Imprimir esta página

Os ebionistas

Escrito por  Justo Gonzalez
Ebionismo

O ebionismo nunca foi uma doutrina muito difundida. Parece ter desaparecido na medida em que a igreja foi se tornando cada vez mais gentílica e menos judaica. Isto não significa, contudo, que esse ensino não representou um desafio para a igreja dos primeiros séculos. Pelo contrário, o que estava em jogo aqui era a singularidade de Jesus Cristo, em contraste com a possibilidade de distorcer sua figura de modo tal que pudesse simplesmente ser sobreposto à antiga religião judaica. Dessa forma, segundo o ensino ebionista, Jesus deixava de ser único e central. Ele não era mais o filho unigênito de Deus, mas um mero profeta dentro da sequência de profetas. Ele não era mais o salvador, mas simplesmente um elemento - algumas vezes secundário - da ação de Deus ao longo desta era.

Finalmente, em um outro nível, havia discussões sobre o relacionamento entre o Cristianismo e o Judaísmo que tentavam reinterpretar não apenas o Cristianismo em si, mas o Judaísmo também. Esse era o caso de um certo tipo de Cristianismo judaizante que, embora provavelmente permanecesse em íntima relação com o ebionismo, também foi influenciado pelo gnosticismo.

O principal expoente desse tipo de Cristianismo judaizante parece ter sido Elcasai (também chamado de Elkesai, Elcesai ou Elchasai). Ele viveu na primeira metade do século 2º, mas dificilmente algo pode ser conhecido sobre sua vida. Sua doutrina é claramente ebionista, embora com uma forte influência gnóstica; baseia-se numa revelação que Elcasai afirmava ter recebido de um anjo que tinha mais de cento e cinquenta quilômetros de altura. Este anjo era o Filho de Deus. Perto dele havia outro anjo de proporções similares, embora feminino, e este era o Espírito Santo.

O conteúdo da revelação de Elcasai é conhecido apenas por meio de citações e outras referências encontradas nos escritores cristãos que o atacavam. A partir de seu testemunho pode-se concluir que o ensino de Elcasai era apenas uma forma de ebionismo - era necessário guardar a Lei e ser circuncidado, sendo Jesus um mero profeta - com algumas influências gnósticas: especulações astrológicas, numerologia e tendências dualistas. Sua principal fortaleza parece ter se estabelecido no Oriente, especialmente além do Eufrates, provavelmente a terra natal do próprio Elcasai. De qualquer modo, esta seita, embora pequena, é importante, pois talvez tenha influenciado Maomé, o fundador do Islamismo.

Uma História do Pensamento Cristão - 3 volumesGONZÁLEZ, Justo L., "Uma História do Pensamento Cristão". São Paulo: Cultura Cristã, 2004. vol. 1, pp. 121-122.

Ler 13629 vezes
Avalie este item
(1 Votar)