• Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.

    Mateus 5:44,45

  • Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível

    .

    Mateus 17:20

  • Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre?

    Lucas 15:4

  • Então ele te dará chuva para a tua semente, com que semeares a terra, e trigo como produto da terra, o qual será pingue e abundante. Naquele dia o teu gado pastará em largos pastos.

    Isaías 30:23

  • As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;

    João 10:27

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Verso do dia

Calvino contra os aniquilacionistas - Psychopannychia

Escrito por  João Calvino
Deserto

PSYCHOPANNYCHIA

OU,

UMA REFUTAÇÃO DO ERRO NUTRIDO

POR ALGUMAS PESSOAS SEM HABILIDADE,

QUE DE FORMA IGNORANTE IMAGINAM QUE

NO INTERVALO ENTRE A MORTE E O JULGAMENTO

A ALMA DORME.

JUNTAMENTE COM UMA EXPLICAÇÃO

DA CONDIÇÃO E VIDA DA ALMA DEPOIS DESTA PRESENTE VIDA.

 

por João Calvino

Prefácio de João Calvino a um amigo.

Há muito tempo atrás, quando certas pessoas piedosas me convidaram, e mesmo me instaram a publicar algo com o propósito de reprimir a extravagância daqueles que, de forma igualmente ignorante e tumultuosa, mantém que a alma morre ou dorme, eu não pude ser induzido por toda sua urgência, de tão contrário eu me sentia a entrar naquele tipo de disputa. Naquele tempo, de fato, eu não estava sem desculpas, parte por que eu esperava que este dogma absurdo desaparecesse rapidamente por sua própria iniciativa, ou pelo menos estaria confinada a algumas poucas pessoas levianas; em parte porque eu não pensei que seria oportuno engajar com um grupo cujo acampamento, armas e estratagemas eu mal estava familiarizado. Pois como nada ainda chegou a mim exceto murmuros e relinchos, então engajar com aqueles que não apareceram ainda na arena pareceu não ser melhor do que golpear cegamente o ar. O resultado, contudo, tem sido diferente do que eu esperava. Estes tagarelas tem se esforçado tão ativamente, que já arrastaram centenas para sua insanidade. E eu vejo que até mesmo o próprio erro tem se agravado. Antes, alguns só vagamente alegavam que a alma dorme, sem definir o que eles queriam que se entendesse por "dormir". Depois levantaram-se aqueles ψυχοκονοι, que assassinam almas, apesar de não infringir uma ferida. O erro do primeiro, de fato, não foi de nascer; mas eu acho que a loucura do último deve ser severamente reprimida. Ambos não são suportados pela razão e julgamento; mas não é fácil persuadir outros disto sem abertamente refutar sua futilidade, e a expor, por assim dizer, à sua face. Isto deve ser feito somente através de sua exposição da forma que aparece em seus escritos. Se diz que eles circulam suas loucuras em um tipo de tratado, que eu nunca consegui ver. Eu tenho somente recebido algumas notas de um amigo, que anotou o que ele superficialmente ouviu de seus lábios, ou coletou por outros meios.

Apesar de uma razão para que eu não escrevesse tivesse sido parcialmente removida por estas notas, restam ainda as outras. Contudo, enquanto os homens através de cochichos e uma garrulice pelas quais eles são destacáveis, secretamente se insinuam e seduzem não menos em seu erro do que a circulação de livros impressos poderia habilitá-los a fazer, eu sinto que eu não poderia bem defender-me da acusação de ser um traidor da Verdade se eu, em tão urgentes circunstâncias, me mantivesse afastado e ficasse em silêncio! E, enquanto eu confio que meu trabalho será de grande uso para os mais inábeis e menos experientes, e não sem algum uso também para os moderadamente instruídos que tem dado pequena atenção ao assunto, eu não vou hesitar a dar razão da minha fé para todos os bons - não uma razão, talvez, que poderia completamente equipá-los tanto para a defesa quanto para levar a guerra para o campo inimigo, mas uma que não os deixarão desarmados. Se a importunidade destes homens em circular seus sonhos entre o povo comum me permitisse, eu de boa vontade rejeitaria um debate desta natureza, onde os frutos ganhos não são iguais ao trabalho dispensado, sendo este um dos casos ao qual a exortação do apóstolo de ser sobriamente sábio se aplica particularmente. Mas já que nós desejamos esta sobriedade, eles não vão permitir que a usemos. Ainda, meu esforço será para tratar a questão com moderação, e a manter em limites adequados.

Eu desejava que outro método de cortar o mal, o qual fizesse muito mais progresso, tivesse sido inventado, seja para prevení-lo de ganhar chão diariamente, seja para corroer como um câncer. Ele nem apareceu agora pela primeira vez; pois nós lemos que ele se originou com alguns árabes, que mantinham que "A alma morre com o corpo, e que ambos se levantam novamente no Dia do Julgamento" (Eusébio, História Eclesiástica, livro 6, capítulo 36; Aug. lib. de Haeres. c. 83, dist. 16; João 2). Algum tempo depois, João, bispo de Roma, iniciou este assunto e foi forçado a se retratar pela Faculdade Teológica de Paris (Gerson em Sermone Pasch. priore). Ficou em combustão lenta por alguns anos, mas ultimamente começou a soltar faíscas, sendo agitado por alguns resíduos dos anabatistas. Estes, espalhados amplamente e longe, têm acendido tochas - e acenderiam, para eles serem logo extintos por aquela chuva voluntária que o Senhor separou para sua herança!

Eu pleitearei a causa sem rancor a nenhum homem, sem afronta pessoal a qualquer homem, em resumo, sem qualquer amargura de crítica, de forma que ninguém seja capaz de queixar-se de ser agredido, ou mesmo de ser superficialmente ofendido. E ainda, no dia presente, pessoas podem ser vistas dando extensão total a um temperamento maligno, mordaz e zombador que, se você fosse apenas apontar o dedo para eles, fariam um lamentável protesto que "a Unidade da Igreja é rasgada em pedaços, e a caridade violada!" Aos tais, que esta seja nossa resposta: Primeiro, que nós não confirmamos nenhuma unidade a não ser em Cristo; nenhuma caridade além da qual Ele não seja o laço; e que então, o principal ponto em preservar a caridade é manter a fé sagrada e intacta. Segundo, que esta discussão possa proceder sem qualquer violação à caridade, desde que os ouvidos com os quais eles escutem correspondam à língua que eu empregue.

A você, honrado senhor, eu imaginei que seria certo dedicar este pequeno tratado por vários motivos, mas em um em especial, - porque eu vejo que entre aqueles tumultos de opiniões vãs com as quais os espíritos inconstantes perturbam a paz da Igreja, você permanece firme e completo em prudência e moderação.

Orleans, 1534.


Ao leitor.

