• Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.

    Mateus 5:44,45

  • Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível

    .

    Mateus 17:20

  • Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre?

    Lucas 15:4

  • Então ele te dará chuva para a tua semente, com que semeares a terra, e trigo como produto da terra, o qual será pingue e abundante. Naquele dia o teu gado pastará em largos pastos.

    Isaías 30:23

  • As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;

    João 10:27

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Verso do dia

O Grande Cisma do Ocidente

Escrito por  Gustavo
João XIII entrando em Constança

Talvez uma das partes mais intrigantes da história da igreja ocidental seja a história do Grande Cisma do Ocidente, que envolve também em parte a mudança do papado para a cidade francesa de Avignon. Ela mostra como o cristianismo medieval anterior à Reforma tinha seus vícios e como o desejo de uma renovação na igreja já existia muito antes da Reforma.

A história do Grande Cisma do Ocidente é na verdade uma longa história. Em 1294 seria eleito o papa Bonifácio VIII, que cria que o papa era superior a todos os soberanos da terra e entre suas tarefas estava a de estabelecer a paz entre eles. Ele portanto iria se dedicar a acabar com os conflitos entre Inglaterra e França, que mais tarde acabariam culminando na Guerra dos Cem anos. Para tal, adotou certas medidas para forçar a negociação entre os dois reinos, entre elas, proibir que monastérios fizessem contribuições financeiras a qualquer governo, o que acabaria com uma grande fonte de recursos para financiar guerras tanto na França quanto na Inglaterra.

As relações de Bonifácio e Filipe, rei da França, ficariam cada vez mais tensas. Filipe teria sido excomungado pelo papa, se no dia 7 de setembro de 1303, Sciarra Colonna e Guilherme de Nogaret não tivessem feito Bonifácio de refém e o forçado a abdicar. Embora resistindo a pressão e posteriormente solto pelo povo, Bonifácio não resistiu muito tempo e em menos de um mês ele morreria.

O sucessor de Bonifácio, papa Benedito XI, acabou sendo menos rigoroso com os franceses e outros grupos. Teria sofrido várias pressões, por um lado dos franceses, que desejavam um julgamento póstumo de Bonifácio, e por outro dos próprios seguidores de Bonifácio, que viam seus atos como concessões excessivas àqueles que cometeram crimes contra o papado. Foi sob esta pressão que Benedito logo morreria também.

Com sua morte, era natural que o rei da França desejasse um papa que lhe fosse mais dócil. Muitos cardeais leais ao rei da França, portanto, fizeram uma manobra para atendê-lo. Justo Gonzalez nos conta como isto aconteceu e como o papa passou a habitar em Avignon:

Os cardeais não conseguiram logo chegar a um acordo sobre quem seria o sucessor de Benedito. Por um lado os partidários da boa memória de Bonifácio, sob a direção do cardeal Mateo Rosso Orsini, insistiam em que fosse eleito alguém que seguisse a política do pontífice ultrajado. Contra estes, outro grupo encabeçado por Napoleão Orsini, sobrinho do anterior, dócil aos manejos do rei da França, procurava um meio de se eleger um papa também dócil. Depois de muitos meses de discussões os cardeais conseguiram chegar a uma conclusão, graças a uma artimanha de Napoleão Orsini e dos seus. Um dos candidatos que o partido dos outros Orsini tinha sugerido, no princípio das negociações, era Bertrand de Got, arcebispo de Bordeaux. Ele tinha sido nomeado por Bonifácio, e além disto Bordeaux pertencia naquela época à coroa inglesa. Por estas razões o tio Orsini supunha que Bertrand se oporia aos desígnios do rei da França. Mas durante o conclave o sobrinho enviou agentes para Bordeaux, e conseguiu a adesão do candidato originalmente proposto por seu tio. Então, enquanto os defensores da memória de Bonifácio acreditavam que seus opositores, vencidos pela resistência, concordavam com a eleição de um dos seus candidatos, o que na verdade estava sucedendo era que este candidato secretamente mudara de lado.

Um papa eleito nestas circunstâncias não podia ser um modelo de firmeza e retidão. De fato, o pontificado de Clemente V – assim Bertrand de Got se chamou depois de aceitar a tiara papal – foi funesto para a igreja romana. Durante todo o seu reinado este papa não esteve em Roma nem uma vez. Parece que isto não foi causado por alguma decisão sua, mas simplesmente por seu caráter indeciso. Como interessava ao rei da França ter o papa perto de si, seus agentes faziam todo o possível para adiar a partida do pontífice para a Itália. Mês após mês, ano após ano, Clemente viajou pela França e regiões vizinhas, sem dar ouvidos às petições que os romanos lhe faziam, rogando-lhe que fosse à sua cidade. Um dos lugares em que ele passou boa parte do seu pontificado foi Avignon, cidade perto da fronteira com a França que era propriedade papal, e onde seus sucessores fixaram residência depois por muitos anos1.

