para os pecados de todo ser humano. Citações similares a esta aparecem salpicadas através de seus últimos escritos. Para Lutero, as Escrituras declaram que Cristo morreu para todos os homens e nem todos são salvos. No entanto, Cristo morreu para todos os homens, e quer que todos os homens sejam salvos. O teólogo luterano Siegbert Becker explica que sua igreja seguiu este paradigma:

As confissões luteranas, ao introduzir a doutrina da graça universal na discussão da predestinação, prefaciam este movimento com o aviso, “Disto não devemos julgar de acordo com nossa razão”. A Declaração Breve da Igreja Luterana – Sínodo de Missouri, que todos os sínodos da original Conferência Sinodal reconhecem como ortodoxo, diz destas duas doutrinas, “Razão cega de fato declara que estas duas verdades são contraditórias; mas nós impomos silêncio em nossa razão”. Assim o luteranismo se coloca contra qualquer decreto de predestinação dupla, e especificamente nega que a não eleição de homens é a causa de sua condenação”63.

Comentários de Lutero parecidos com o conceito calvinista da graça irresistível são esparsos. Em seu Disputa Contra a Teologia Escolástica de 1517 ele declara, “A melhor e infalível preparação para a graça e a única disposição em direção à graça é a eleição eterna e predestinação de Deus”64. Tais temas no entanto são raramente expostos. Comentando sobre João 6, Lutero declara,

Pois você deve crer que não há maior graça e obra divina do que alguém vir ouvir a Palavra de Cristo alegremente de todo seu coração e levá-la a sério, considerando-a grande e preciosa. Pois, como foi dito, nem todo mundo se preocupa com isto, nem isto vem de entendimento ou escolha humana. É necessário mais do que a razão e livre-arbítrio para ser capaz de compreender e aceitá-la, como Cristo diz em {joombible X.50.6:44}João 6[:44]{/joombible}: “Ninguém pode ver a mim a menos que o Pai o traga”. E novamente [{joombible X.50.6:45}João 6:45{/joombible}]: “Quem quer que ouça e aprenda de meu Pai virá a mim”65.

Mas comentando sobre os mesmos versos ele declara, “'Só tome cuidado para não cair fora.' Em resumo, quem se une a Cristo possui graça completa e não pode ser perdido, mesmo se por fraqueza ele caia como São Pedro, enquanto ele não desprezar a Palavra como os rudes espíritos que se gabam do Evangelho mas não dão atenção para ele”66. Na teologia de Lutero então, é possível ser trazido pelo Pai e ser eternamente perdido. Nos artigos de Esmalcalde, Lutero declara,

40. No caso de um cristão tal arrependimento continua até a morte, pois todos ao longo da vida contendem com os pecados que residem na carne. Como São Paulo testifica em {joombible X.52.7:23}Rm 7:23{/joombible}, ele batalha com a lei em seus membros, e ele faz isto não com seus próprios poderes mas pelo dom do Espírito Santo que segue o perdão de pecados. Este dom diário limpa e expele os pecados que restam e habilita o homem a se tornar verdadeiramente puro e santo.

41. Isto é algo sobre o qual o papa, os teólogos, os juristas e todos os homens não entendem nada. É um ensino do céu, revelado no Evangelho, e ainda é chamado de heresias por santos sem Deus.

42. Alguns fanáticos podem parecer (e talvez eles estão já presentes, como eu vi com meus próprios olhos no tempo da revolta) que mantém que assim que eles receberam o Espírito do perdão de pecados, ou assim que eles se tornaram crentes, eles irão perseverar na fé mesmo se eles pecarem depois, e tal pecado não irá prejudicá-los. Eles gritam, “Faça o que você quiser, não importa contanto que você creia, pois a fé apaga todos os pecados”, etc. Eles adicionam que se alguém peca depois que recebeu a fé e o Espírito, ele nunca realmente teve o Espírito e a fé. Eu encontrei muitas pessoas tolas como estas e eu temo que tal demônio ainda reside em alguns deles.

43. É então necessário saber e ensinar que, além do fato de que eles ainda possuem e sentem o pecado original e diariamente se arrependem e lutam contra ele, quando homens santos caem em pecado abertamente (como Davi caiu em adultério, assassinado e blasfêmia), a fé e o Espírito abandonaram eles.

44. Isto é assim porque o Espírito Santo não permite que o pecado governe e ganhe a mão superior de tal forma que o pecado seja cometido, mas o Espírito Santo reprime e contém ele de forma que ele não faça aquilo que deseja. Se o pecado fizer o que deseja, então o Espírito Santo e a fé não estão presentes,

45. Pois São João diz, “Ninguém nascido de Deus comete pecado; ele não pode pecar”. Mas também é verdade, como o mesmo São João escreve, “Se nós dissermos que não temos pecado, nós nos enganamos, e a verdade não está em nós”67.