Ao ler novamente esta discussão, eu observo que, no calor da argumentação, algumas expressões bem severas e rudes me escaparam, as quais podem ser ofensivas para ouvidos delicados; e como eu sei que há alguns bons homens em cujas mentes este dogma foi inculcado, tanto por excessiva credulidade quanto por ignorância das Escrituras, com as quais na época eles não estavam armados a ponto de serem capazes de resistir, estou relutante a ofendê-los tanto quanto eles me permitam, já que eles não são nem perversos nem maliciosos em seus erros. Eu gostaria, então, avisar os tais de antemão para que não tomem nada dito como uma afronta a eles, mas para entender que, se eu uso de liberdade para falar, estou me referindo à nefasta manada dos anabatistas, de cuja fonte este riacho pernicioso, como observei, fluiu primeiro, e contra quem nada do que eu disse se iguala ao que eles merecem. Se eu tiver uma futura disputa com eles, estou determinado que eles me achem, se não um muito hábil, pelo menos certamente um firme, e como eu ouso prometer, pela graça de deus, um invencível defensor da Verdade. E ainda contra eles eu não dei abertura imoderada à minha ira, tendo constantemente refreado de toda ousadia e petulância de discurso; moderando minha caneta tanto para ser ajustador para o ensino quanto forçando, e ainda capaz de atrair aqueles que não estão dispostos a serem direcionados. Certamente foi muito mais minha intenção trazer todos de volta para o caminho correto do que provocar sua ira.

A todos que estão para ler eu exorto e suplico pelo Nome de Deus, e de nosso Senhor Jesus Cristo, para que eles tragam um julgamento imparcial e uma mente preparada como se fosse o banco da verdade. Estou ciente do poder que a novidade tem para fazer coçar os ouvidos de certas pessoas: mas temos que refletir que "A verdade possui apenas uma voz" - aquela que procede dos lábios de nosso Senhor. Somente a Ele nós devemos abrir nossos ouvidos quando a doutrina da Salvação está em questão, enquanto que para todos os outros nós deveríamos mantê-los fechados. Sua palavra, eu digo, não é nova, mas é aquela que era desde o princípio, é e sempre será. E aqueles erram quando a palavra de Deus, que foi posta de lado através do costume perverso ou da preguiça, é trazida para a discussão, onde a acusam de novidade; então eles erram, na outra direção, como caniços movidos pelo vento, não, inclinando-se ou curvando-se para qualquer brisa! Quando falamos de aprender Cristo, queremos dizer que devemos dar ouvidos, sem consideração à palavra de Deus, a qualquer doutrina mesmo que verdadeira? Se você a receber como vinda de homem, você não irá abraçar a falsidade com a mesma facilidade? Pois o que o homem tem de si próprio salvo sua futilidade?

Esta não foi a conduta daqueles que, quando receberam a palavra, procuraram as Escrituras para ver se aquelas coisas eram assim (Atos 17:11) - um nobre exemplo, se nós o imitássemos; mas nós, eu não sei de qual indolência, ou até mesmo desprezo, recebemos a palavra de Deus de tal forma que quando nós aprendemos três sílabas, nós imediatamente nos inchamos com uma opinião de sabedoria, e nos achamos homens ricos e reis! Daí você vê tantos que, sendo iletrados, se mantém tragicamente repreendendo a ignorância da época! Mas o que você pode fazer? Eles são chamados, e gostariam de ser imaginados como cristãos, porque eles possuem um pequeno conhecimento de algumas banalidades; e como eles se envergonhariam de serem ignorantes a respeito de qualquer coisa, eles com a maior confiança, como de um tripé, emitem decisões sobre todas as coisas. Daí tantos cismas, tantos erros, tantas pedras de tropeço para nossa fé, pelos quais o nome e palavra de Deus são blasfemados entre os gentios. Finalmente, (esta é a cabeça do mal!) enquanto eles procedem obstinadamente para defender o que for que eles outrora temerariamente balbuciavam, eles começaram a consultar os oráculos de Deus, para que eles possam encontrar ali suporte para seus erros. Então, bom Deus! O que eles não perverterão, o que eles não adulterarão e corromperão, para que eles possam, eu não diria torcer, mas distorcê-la com sua própria visão? Como verdadeiramente foi dito pelo profeta, "Fúria fornece armadura".

É esta a forma de aprender - procurar as Escrituras mais e mais, e distorcê-las na busca de algo que possa ser ministrado a nossa lascívia, ou para forçá-las à sujeição de nossos sentidos? Nada pode ser mais absurdo do que isto, Ó peste perniciosa! Ó ervilhaca certamente semeada pelas mãos do inimigo, para o propósito de conferir inutilidade às verdadeiras sementes! E nós ainda nos surpreendemos com as várias seitas que a princípio se entregaram à fidelidade ao evangelho e a palavra revivificante? Eu, de minha parte, estou aterrorizado pela terrível denúncia,

"O reino de Deus será tomado de vocês, e dado a uma nação que gere frutos" (Mateus 21:43).

Aqui, contudo, eu desisto de minhas reclamações: pois eu devo escrever um largo volume onde vou recitar em termos justos a perversidade desta era. Sejamos sábios, irmãos, avisados pelos vários exemplos, finalmente, apesar de tarde. Que dependamos sempre dos lábios do Senhor, e não adicionar ou misturar nada de nós mesmos à Sua sabedoria, para que como a levedura ele corrompa toda a massa, e fazer até mesmo o próprio sal que está entre nós ficar sem sabor. Que nos mostremos ser os discípulos que o Senhor quer ter - pobres, vazios e sem auto-conhecimento: desejosos de aprender mas não sabendo nada, e mesmo desejando saber nada além do que Ele ensinou; evitando tudo de origem estranha como o veneno mais mortal.

Eu preveniria aqui as objeções daqueles que acusarão meu presente empreendimento, me acusando de incitar grandes batalhas por nada, e fazendo de levianas diferenças a fonte de discórdias: pois não faltam aqueles que me reprovam. Minha resposta é que a Verdade Divina é reconhecidamente atacada, não devemos tolerar a adulteração de um simples iota dela. Certamente não é algo trivial ver a luz de Deus ser extinta pela escuridão do demônio; e, além disto, este assunto é de uma importância maior do que muitos supõem. Nem é verdade, como eles alegam, que aquele que não concorda com os erros de outros, mostram ódio mortal por discordar deles. Eu censurei a curiosidade daqueles que agitariam questões realmente não são nada mais do que meras torturas ao intelecto. Mas depois deles agitarem esta camarina, sua audácia deve ser reprimida, para que ela não prevaleça sobre a verdade. Se eu tive sucesso nisto eu não sei: foi certamente meu desejo, e eu fiz o melhor que pude. Se outros puderem fazer melhor, que eles venham para o bem do público!

Basiléia, 1536.

Psychopannychia

Ao seguir até o fim desta discussão, eu não vou trabalhar muito na questão, mas vou me esforçar para explicar com a maior simplicidade e clareza. Em toda discussão, de fato, é de grande consequência que o tema seja claramente visto pelo escritor, e colocando distintamente perante seus leitores; para que ele não se aparte além de seus limites, e se perca em mera loquacidade, ou eles, ignorando o fundamento, perdendo-se por não conhecer o caminho. Isto é particularmente necessário ser observado quando o tema é matéria de controvérsia, desde que ali nós não nos propomos meramente a ensinar, mas tendo a ver com um oponente que (tal é o temperamento humano) certamente não irá, se ele puder, permitir ser vencido, nem vai confessar uma derrota enquanto ele puder passar o tempo e desviar a atenção por sofismar réplicas e tergiversações. O melhor método de pressionar um inimigo e o segurar firme de forma que ele não escape, é expor o ponto controverso e o explicar distintamente e claramente para que você o traga de uma vez como se fosse corpo a corpo.