Desde então, o papado passou a ter sede em Avignon, e muitos tentaram trazê-lo de volta a Roma. Neste período destaca-se Catarina de Siena, que dedicou sua vida a este propósito. Três anos antes de sua morte, o papa Gregório XI decidiria voltar para Roma, não se sabe se sob influência de Santa Catarina ou não. Ele seria recebido em Roma com muito júbilo, mas as condições políticas que teriam levado o papado a Avignon ainda existiam ali. Logo o próprio Gregório cogitava voltar para Avignon, e provavelmente faria isto caso a morte não o surpreendesse. Sua morte traria então novas preocupações:

Com a sede pontifícia vaga, o povo romano receou que o novo papa quisesse voltar para Avignon, ou ao menos fosse um joguete nas mãos dos interesses franceses, como tantos dos seus predecessores mais recentes o tinham sido. Estes receios não eram infundados, pois os cardeais franceses eram mais numerosos que os italianos, e vários deles tinham dado mostras que preferiam Avignon a Roma. O que o povo temia era que os cardeais fugissem, e, uma vez a salvo, se reunissem em outro lugar, possivelmente dominados pela ala simpática ao rei da França, e elegessem um papa francês que decidisse residir em Avignon. Por esta razão o povo romano se amotinou e impediu a fuga dos cardeais. O lugar onde o conclave deveria se reunir foi invadido por multidões armadas, que somente concordaram em sair depois de receberem permissão para vigiar o edifício, para ter certeza de que os cardeais não escapariam. Enquanto tudo isto acontecia, o povo gritava, exigindo que fosse nomeado um papa romano, ou pelo menos italiano.

Nestas circunstâncias o conclave teve muitas dificuldades para deliberar. Os cardeais franceses, que de outro modo teriam podido dominar a eleição, estavam divididos, pois o nepotismo dos papas anteriores resultara na nomeação de um bom número de cardeais procedentes da diocese de Limoges. Estes estavam decididos a fazer eleger um dentre eles, e o restante dos franceses estava decidido a evitá-lo. Entre os italianos o mais poderoso era Jacobo Orsini, que ambicionava a tiara papal, e possivelmente instigava o levantamento do povo.

Mais tarde, enquanto o povo gritava no primeiro andar do edifício, os cardeais, reunidos no andar de cima, decidiram eleger Bartolomeu Prignano, arcebispo de Bari. Mesmo não sendo romano, ele pelo menos era italiano, e com isto o povo se acalmou. No domingo da ressurreição Prignano foi coroado com a participação de todos os cardeais que o tinham eleito, com grande pompa, e tomou o título de Urbano VI2.

Com um papa italiano, o fantasma de Avignon parecia ter se afastado. Mas não demorou muito para Urbano criar grandes inimizades. E assim, algo totalmente novo iria acontecer:

Tudo isto constituía a tão ansiada reforma por que anelavam os fiéis de toda a cristandade. Mas, provocando a inimizade dos cardeais, Urbano em pouco tempo começou a ser chamado de louco por eles. E suas atitudes em reação a estes rumores até pareciam confirmá-los. Além disto, ao mesmo tempo em que se proclamava líder da reforma de toda a igreja, ele começou a colocar seus parentes em posições de destaque, tanto eclesiásticas como temporais. Com isto seus opositores podiam dizer que o que o motivava não era o zelo reformador, mas a sede pelo poder.

Com o tempo os cardeais o foram abandonando. Primeiro os franceses, depois os italianos, fugiram para Anagni, e ali declararam, no manifesto que citamos no começo deste capítulo, que Urbano tinha sido eleito sem que o conclave tivesse validade. Os que fizeram esta declaração estavam se esquecendo de que quase todos eles tinham estado presentes não só na eleição, mas também na proclamação e coroação de Urbano, sem que sequer um levantasse sua voz em protesto. E também esqueciam que durante diversos meses eles tinham formado a corte de Urbano, considerando-o papa verdadeiro, sem pôr em dúvida a validade da eleição.

A resposta de Urbano foi simplesmente nomear vinte e seis novos cardeais de entre os seus adeptos. Se os outros cardeais não o aceitassem como o papa legítimo, eles perderiam seu poder. Por isto não lhes restava outra alternativa que declarar que, já que a eleição de Urbano não era válida, a nomeação dos novos cardeais também não o era, e proceder à eleição de um novo papa.

Reunidos em conclave, os mesmos cardeais – exceto um – que tinham eleito Urbano, e que por algum tempo tinham servido a ele, elegeram um novo pontífice. Os cardeais italianos que estavam presentes se abstiveram de votar, mas não protestaram.

