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Santo Antão contra a intercessão dos santos (revisado)

Escrito por  Gustavo
Santo Antão

Há algum tempo postei o trecho da Vida de Antão, escrito por Atanásio de Alexandria, para tratar de da defesa de um padre católico da intercessão dos santos. Desde então muitos vieram ao site para comentar o texto, dizendo que o texto não nega a intercessão dos santos. A quantidade de comentários neste sentido foi grande, o que mostra que o texto original precisava de ser melhor apresentado.

Antes de entrarmos nesta discussão, vamos deixar alguns pontos claros aqui, e que muitos comentários anteriores parecem não ter percebido do texto original:


  • Conhecemos as várias respostas católicas dadas a 1 Timóteo 2:5 sobre se ter um só Mediador (o próprio padre fornece sua resposta de forma jocosa, no vídeo). Não foi objetivo do texto tratar destas interpretações.
  • Reconhecemos que um irmão pode interceder por nós, e que podemos pedir para este irmão orar por nós. Negamos, contudo, que esta intercessão seja igual à intercessão dos santos defendida pelo catolicismo. Não foi objetivo deste texto explicar por que cremos que são diferentes.

A discussão destes dois pontos será feita em local apropriado, uma vez que a intenção deste texto é apenas apresentar um exemplo histórico.

Dito isto, devemos nos perguntar: Afinal de contas, quem foi respondido e o que estava sendo respondido? O padre em questão é o padre Paulo Ricardo, que em um sermão chama os evangélicos de “orgulhosos”1. Abaixo temos uma transcrição de seu sermão:

E por que eu preciso dela, por que que eu não posso ir direto para Deus, padre Paulo? Larga de ser orgulhoso, oh, criatura! Por que é que você tem que ser direto? Isso é o negocio, assim, é o princípio protestante, é um princípio orgulhoso. Veja, eu, eu sou orgulhoso. Padre Paulo Ricardo, eu, pessoalmente. Mas a minha religião não é orgulhosa. A minha religião, ela é humilde, ela me ensina a humildade. A minha religião me ensina a eu me inclinar na frente de um pecador, que é um outro padre, que é meu bispo e beijar a mão daquele pecador e acreditar que aquela mão é instrumento de santificação, acreditar que aquela mão de pecador pode ser sinal da mão chagada do ressuscitado. Eu sou orgulhoso, mas a minha religião não é orgulhosa, ela me ensina a humildade. Existe protestante humilde, mas não existe protestantismo humilde. O protestantismo é orgulhoso. O princípio protestante é orgulhoso, é soberbo. O princípio protestante é “eu não preciso de ninguém, eu vou para Deus direto”. Isto é um orgulho, isto é uma soberba. E se Deus quer que você use os outros, as criaturas humanas frágeis, o que é que você faz, oh, otário? Está entendendo? Se você é protestante, seja humilde, mas saiba, sua religião não é. A sua religião não é humilde. Por que você, “não, eu vou direto para Deus, eu não preciso de Maria, eu não preciso de padre, eu não preciso do papa, eu não preciso da igreja, eu não preciso dos sacramentos, eu não preciso de ninguém...”

Observamos acima que a crítica do padre é contra o acesso direto a Deus que o protestante possui. Orar direto a Deus é, na opinião do padre, ser orgulhoso. E é aqui que apresentamos o texto de Atanásio, nos falando sobre Santo Antão, um pai do deserto, que vivia uma vida ascética. Por realizar muitos milagres, muitos o buscavam por ajuda. No livro A vida e conduta de Santo Antão, de Atanásio, há o registro de um homem que o buscou para que ele orasse a Deus por sua filha:

Antão livra do demônio a filha de um oficial

48. Assim retirado, tendo-se fixado algum tempo a passar sem sair nem receber ninguém, Antão foi importunado por certo Martiniano, oficial, cuja filha era atormentada pelo demônio. Esse homem permaneceu longo tempo batendo à sua porta e suplicando-lhe que viesse e orasse a Deus pela menina. Antão não quis abrir-lhe, mas inclinando-se do alto, disse-lhe: “Homem, por que gritas por mim? Sou um homem como tu. Mas se crês em Cristo, que eu adoro, vai, ora a Deus com fé, e tua súplica será ouvida”. Logo o homem acreditou, invocou a Cristo e partiu: sua filha estava purificada do demônio.

Cristo, que disse: “Pedi e vos será dado” (Mt 7,7), fez por meio de Antão muitas outras obras. A maioria dos que sofriam (e vinham) dormia do lado de fora de seu mosteiro, por que não lhes abria a porta. Eles acreditavam, oravam com ardor e eram purificados.2

Assim, temos Antão dizendo para Martiniano que ele deveria orar direto para Deus. Será que Antão estaria estimulando o orgulho em Martiniano?

Não só isto, mas o motivo que Antão dá para Martiniano para que ele ore direto a Deus é que “Sou um homem como tu”. Antão sequer pensou que possuía mais méritos que Martiniano, mesmo com tudo que nos é apresentado por Atanásio antes deste episódio. Antão sequer pensou que Martiniano deveria pedir a intercessão de algum santo que tivesse mais méritos que o próprio Martiniano. Para Antão, se Martiniano tinha fé em Cristo, isto já lhe bastava.

Notas

1. O vídeo pode ser visto aqui:

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2. Santo Atanásio, Vida e Conduta de Santo Antão, Coleção Patrística, Editora Paulus, página 333.

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