Nossa controvérsia, então, recai sobre a Alma Humana. Alguns, enquanto admitem que ela possua existência real, imaginam que ela dorme em um estado de insensibilidade da Morte ao Dia do Julgamento, quando ela vai acordar de seu sono; enquanto outros irão logo admitir qualquer coisa menos sua existência real, mantendo que ela é meramente uma força vital que é derivada do alento arterial da ação dos pulmões, e sendo incapaz de existir sem o corpo, morre juntamente com o corpo, desaparece e se torna evanescente até o período em que o homem completo será novamente levantado. Nós, por outro lado, mantemos tanto que ela é uma substância, e depois da morte do corpo verdadeiramente vive, sendo revestida tanto com senso como entendimento. Estes pontos nós afirmamos provar por claras passagens das Escrituras. Aqui abandone a sabedoria humana; pois apesar dela pensar muito sobre a alma ela não percebe certeza alguma a respeito dela. Aqui, também, abandone os filósofos, já que em quase todos os assuntos sua prática regular não é colocar nem fim nem medida a suas contendas, enquanto que sobre este assunto em particular eles disputam, assim que você raramente achará dois deles que concordam em algum simples ponto! Platão, em algumas passagens, fala nobremente das faculdades da alma; e Aristóteles, ao discursar sobre ela, superou todos em perspicácia. Mas o que a alma é, e de onde ela é, é vão perguntar a eles, ou até mesmo ao corpo completo dos sábios, apesar deles certamente pensarem mais puramente e sabiamente sobre o assunto do que alguns entre nós, que se vangloriam que são discípulos de Cristo.

Mas antes de proceder mais além, nós devemos acabar com todo pretexto para logomaquia, que pode ser suprida por darmos o nome de "alma" e "espírito" indiscriminadamente àquilo que é o tema da controvérsia, e ainda algumas vezes falando dos dois como diferentes. Pelo uso das Escrituras diferentes significados são dados a estes termos; e a maioria das pessoas, sem se atentar para esta diferença, pega o primeiro significado que lhes ocorre, se agarram firmemente a ele, e obstinadamente o mantém. Outros, tendo visto "alma" algumas vezes usada para "vida", sustentam que este é invariavelmente o caso, e não se permitirão ser convencidos do contrário. Eu encontrei a passagem de Davi,

"Suas almas serão abençoadas em vida," (Salmos 49:18)

eles interpretarão que suas vidas são abençoadas em vida. Da mesma forma, se a passagem de Samuel for produzida, "Por sua vida, e pela vida de sua alma" (2 Samuel 11:11), eles dirão que não há significado nestes termos. Nós sabemos que "alma" é muito frequentemente usada por vida em tais passagens como as seguintes, "Minha alma está em minhas mãos", - "Por que eu despedaço minha carne com meus dentes, e carrego minha alma em minhas mãos?" - "A alma não é mais do que a carne" - "Tolo, esta noite pedirão de ti sua alma" (Salmos 119:109; Jó 13:14; Mateus 6:25; Lucas 12:20). Há outras passagens similares que estes assassinos de almas sempre possuem em suas bocas. Não há embasamento, contudo, para sua grande auto-complacência, já que eles deveriam observar que alma é ali usada metonimicamente por vida, por que a alma é a causa da vida, e vida depende da alma - uma figura que crianças aprendem mesmo de seus rudimentos. É impossível não se admirar da presunção destes homens, que possuem uma opinião tão grandiosa de si mesmos, e estariam contentes de serem considerados sábios por outros, apesar de que precisam ser ensinados dos usos das figuras e dos primeiros elementos da linguagem. Neste sentido foi dito que "a alma de Jônatas estava ligada à alma de Davi" - a alma de Siquém (Shechem) "apegou-se a Diná, a filha de Jacó" e Lucas diz que "a multidão de fiéis era de um coração e alma" (1 Samuel 18:1; Gênesis 34:3; Atos 4:32). Quem não vê que há muita força em tais hebraísmos como os seguintes? "Abençoe ao Senhor, ó minha alma" - "Minha alma magnifica o Senhor" - "Diga a minha alma, Eu sou sua salvação" (Salmos 103:1; Salmos 104:1; Lucas 1:46). Indescritivelmente algo mais é expresso do que se fosse dito sem a adição, abençôo o Senhor; eu magnifico o Senhor, diga para mim, Eu sou sua salvação!

Algumas vezes a palavra "alma" é usada meramente para um homem vivo, como quando se diz que sessenta almas desceram ao Egito (Êxodo 1:5). Novamente, "A alma que pecar, esta morrerá", "A alma que seguir magos e prognosticadores deverá morrer a morte", etc. (Ezequiel 28:4; Levítico 20:6). Algumas vezes também se chama o ar que os homens inspiram e respiram, e em cujo movimento vital o corpo reside. Neste sentido eu entendo as seguintes passagens, "Angústia se apodera de mim apesar de toda minha alma estar em mim", "Sua alma está nele", "Deixe que a alma do menino retorne para ele" (2 Samuel 1:9; Atos 20:10; 1 Reis 17:21). Não, no mesmo sentido que nós dizemos, na linguagem comum, que a alma é "exalada" e "expirada", as Escrituras falam da alma "partindo", como quando é dito de Raquel, "E quando sua alma estava partindo (pois ela morreu) ela chamou o nome da criança de Benoni" (Gênesis 35:18).

Nós sabemos que espírito é literalmente "alento" e "ar", e por esta razão é frequentemente chamado πνοὴν pelos gregos. Nós sabemos que é usado por Isaías para uma coisa vã e sem utilidade, "Nós concebemos e demos a luz a espírito", ou "vento" (Isaías 26:18). É muito frequentemente tomado por aquilo que é regenerado em nós pelo Espírito de Deus. Pois quando Paulo diz que "o espírito cobiça contra a carne" (Gálatas 5:17), ele não quer dizer que a alma luta com a carne, ou razão com desejo; mas que a própria alma, tão quanto é governada pelo Espírito de Deus, luta consigo mesma, tão quanto ela ainda estiver livre do Espírito de Deus, ela é sujeira a suas cobiças. Nós sabemos que quando os dois termos são unidos, "alma" significa vontade e "espírito" significa intelecto. Isaías assim fala,

"Minha alma te deseja na noite, mas eu também acordarei para ti em meu espírito, em mim" (Isaías 26:9).

E quando Paulo ora para que os Tessalonicenses possam ser perfeitos em espírito, alma e corpo, de forma que eles possam estar sem culpa na vinda de Jesus Cristo (1 Tessalonicenses 5:23), seu significado é que eles possam pensar e querer todas as coisas corretamente, e não possam usar seus membros como instrumentos de injustiça. Para o mesmo efeito o Apóstolo diz em outro lugar que a palavra de Deus é viva e cortante, como uma espada de dois gumes, alcançando a divisão da alma e espírito, das juntas e medulas, é discerne os pensamentos do coração (Hebreus 4:12). Nesta última passagem, contudo, alguns entendem por "espírito" aquela essência racional e voluntária da qual nós agora disputamos; e por "alma", o movimento vital e sentidos que os filósofos chamam de superior e inferior, isto é, ὀρμαὶ καὶ αἰσθήσεις. Mas desde que em numerosas passagens ambos partidos mantém que ele significa a essência imortal que é a causa da vida do homem, não deixemos levantar disputas sobre meros nomes, mas por atenção na própria coisa, seja qual nome for distinguida. Quão real ela é vamos mostrar agora.