VIII. Conclusão

O reformado toma os temas da providência e eleição como profundos, misteriosos, completamente inescrutáveis e como devendo ser tratados com cautela, mas não para serem evitados. Que Deus escolhe para salvar alguns deixando outros em seu pecado não é um conceito obtido pela razão, mas descoberto porque o Espírito Santo revelou nas Escrituras. Evitar qualquer tema revelado nas Escrituras é evitar a verdade, e aquela que Deus nos deu.

O reformado não busca certeza da salvação por sondar os decretos de predestinação de Deus. Eles encontram tal conforto, como Calvino diz, com a externa Palavra de Deus, “Pois assim como aqueles que fazem sua eleição mais certa por investigar o plano eterno de Deus à parte de sua Palavra se afundam em um abismo mortal, assim aqueles que corretamente e pontualmente a examinam de acordo com o que é contido em sua Palavra colhe o fruto inestimável do conforto. Que esta, então, seja a forma de nossa investigação: iniciar com o chamado de Deus e terminar com ele”68.

Ao invés de uma doutrina que produz uma ansiedade temerosa, o reformado mantém que a predestinação é fundamentalmente uma expressão da graça de Deus. Ela elimina todas as obras da salvação, salva aqueles preparados por Cristo para seu povo. Ela deveria provocar humildade ao invés de orgulho já que crentes continuamente se dão conta de sua inteira dependência do Senhor.

Embora Lutero certamente acreditava em dupla predestinação, ela foi expressa de uma forma bem diferente do que a posição reformada. Afirmar a aliança de Lutero a mal declarados cinco pontos do calvinismo é se carregar com perigo contextual. Qualquer um tentando grosseiramente atribuir estes cinco slogans teológicos populares, sem qualificação, a Lutero não possui seus escritos ao seu lado. Para Lutero é o Deus oculto que predestina, mas este Deus não deve ser buscado ou escrutinado. Ele deve ser evitado completamente. Como pastor, Lutero estava preocupado com aqueles que se envolviam por uma introspecção escrupulosa, algo que o atormentou. Então, discussões sobre predestinação deveriam ser melhor evitadas. A ênfase estava colocada nas proclamações positivas do evangelho. Ele alertaria seus ouvintes a se aderir à voz positiva do evangelho de Cristo. Para Lutero, discussões da predestinação forneciam pouco conforto para as ovelhas de Cristo. O uso do paradoxo por Lutero permitiu uma expiação ilimitada em escopo. Ele raramente discute qualquer tipo de graça irresistível, e mesmo aqueles com o Espírito Santo podem ter o Espírito partindo.

Luteranos estão certos de que Lutero não era um calvinista. Ele não discutiu sobre a extensão da expiação, ou perseverança, mas eles não fazem nenhum bem ao seu fundador por diminuir sua crença de que o Deus oculto predestina alguns para a vida e outros para a morte. Como o próprio Lutero declara, piedosos e bem treinados teólogos são os únicos que deveriam ousar discutir o assunto. Alguns luteranos levaram os avisos de Lutero além do que ele pretendia, de forma a nunca discutir predestinação e evitar discussões com calvinistas.

Fonte do texto: http://tquid.sharpens.org/Martin%20Luther%20and%20TULIP.htm

IX. Bibliografia

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19. Stiener, Margarete and Percy Scott. Day By Day We Magnify Thee. Philadelphia: fortress Press, 1982.

20. Tappert, T. G. The Book of Concord : The Confessions of the Evangelical Lutheran Church. Philadelphia: Fortress Press, 2000.

21. ___________. Luther’s Letters of Spiritual Counsel. Vancouver: Regent College Publishing, 2003.

Notas

1. Paul McCain, Refuting Calvinist Claims that Luther Taught Double Predestination, disponível em: http://cyberbrethren.com/2009/12/16/refuting-calvinist-claims-that-luther-taught-double-predestination/.

2. R. C. Sproul, Chosen by God (Wheaton: Tyndale House Publishers, 1986), 11-12.

3. Ibid., 15.

4. Ibid.

5. Lorraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1932), 1.

6. Duane Edward Spencer, Tulip: The Five Points of Calvinism in the Light of Scripture (Grand Rapids: Baker Books, 1979), 6-7.

7. Edward H. Palmer, The Five Points of Calvinism (Grand Rapids: Baker Books, 1980), 19.

8. David Steele e Curtis Thomas, The Five Points of Calvinism Defined, Defended, and Documented (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 2004), 74.

9. Martin Luther, Luther’s Works, vol. 12, ed. J. J. Pelikan (Philadelphia: fortress Press, 1955), 312. Martin Luther, Luther’s Works, vol. 1, ed. J. J. Pelikan (Philadelphia: fortress Press, 1958), 14. Daqui em diante, todas as referências aos escritos de Lutero serão designados como LW.