Surgiu assim um fenômeno sem precedentes na história do cristianismo. Diversas vezes houvera pessoas que declaravam que o papa era ilegítimo. Mas pela primeira vez havia dois papas eleitos pelo mesmo colégio de cardeais. Um deles, Urbano VI, fora repudiado pelos que o tinham eleito, e criara seu próprio colégio de cardeais. O outro, que tomou o título de Clemente VII, tinha o apoio dos cardeais que representavam a continuidade com o papado. E toda a cristandade ocidental se viu obrigada a se decidir por um ou por outro pretendente3.

O mundo ocidental agora presenciava a existência de dois papas. Clemente, já pela escolha do nome, já demonstrava afinidade com a tradição do papado de Avignon. Ele tentaria tomar Roma, mas foi derrotado pelas tropas de Urbano, tendo que sair da Itália e se fixar em Avignon. Cada um deles ganhou o apoio de um grupo de países.

O cisma não se dava apenas pela existência de dois papas, mas também pela existência de dois partidos formados ao redor deles. Assim, a morte de um deles não asseguraria uma união. Por isto seguiu-se muitos sucessores aos dois, até que a igreja tentasse resolver esta questão no Concílio de Pisa, em 1409.

O Concílio foi possível por que os avanços e retrocessos entre os dois papas da época, Benedito XIII (sucessor de Clemente) e Gregório XII (sucessor de Urbano) levaram os cardeais a intervir diretamente na questão, abandonando os seus respectivos papas e fazendo uma convocação conjunta para este concílio.

O concílio foi bastante cuidadoso em suas palavras. Havia ali simpatizantes de ambos os papas, por isto o Concílio de Pisa em momento algum declara que a eleição de um ou de outro papa foi nula. Os dois papas foram convocados pelo seu nome (antes de se tornar papa) e solicitados a se apresentar ou mandarem representantes. Como nenhum dos papas atenderam a estas solicitações, o Concílio prosseguiu com o julgamento de ambos, tendo-os deposto depois de muitos dias de testemunhos contra os dois.

Com o papado vago, uma nova eleição se seguiu. Pedro Filareto, arcebispo de Milão, seria o novo papa, com o nome de Alexandre V. Na mente dos presentes, o cisma estava terminado. Mas não foi bem o que aconteceu:

Mas o concílio de Pisa, longe de resolver o cisma, o complicou, pois agora havia três papas, e cada um se considerava legítimo sucessor de São Pedro e cabeça da igreja. Se bem que a maior parte dos países da Europa ocidental aceitava tanto o concílio de Pisa como o papa nele eleito, Benedito ainda era considerado papa legítimo por toda a península ibérica e pela Escócia. Gregório, por seu lado, contava com o apoio vacilante de Nápoles e Veneza, e com a ajuda decidida dos Malatesta, que eram donos da cidade de Rímini. Portanto, mesmo sendo o papa pisano sem dúvida o que gozava do reconhecimento mais geral, os outros dois ainda eram capazes de continuar mantendo suas cortes e pretensões4.

Assim, a atual Santa e Una Igreja Católica se encontrou dividida por 3 papas, em uma época que as doutrinas conciliaristas ganhavam cada vez mais força contra a monarquia papal. Não deixa de ser irônico que esta monarquia papal acabe devendo muito para um concílio que se reuniria tendo por base as mesmas doutrinas conciliaristas: o concílio de Constança.

O concílio, convocado por João XXIII (sucessor de Alexandre V), acabaria finalmente com o Grande Cisma do Ocidente. Para isto, o concílio primeiro iria requerer a renúncia dos 3 papas. Gregório XII, através de representantes, informaria que estava disposto a renunciar se os outros 2 fizessem o mesmo. Benedito XIII jamais renunciaria, sendo posteriormente deposto pelo concílio. Seus seguidores perderiam importância depois que o imperador Sigismundo, mediante várias negociações com os estados ibéricos, conseguiu que lhe retirassem obediência. O próprio João XXIII seria forçado a renunciar. Mas assim que surgiu a oportunidade ele disfarçou-se de lacaio e fugiu do concílio. Só teria renunciado depois de ser preso.

Com o problema dos dois papas resolvido, seguiu-se com a eleição de um novo papa, que se chamaria Martim V. O Grande Cisma do Ocidente, desta vez, tinha terminado.

Notas

1. GONZALEZ, Justo L., Uma história Ilustrada do Cristianismo, A era dos Sonhos Frustados, Ed. Vida Nova, pág. 44.

2. GONZALEZ, Justo L., Uma história Ilustrada do Cristianismo, A era dos Sonhos Frustados, Ed. Vida Nova, págs. 57 e 58.

3. GONZALEZ, Justo L., Uma história Ilustrada do Cristianismo, A era dos Sonhos Frustados, Ed. Vida Nova, págs. 59 e 60.

4. GONZALEZ, Justo L., Uma história Ilustrada do Cristianismo, A era dos Sonhos Frustados, Ed. Vida Nova, pág. 71.

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Comentários   

0 #1 Isadora 04-02-2018 23:59
Frederick tinha preparado tudo ao pormenor.
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