E nós vamos começar com a criação do homem, onde veremos de qual natureza ele foi feito a princípio. A História Sagrada nos diz (Gênesis 1:26) do propósito de Deus, antes que o homem fosse criado, de fazê-lo "à sua imagem e semelhança". Estas expressões não podem ser possivelmente entendidas a respeito de seu corpo, no qual, apesar do maravilhoso trabalho de Deus aparecer mais do que em todas outras criaturas, sua imagem não resplandece em lugar algum (Ambros. lib. 6, hex. August. cap. 4: de Trinit. et alibi.). Pois quem é o que diz assim, "Façamos o homem em nossa própria imagem e semelhança"? O próprio Deus, que é um Espírito, e não pode ser representado por nenhuma forma corporal. Mas como uma imagem corpórea, que exibe a face externa, deve expressar à vida todos os traços e características, e assim a estátua ou figura pode dar uma idéia de tudo que pode ser visto no original, assim esta imagem de Deus deve, por sua semelhança, implantar algum conhecimento de Deus em nossas mentes. Eu ouvi que alguns levianos disseram que a imagem de Deus se refere ao domínio que foi dado ao homem sobre os brutos, e que neste respeito o homem tem alguma semelhança com Deus, cujo domínio está sobre todos. Neste erro até mesmo Crisóstomo caiu quando ele foi levado no calor do combate contra o insano Antropomorfites. Mas as Escrituras não permitem que seu significado seja evitado desta forma: pois Moisés, para prevenir qualquer um de colocar esta imagem na carne do homem, primeiro narra que o corpo foi formado do barro, e não faz nenhuma menção da imagem de Deus; depois disto ele diz que o "fôlego de vida" foi introduzido neste corpo de barro, fazendo a imagem de Deus não se tornar resplandecente até que ele fosse completo em todas suas partes. O que então será perguntado, "você acha que aquele fôlego de vida é a imagem de Deus"? Não, de fato, apesar de eu poder falar assim com muitos, e talvez não de forma imprópria. (Hilar. in Psalm 63; Aug. Lib. de Spiritu et Anima, cap. 39; Basil, hex. Hem. 8.) Pois e se eu mantiver que a distinção foi constituída pela palavra de Deus, pela qual aquele fôlego de vida é distinguido das almas dos brutos? Pois de onde as almas de outros animais se levantaram? Deus diz, "Que a terra produza a alma vivente", etc. Que aquilo que saiu da terra seja decidido na terra. Mas a alma do homem não é da terra. Ela foi feita pela boca de Deus, isto é, por seu poder secreto.

Aqui, contudo, eu não insisto, para que não se torne base para disputas. Tudo que eu quero obter é que a própria imagem é separada da carne. Se fosse o contrário, não haveria grande diferença no homem para ser dito que ele foi feito à imagem de Deus; mas isto é repetidamente mencionado nas Escrituras, e altamente celebrado. Por qual motivo haveria de introduzir Deus como deliberando e como se fosse fazer disto um objeto de consulta, se ele faria uma criatura qualquer? A respeito de todas estas coisas, "Ele disse, e foi feito". Quando Ele chega a esta imagem, como se Ele fosse dar uma manifestação singular, Ele chama sua sabedoria e poder, e medita consigo mesmo antes de colocar as mãos na obra. Seriam estes modos figurativos de expressão que representam o Senhor, ἀνθρωποπαθῶς (em uma forma humana), em adaptação à nossa débil capacidade, tão cuidadosamente empregada por Moisés por uma coisa de nada? Não seria melhor dar uma idéia exaltada da imagem de Deus impressa no homem? Não contente em dizer isto uma vez, ele repete de novo e de novo. Seja o que for que filósofos ou estes sonhadores possam pretender, nós mantemos que nada pode carregar a imagem de Deus senão o espírito, já que Deus é um Espírito.

Aqui não somos deixados para conjecturar que tipo de semelhança esta imagem carrega em relação a seu arquétipo. Nós facilmente aprendemos isto do Apóstolo (Colossenses 3:10). Quando ele nos ordena a "revestir do novo homem, que é renovado em conhecimento segundo a imagem daquele que o criou", ele claramente mostra que esta imagem é, ou em que ela consiste; como ele também faz quando diz (Efésios 4:24), "Revista do novo homem, que foi criado segundo Deus em conhecimento e verdadeira santidade". Quando nós compreenderíamos todas estas coisas, em uma palavra nós diríamos, que o homem, em respeito ao espírito, foi feito participante da sabedoria, justiça e bondade de Deus. Este modo de expressão foi seguido por dois escritores sagrados. Um, ao dividir o homem em duas partes - corpo, tomado da terra e alma, derivada da imagem de Deus - brevemente compreendeu o que Moisés expressou mais completamente (Eclesiastes 17:1), "Deus criou o homem, e o fez segundo sua própria imagem". O outro, desejando declarar exegeticamente o quanto a imagem de Deus se estende, chamou o homem "inexterminável", por que criou na imagem de Deus (Sabedoria 2:23). Eu não incitaria a autoridade destes escritores fortemente em nossos oponentes, para que eles não os aleguem contra nós. Eles ainda devem ter algum peso, mesmo que não canônicos, pelo menos como antigos piedosos escritores fortemente embasados. Mas os deixando, que mantenhamos a imagem de Deus no homem ser aquela que somente tem seu assento no Espírito.

Ouçamos agora o que as Escrituras mais distintamente declaram sobre a Alma. Quando Pedro fala da salvação da alma, e diz que os desejos carnais guerreiam contra a alma; quando ele nos ordena a manter nossas almas castas, e chama Cristo de "Bispo de nossas almas", (1 Pedro 1:9, 22; 2 Pedro 2:25), o que ele poderia estar querendo dizer senão que há almas que poderiam ser salvas - que poderiam ser assoladas por desejos viciosos - que poderiam ser mantidas castas, e que são regidas por Cristo, seu Bispo? Na história de Jó nós lemos (Jó 4:19), "Quanto mais aqueles que habitam em casas de lama, e possuem uma fundação da terra?" Isto, se você se atentar a isto, você deve ver aplicado à alma, que habita em um corpo de barro. Ele não chama o homem um vaso de barro, mas diz que ele habita em um vaso de barro, como se a parte boa do homem (que é a alma) estivesse contida naquele domicílio terreno. Assim Pedro diz (2 Pedro 1:13), "Eu acho justo, enquanto eu estiver neste tabernáculo, agitando-os por meio de lembrança, sabendo que em pouco tempo eu deixarei este meu tabernáculo". Por esta forma de expressão nós podemos, se não formos muito estúpidos, entender que há algo em um tabernáculo, e algo que é tirado de um tabernáculo, ou que, como ele diz, deixa o tabernáculo. A mesma distinção manifesta entre a carne e o espírito é feita pelo autor da Epístola aos Hebreus (Hebreus 12:9), quando ele chama aqueles pelos quais nós fomos gerados os pais de uma carne; mas diz que há um Deus, "o Pai dos espíritos". Logo depois, tendo chamado Deus o Rei da Jerusalém celestial, ele adiciona que seus cidadãos são anjos e

"os espíritos dos homens justos aperfeiçoados" (Hebreus 12:23).