10. LW 5:44. É importante mencionar que Lutero não desdenha completamente da teologia natural. Ele simplesmente não a acha com tanto valor. Veja Siegbert W. Becker, The Foolishness of God: The Place of Reason in the Theology of Martin Luther (Milwaukee: Northwestern Publishing House, 1999), 24- 67.

11. LW 33:138. Lutero declara a “secreta e terrível vontade de Deus” “ordena por seu próprio conselho qual e que tipo de pessoas ele deseja ser recipientes e compartilhadores de sua pregada e oferecida misericórdia. Esta vontade não deve ser investigada, mas adorada de modo reverente, como de longe o segredo mais impressionante da Majestade Divina, reservado para si somente e proibido para nós mais religiosamente que qualquer número de cavernas Coricianas”.

12. LW 33: 138-139.

13. Louis Berkhof, Systematic Theology (Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1996), 30.

14. John Calvin, Institutes of the Christian Religion, The Library of Christian Classics, vol. XX (Philadelphia: The Westminster Press, 1960), 52 (I.5.1).

15. Hendrikus Berkhof, Christian Faith (Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1990), 60.

16. Calvin, 212-214 (I.17.2).

17. Don Matzat, Martin Luther and the Doctrine of Predestination, disponível em: http://www.mtio.com/articles/aissar89.htm.

18. Ibid.

19. Lowell Green, “Luther’s Understanding of the Bondage of the Will in Melanchthon and Later Theologians,” Reformation and Revival Volume 7 no. 4 (fall 1988): 138.

20. A. A. Hodge, Outlines in Theology (Grand Rapids: Zondervan Publishing house, 1972) 151.

21. Hodge, 153.

22. Francis Pieper, Christian Dogmatics, vol. 2 (St. Louis: Concordia Publishing House, 1957), 36.

23. Ibid., 37.

24. Ibid.

25. Ibid., 38.

26. Ibid.

27. Ibid., 21.

28. John Calvin, Calvin’s Bible Commentaries: Catholic Epistles (Forgotten Books, 2007), 386.

29. R. C. Sproul, Grace Unknown: The Heart of Reformed Theology (Grand Rapids: Baker Books, 1997), 170.

30. Pieper, 27-28.

31. Pieper, 28.

32. LW 33:62.

33. LW 35:377.

34. LW 33:198.

35. LW 33:138.

36. Paul Althaus, The Theology of Martin Luther (Philadelphia: Fortress Press, 1966), 278.

37. LW 33:59.

38. T. G. Tappert, T. G. The Book of Concord : The Confessions of the Evangelical Lutheran Church (Philadelphia: Fortress Press, 2000), 618. “A teologia confessional luterana ensina eleição particular. A eleição eterna de Deus, diz a Fórmula da Concórdia, se estende somente sobre os filhos de Deus. Esta eleição é uma causa da conversão do homem e de sua salvação final”. Siegbert W. Becker, The Foolishness of God: The Place of Reason in the Theology of Martin Luther (Milwaukee: Northwestern Publishing House, 1999), 206.

39. LW 50: 171.

40. Harry Buis, Historic Protestantism and Predestination (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1958), 2.

41. Ibid., 61.

42. LW 30: 198.

43. Herman Bavinck, Reformed Dogmatics, vol. 2 (Grand Rapids: Baker Academic, 2004), 356.

44. LW 4:133

45. LW 5:43.

46. Paul McCain, Refuting Calvinist claims That Luther taught Double Predestination, disponível em: http://cyberbrethren.com/2009/12/16/refuting-calvinist-claims-that-luther-taught-double-predestination/.

47. LW 2:49.

48. Theodore Tappert, Luther’s Letters of Spiritual Counsel (Vancouver: Regent College Publishing, 2003), 115.

49. Ibid., 116.

50. LW 69:50.

51. LW 5:42.

52. LW 5:42.

53. LW 5:43.

54. LW 5:45.

55. Calvin’s Institutes, III.24.5.

56. Ibid., III:21:1.

57. Ibid., III.21.3.

58. Ibid.

59. Spencer, 24-25.

60. LW 33:65.

61. Martin Luther, Lectures on Romans (Philadelphia: The Westminster Press, 1961), 252.

62. Margarete Stiener and Percy Scott, Day By Day We Magnify Thee (Philadelphia: fortress Press, 1982), 1. Veja também D. Martin Luthers Werke 37: 201, Sermon for first Sunday in Advent, 1533.

63. Becker, 206.

64. LW 31:11.

65. LW 69:50.

66. LW 69:50-51.

67. Tappert, The Book of Concord: The Confessions of the Evangelical Lutheran Church, 309.

68. Calvin, III.24.5.

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