Nem vejo eu como nós podemos de outra forma entender Paulo, quando ele diz (2 Coríntios 7:1), "Tendo então estas promessas, nos purifiquemos de toda poluição da carne e espírito". Pois está claro que ele não faz ali a comparação que ele em outra parte frequentemente usa quando ele atribui corrupção ao espírito, por qual termo, em outras passagens ele meramente quer dizer pureza.

Eu vou adicionar outra passagem, apesar de ver que aqueles que desejam contestar irão imediatamente dirigir-se a suas interpretações. A passagem é (1 Coríntios 2:11), "Qual dos homens conhece as coisas do homem, senão o espírito do homem que está nele? Assim também nenhum homem conhece as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus". Ele deveria ter dito que o homem conhece as coisas que são suas; mas ele aplicou o nome àquela parte na qual o poder de pensar e entender reside. Então, quando ele disse (Romanos 8:16), "O Espírito de Deus dá testemunho com nosso espírito, que nós somos os filhos de Deus", ele não usa a mesma peculiaridade como expressão? Mas não poderíamos convencê-los por uma simples passagem? Nós sabemos quão frequentemente nosso Salvador condenou o erro dos saduceus, que parcialmente consistia, como Lucas diz em Atos (Atos 23:8), em negar a existência do espírito, as palavras são, "Os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo nem espírito; mas os fariseus reconhecem todos estes". Eu temo que eles vão contestar, e dirão que as palavras devem ser entendidas com respeito ao Espírito Santo ou os anjos. Mas esta objeção é facilmente satisfeita. Ele tanto menciona os anjos separadamente; e é certo que aqueles fariseus não tinham conhecimento do Espírito Santo. Isto será mais bem entendido por aqueles que conhecem grego. Lucas usa o termo πνεῦμα sem adicionar o artigo, que ele certamente teria adicionado caso estivesse falando do Espírito Santo.

Se isto não parar suas bocas, eu não vejo por qual argumento eles possam ser levados ou puxados, a menos que eles escolham dizer que a opinião dos saduceus, ao negar o espírito, não foi condenada, ou que a dos fariseus, em afirmá-la, aprovada. Esta ninharia vai de encontro com as próprias palavras do Evangelista: pois, depois de declarar a confissão de Paulo, "Eu sou um fariseu", ele adiciona esta opinião mantida pelos fariseus. Nós devemos então ou dizer que Paulo usou um pretexto astucioso e malicioso, (isto não poderia ser, em uma confissão de fé!) ou que ele se manteve com os fariseus na matéria do espírito. Mas se dermos crédito à História, (Eccl. Hist., c. 4: cap. 13,) esta crença entre os Apóstolos foi tão firme e certa quanto aquela da Ressurreição dos Mortos, ou qualquer outro principal artigo de nossa fé. Seria apropriado colocar aqui as palavras de Policarpo, um homem respirando o espírito de um mártir em todas suas palavras e ações (Hist. Eccl., cap. 19), um que foi um discípulo dos Apóstolos, e tão puramente entregou o que ele aprendeu deles para a posteridade, que ele nunca permitiu que isto fosse em algum nível adulterado. Ele, então, entre vários ditos ilustres que ele declarou quando trazido para a estaca, disse que naquele dia ele iria aparecer diante de Deus em espírito. Na mesma época Melito, bispo de Sardis (Hist. Eccl., c. 24), um homem de integridade parecida, escreveu em um tratado, Sobre o Corpo e a Alma. Se ele ainda existisse, nosso presente trabalho seria supérfluo: e esta crença prevaleceu tanto em uma melhor época, que Tertuliano a coloca entre os conceitos comuns e primários da mente que são comumente aprendidas pela natureza. (Tertull. de Resurrect. Carnis.)

Apesar de vários argumentos já terem sido avançados, os quais, se não estou enganado, estabelecem o ponto pelo qual eu contendo, a saber, que o espírito ou alma do homem é uma substância distinta do corpo, o que agora será adicionado fará o ponto ficar ainda mais certo. Pois eu venho ao Segundo Ponto, que proponho discutir, a saber, que a alma, depois da morte do corpo, ainda sobrevive, dotada com sentido e intelecto. E é um erro supor que eu estou afirmando aqui outra coisa que não seja a imortalidade da alma. Pois aqueles que admitem que a alma vivem, e ainda a destituem de todos os sentidos, simulam uma alma que não possui as propriedades de uma alma, ou separam a alma de si mesma, vendo que sua natureza, sem a qual ela não poderá existir, é mover, sentir, ser vigorosa, entender. Como Tertuliano diz "A alma da alma é percepção" (Lib. de Carne Christi).

Aprendamos agora esta imortalidade das Escrituras. Quando Cristo exorta seus seguidores para que não temam aqueles que podem matar o corpo, mas não podem matar a alma, porém temer aquele que, depois de matar o corpo, é capaz de jogar a alma no fogo da Gehenna (Mateus 10:28), ele não dá a entender que a alma sobrevive a morte? Graciosamente, então, o Senhor tem agido em respeito a nós, ao não deixar nossas almas à disposição daqueles que não possuem nenhum escrúpulo em matá-las, ou pelo menos tentam, porém sem a habilidade de fazê-lo. Tiranos torturam, mutilam, queimam, açoitam e penduram, mas é apenas o corpo! É somente Deus que possui poder sobre a alma, e pode mandá-la para o fogo do inferno. Então ou a alma sobrevive o corpo ou é falso dizer que os tiranos não tem poder sobre a alma! Eu os ouço responder que a alma é de fato morta no presente quando a morte é infringida, mas não perece, já que ela será novamente levantada. Quando eles escapariam desta forma, eles deveriam reconhecer que nem o corpo é morto, já que ele também irá se levantar; e por que ambos serão preservados para o dia do julgamento, nenhum perece! Mas as palavras de Cristo admitem que o corpo é morto, e testificam ao mesmo tempo que a alma está segura. Cristo usa esta forma de expressão quando ele diz (João 2:19), "Destrua este templo, e em três dias eu o levantarei". Ele estava falando do templo de seu corpo. De forma parecida ele a livra do poder deles, quando, ao morrer, ele a confia nas mãos do Pai, como Lucas escreve, e Davi previu (Lucas 23:4,6; Salmos 31:6). E Estevão, depois de seu exemplo, diz "Senhor Jesus, receba meu espírito!" (Atos 7:59). Aqui eles absurdamente pretendem dizer que Cristo confia sua vida ao seu Pai e Estevão a sua para Cristo, para ser mantida para o dia da Ressurreição. Mas as palavras, especialmente aquelas de Estevão, implicam em algo muito diferente disto. E o Evangelista adiciona, a respeito de Cristo, que tendo curvado sua cabeça, entregou seu espírito (João 19:30). Estas palavras não podem se referir à palpitação ou ação dos pulmões.

Não de forma menos evidente o Apóstolo Pedro mostra que, depois da morte, a alma tanto existe quanto vive, quando ele diz (1 Pedro 1:19) que Cristo pregou aos espíritos em prisão, não meramente perdão para salvação aos espíritos dos justos, mas também confusão aos espíritos dos ímpios. Pois assim eu interpreto a passagem, que tem confundido muitas mentes; e estou confiante que, sob auspícios favoráveis, eu farei uma boa interpretação. Pois depois que ele falou da humilhação da cruz de Cristo, e mostrou que todos os justos devem se conformar com sua imagem, ele imediatamente depois, para prevení-los de cair em desespero, faz menção da Ressurreição, para ensiná-los como suas tribulações terminariam. Pois ele declara que Cristo não caiu sob a morte, mas a subjugou, retornando vitorioso. Ele de fato diz em palavras, que ele foi

"colocado para a morte na carne, mas revivido pelo Espírito," (1 Pedro 3:18)

mas justamente no mesmo sentido no qual Paulo diz que ele sofreu na humilhação da carne, mas foi levantado pelo poder do Espírito. Agora, para que os crentes possam entender que o poder pertence a eles também, ele adiciona que Cristo manifestou este poder a respeito de outros, e não somente para os vivos, mas também para os mortos; e além do mais, não somente para seus servos, mas também descrentes e desprezadores de sua graça.

Entendamos, além disto, que a sentença é incompleta, e carece de um de seus dois membros. Muitos exemplos disto acontecem nas Escrituras, especialmente quando, como aqui, vários sentimentos são compreendidos em uma cláusula. E que ninguém se admire que os santos Patriarcas que esperaram a redenção de Cristo estejam trancados em prisão. Como eles viram a luz à distância, sob uma nuvem e sombra (como aqueles que vêem a luz a tênue luz do amanhecer ou do pôr-do-sol), e ainda não tiveram uma exibição das bênçãos divinas nas quais eles descansaram, ele deu o nome de prisão às suas expectativas.

O significado do Apóstolo será então que Cristo em espírito pregou àqueles outros espíritos que estavam em prisão - em outras palavras, que a virtude da redenção obtida por Cristo apareceu e foi exibida para os espíritos dos mortos. Agora, há uma falta do outro membro que está relacionado com o fiel que reconhece e recebe este benefício; mas é completo a respeito dos infiéis, que receberam este anúncio para sua confusão. Pois quando eles viram apenas uma redenção, da qual eles foram excluídos, o que poderiam eles fazer senão se desesperar? Eu ouço nossos oponentes murmurarem, dizendo que esta é uma interpretação de minha própria invenção, e que tal autoridade não está ligada a eles. Eu não tenho nenhum desejo de ligá-los à minha autoridade, eu somente os questiono se os espíritos em prisão são ou não espíritos? Há outra passagem mais clara no mesmo autor, quando ele diz (1 Pedro 4:6) que o evangelho foi pregado aos mortos, para que eles fossem julgados conforme homens na carne, mas vivendo conforme Deus no espírito. Você vê como, enquanto a carne é entregue à morte, vida é clamada para o espírito. Uma relação é expressa entre vida e morte, e, por antítese, um morre o outro vive.

Nós aprendemos a mesma coisa de Salomão, quando descrevendo a morte do homem, ele faz uma grande diferença entre a alma e o corpo. Ele diz,

"Até que o pó volte para a terra de onde ele veio, e o espírito retorne a Deus que o deu" (Eclesiastes 12:7).

Estou ciente que eles são pouco afetados por este argumento, porque eles dizem que a vida retorna a Deus, que é a fonte da vida; e isto é tudo. Mas as próprias palavras proclamam que desta forma violência é feita a elas, e é então desnecessário refutar uma tola ninharia, que é indigna de tanto ser ouvida quanto lida. Mesmo isto deve implicar, de acordo com eles, que almas retornam para a fonte da vida somente por um sonho! Conforme esta passagem, em Esdras, um escritor a quem eu não recorreria ao opor-me a eles caso eles não dependessem tanto dele. Deixe-os então ouvir seu próprio Esdras, (4 Esdras 3:2) "A terra entregará aquelas coisas que dormem nela, e vivem em silêncio; e os armazéns irão entregar as almas que foram confiadas a eles". Eles futilmente alegam que os "armazéns" são a Divina Providência, e que "almas" são pensamentos, de forma que o Livro da Vida é exibir pensamentos na presença de Deus. Eles evidentemente falam assim meramente porque eles estão envergonhados de estarem em silêncio, e não possuírem nada melhor para dizer. Mas se nós pudermos voltar-nos para as Escrituras desta forma, tudo pode ser pervertido! Aqui, contudo, apesar de eu ter amplas provisões, eu não produzirei nada de mim mesmo, já que o escritor se defende desta interpretação errada. Um pouco antes ele disse (Esdras 4:3), "As almas destes não requerem em seus domicílios, dizendo, ‘Quanto tempo nós esperamos isto, Ó Senhor? Quando a colheita de nossa recompensa virá?'" O que são estas almas que pedem e esperam? Aqui, se eles escaparem, devem cavar outra cova para si mesmos!

Deixe-nos agora chegar à história do homem rico e Lázaro, sendo que o último depois que todos os labores e labutas de sua vida mortal passaram, foi finalmente carregado para o seio de Abraão, enquanto que o primeiro, tendo tido seus confortos aqui, agora sofre tormentos. Um grande abismo é interposto entre as alegrias de um e os sofrimentos de outro. São estes meros sonhos - os portões de marfim dos quais o poeta cria fábulas? Para assegurar uma forma de escapar, eles fazem da história uma parábola, e dizem que tudo que a verdade fala a respeito de Abraão, o homem rico e o homem pobre, é ficção. Tal reverência é que eles prestam a Deus e sua palavra! Deixemos eles produzirem pelo menos uma passagem das Escrituras onde qualquer um é chamado pelo nome em uma parábola! O que se quer dizer pelas palavras - "Houve um homem pobre chamado Lázaro?" Ou a Palavra de Deus deve mentir, ou é uma narrativa verdadeira.

Isto é observado pelos antigos expositores das Escrituras. Ambrósio diz - É uma narrativa ao invés de uma parábola, já que o nome é adicionado. Gregório toma o mesmo ponto de vista. Certamente Tertuliano, Ireneu, Orígenes, Cipriano e Jerônimo falam dela como uma história. Entre estes, Tertuliano acha que na pessoa do homem rico, Herodes é representado, e em Lázaro, João Batista. As palavras de Ireneu são "O Senhor não nos contou uma fábula no caso do homem rico e Lázaro", etc., e Cirilo, ao responder os arianos, que extraem dela um argumento contra a Divindade de Cristo, não se refere a ela como uma parábola, mas a expõe como uma história (Tertuliano Contra Marcão; Ireneu Contra Heresias, livro 4, cap. 4; Orígenes, Hom. 5 in Ezequiel; Cipriano epist, 3; Hieron. in Jes. c. 49 and 65; Hilar. in Psalm 3.; Cirilo em John 1 capítulo 22). Eles são mais absurdos quando eles trazem o nome de Agostinho, pretendendo que ele mantinha o ponto de vista deles. Eles afirmam isto, eu presumo, porque em um lugar ele diz - "Na parábola, por Lázaro é entendido Cristo, e pelo homem rico os Fariseus"; quando tudo o que ele quer dizer é que a narrativa é convertida em parábola se a pessoa de Lázaro é atribuída a Cristo, e se o homem rico for atribuído aos Fariseus (Agostinho, de Genes. ad Liter. lib. 8). Este é o costume comum daqueles que adotam um prejuízo violento em favor de uma opinião. Vendo que eles não possuem base para se manter, lançam mão não somente de sílabas, mas letras para torcê-las para seu uso! Para prevení-los de insistir aqui, o escritor mesmo declara em outro lugar, que ele a entende como sendo uma história. Deixe-os então agora ir e tentar extinguir a luz do dia por meio de sua fumaça!

Eles não podem escapar sem sempre cair na mesma rede: pois mesmo que concedamos que ela seja uma parábola (isto eles não podem provar), o que mais eles podem fazer dela além de que justamente há uma comparação que deve ser fundada na verdade? Se estes grandes teólogos não sabem disto, deixe-os aprender de suas gramáticas, ali eles irão encontrar que a parábola é uma semelhança, fundada na realidade. Assim, quando é dito que certo homem tinha dois filhos a quem ele dividiu seus bens, deve haver na natureza das coisas tanto um homem quanto filhos, herança e bens. Em resumo, a regra invariável nas parábolas é que nós primeiro concebemos um simples tema e demonstramos, então, desta concepção, que nós somos guiados para o escopo da parábola - em outras palavras, para a própria coisa que é acomodada. Que imitem Crisóstomo, que é seu calcanhar de Aquiles nesta questão. Ele pensou que ela fosse uma parábola, apesar dele frequentemente extrair uma realidade dela, como quando ele prova dela que os mortos possuem certas moradas, e mostra a natureza terrível da Gehenna, e os efeitos destrutivos da luxúria (Chrysos. Hom, 25 in Matthew Hom. 57; in eundem, In Par ad The. Lapsor. Hom. 4 Matthew). Para não perder muitas palavras aqui, que eles consultem o sentido comum, se eles possuem algum, e eles irão facilmente perceber a natureza e força da parábola.

Sentindo desejoso, tão quanto pudermos, de satisfazer a todos, nós vamos aqui dizer algo a respeito do descanso da alma quando, em confiança certa na divina promessa, é libertada do corpo. As Escrituras, por seio de Abraão, querem apenas designar este descanso. Primeiro, nós damos o nome de "descanso" àquilo que nossos oponentes chamam "sono". Não temos aversão, de fato, ao termo sono, se ele não fosse corrompido e quase poluído por suas falsidades. Segundo, por "descanso" nós entendemos, não preguiça, ou letargia, ou qualquer coisa como a sonolência da embriaguez que eles atribuem à alma; mas tranquilidade de consciência e segurança, que sempre acompanha a fé, mas nunca é completa em todas as suas partes até a morte.

A Igreja, de fato, enquanto ainda habita na terra como um estrangeiro, aprende a bem-aventurança dos crentes dos lábios do Senhor (Isaías 32:18), "Meu povo irá andar na beleza da paz, e nas tendas da confiança, e em rico repouso". Ela própria, de outro lado, dando graças, canta ao Senhor enquanto a abençoa (Isaías 26:12),

"Ó Senhor, Tu nos dará paz: pois Tu tens feito todos Teus trabalhos por nós".

Crentes possuem esta paz ao receber o evangelho, quando eles vêem que Deus, a quem eles temiam como seu Juiz, tem se tornado seu Pai; eles mesmos, ao invés de filhos da ira, filhos da graça; e as entranhas do perdão divino derramam sobre eles, de forma que agora eles esperam de Deus nada mais do que bondade e brandura. Mas já que a vida humana na terra é uma guerra (Jó 7:1), aqueles que sentem tanto os aguilhões do pecado e os vestígios da carne, devem sentir depressão no mundo, apesar da consolação de Deus - tal consolação, contudo, como não deixando a mente perfeitamente calma e inalterada. Mas quando eles são despidos da carne e dos desejos da carne (os quais, como inimigos domésticos, acabam com sua paz), então finalmente irão descansar e reclinar com Deus: Pois assim diz o Profeta,

"O justo perece, e nenhum homem considera isto em seu coração; e homens de misericórdia são recolhidos: pois o justo é recolhido da face do mal. Que venha a paz, que aquele que andou nesta direção descanse em sua cama" (Isaías 57:1).

Ele não chama aqueles para a paz, que tem sido filhos da paz? Ainda, como sua paz estava com Deus, e eles tinham guerra no mundo, ele os chama para um mais alto grau de paz.

Da mesma forma, Ezequiel e João, quando descrevem o trono da glória de Deus, o rodeiam com um arco-íris, que nós sabemos ser o sinal da aliança entre Deus e os homens. Este João tem ensinado mais claramente em outra passagem,

"Abençoados são os mortos que morrem no Senhor, sim, dizem as Escrituras, eles podem descansar de seus labores" (Ezequiel 1:28; Apocalipse 9:3; 14:13).

Este, então, é o seio de Abraão: pois foi ele mesmo que, com mente preparada, abraçou as promessas feitas à sua própria semente, nunca duvidando que a palavra de Deus fosse eficaz e verdadeira: e como se Deus tivesse realmente feito o que ele prometeu, ele esperou por aquela abençoada semente com não menos confiança do que se ele a tivesse tido em suas mãos e percebido com todos seus sentidos. Da mesma forma, nosso Senhor deu este testemunho a ele, que "ele viu Seu dia e se alegrou" (João 8:56). Aqui está a paz de Abraão, aqui seu descanso, aqui seu sono; só não deixe um nome tão honrável ser poluído pelos lábios destes tolos dorminhocos: pois em que poderia a consciência descansar mais agradavelmente que nesta paz, que a abre para os tesouros da graça celestial e a intoxica com a doçura da taça do Senhor? Por que, Ó dorminhocos! Quando vocês ouvem falar de intoxicação, pensam em vertigem, de opressão de seu grosseiro sono carnal? Tais são as inconveniências que se seguem após a intoxicação! Tais sejam suas grosseiras imaginações; mas aqueles que são ensinados por Deus entendem que "sono" é usado, nesta forma, para a paz de consciência que o Senhor confere aos seus seguidores na residência da paz, e "intoxicação" para as riquezas com as quais Deus satisfaz seu povo na residência da opulência. Se Abraão possuía esta paz quando exposto às transgressões de seus inimigos, a trabalhos e perigos, não, quando se opunha a ele seu corpo, um inimigo doméstico que não há mais pernicioso, quão grande deve ser sua paz agora que ele escapou de todos os golpes e dardos hostis?

Ninguém pode agora se maravilhar de porque os eleitos de Deus serem ditos "descansar no seio de Abraão", quando eles passam desta vida para seu Deus! É justamente porque eles são admitidos com Abraão, o pai dos fiéis, onde eles se alegram com Deus completamente, sem enfado. Pelo que, não sem razão, Agostinho diz em certo lugar, "Assim como nós chamamos de vida eterna, assim nós podemos também chamar paz ‘o fim dos salvos': pois Ele não pode dar nada melhor que possa dar nada maior ou melhor que si mesmo, sendo o Deus da Paz" (Agostinho, de Civit. lib. 19).

De agora em diante, quando se disser sobre "o seio de Abraão", não deixe eles deturpar o sentido dele por seus sonhos, já que a verdade das Escrituras de uma só vez estabelece e condena suas futilidades. Há, digo eu, um descanso, uma Jerusalém celestial, isto é, uma visão da paz, na qual o Deus da paz se dá para ser visto pelos seus pacificadores, de acordo com a promessa de Cristo. Com que frequência o Espírito faz menção desta paz nas Escrituras, e usa a figura do "sono" e "descanso" tão familiarmente, que o uso de nenhuma figura é mais frequente? "Teus santos", diz Davi, "vão exultar, eles irão rejubilar em suas camas" (Salmo 149:5; Isaías 57:2). Outro diz, "Seus mortos viverão, teus assassinados levantarão de novo. Acordem e louvem, habitantes do pó, porque seu orvalho é o orvalho da campina, e vocês deverão trazer a terra dos gigantes para a destruição". "Vá, meu povo, entre em seus tabernáculos, fechem suas portas, escondam-se por um pouco, até que a indignação passe" (1 Coríntios 15:12; 1 Tessalonicenses 5:13; Mateus 5:8, 9; Isaías 26:19). Não, a língua hebraica usa a palavra para significar qualquer segurança e confiança. Davi, por outro lado diz,

"Eu dormirei e descansarei em paz" (Salmos 4:9).

E o Profeta diz,

"Eu farei um pacto, naquele dia, com a besta do campo, e com o pássaro do ar, e com o réptil da terra; eu irei quebrar o arco e a espada e banir a guerra da terra e os farei dormir sem terror" (Oséias 2:18).

E Moisés diz,

"Eu darei paz em suas fronteiras, e ninguém deverá temer" (Levítico 26:6).

E no livro de Jó é dito,

"Você deverá ter confiança na esperança estabelecida diante de você, e enterrado dormirá seguro. Você deverá descansar, e ali não haverá ninguém para te aterrorizar, e muitos irão suplicar em sua face" (Jó 11:18, 19).

Da mesma coisa somos admoestados pelo provérbio latino, de "dormir com ambas orelhas", querendo dizer para viver seguramente. As almas dos vivos, então, que descansam no mundo do Senhor, e não desejam antecipar a vontade de seu Deus, mas estão prontos para seguir qualquer coisa a que Ele convidar, mantém eles mesmos sob suas mãos, dormem e tem paz. O comando dado a eles é,

"Se Sua verdade permanece, espere por ela" (Habacuque 2:3).

E novamente,

"Em esperança e silêncio será sua força" (Isaías 30:15).

Agora, quando eles esperam por algo que eles não vêem, e desejam algo que eles não têm, é evidente que sua paz é imperfeita. Por outro lado, enquanto eles confiantemente esperam o que eles esperam, e em fé desejam o que eles desejam, está claro que seu desejo é tranquilo. Esta paz é aumentada e desenvolvida pela morte, que libertando, e como se estivesse tirando deles a carga da guerra deste mundo, guiando-os para o lugar de paz, onde, enquanto completamente atentos em observar Deus, eles não possuem nada melhor para onde eles possam virar seus olhos ou direcionar seus desejos. Ainda, eles desejam ver algo que está faltando, a saber, a completa e perfeita glória de Deus, a qual eles sempre aspiram. Apesar de não haver nenhuma impaciência em seus desejos, seu descanso não é ainda completo e perfeito, já que aquele que é dito descansar é aquele que está onde ele deseja estar; e a medida de desejo não tem fim até que se chegue onde se deseja. Mas se os olhos do eleito olharem para a suprema glória de Deus como seu bem final, seu desejo está sempre se movendo progressivamente até a glória de Deus estar completa, e esta conclusão aguarda o dia do julgamento. Então serão verificadas as palavras,

"Ficarei satisfeito, quando acordar, em observar sua face" (Salmos 17:15).

Para não omitir o réprobo, cuja morte não precisa nos dar grande interesse, eu gostaria que nossos oponentes candidamente me dissessem, com base em que eles possuem alguma esperança de ressurreição, a menos que seja porque Cristo se levantou? Ele é o primogênito dos mortos, e o primeiro fruto daqueles que se levantaram novamente. Como ele morreu e se levantou novamente, assim também nós morreremos e nos levantaremos novamente. Pois se a morte à qual todos nós estamos sujeitos for vencida pela morte, ele induvidavelmente sofreu a mesma morte que nós, e da mesma forma na morte sofreu o que sofremos. As Escrituras deixam isto claro quando chamam ele o primogênito dos mortos, e o primeiro fruto dos que se levantam novamente (Colossenses 1:18). E assim elas ensinam que crentes no meio da morte o confirmam como seu líder, e enquanto eles consideram suas mortes santificadas pela sua morte, não possuem medo de sua maldição. Isto Paulo anuncia quando ele diz que ele foi feito conforme sua morte, até que ele alcance a ressurreição dos mortos (Filipenses 3:10). Esta conformidade, aqui iniciada pela cruz, ele seguiu até que ele pudesse completá-la pela morte

Agora, ó dorminhocos sonhadores, comunguem com seus próprios corações e considerem como Cristo morreu. Ele dormiu quando estava trabalhando por sua salvação? Não é assim que ele diz de si mesmo,

"Como o Pai tem vida em si mesmo, assim Ele deu ao Filho ter vida em si mesmo" (João 5:26).

Como poderia aquele que tem vida em si mesmo perdê-la?

Que eles não me digam que estas coisas pertencem à sua Divindade. Pois se foi dado àquele que não tem, foi dado ao homem e não a Deus que tem vida em si mesmo. Pois vendo que Jesus Cristo é Filho de Deus e homem, aquele que ele é pela natureza como Deus é ele também pela graça como homem, para que assim ele possa receber tudo em sua perfeição, e graça por graça. Quando homens escutam que há vida com Deus, que esperança eles poderiam conceber disto, quando eles ao mesmo tempo sabem que por seus pecados, uma nuvem é interposta entre eles e Deus? Mas é certamente uma grande consolação saber que Deus o Pai ungiu Cristo com o óleo da alegria sobre seus companheiros - que o homem Cristo tem recebido do Pai dádivas para os homens, de forma que possamos achar vida em nossa natureza. Daí nós lemos que a multidão, depois que o garoto foi ressuscitado, glorificou Deus por ter dado tal poder aos homens (Atos 20:12). Isto certamente foi visto por Cirilo, que concorda conosco na exposição desta passagem. Mas quando nós dizemos que Cristo, como homem, tinha vida em si mesmo, nós não dizemos que Ele é a causa da vida para si mesmo.

Isto pode ser esclarecido através de uma comparação familiar. Uma fonte de onde todos bebem, e de onde correntes fluem e são derivadas, é dita ter água em si mesma; e ainda ela não tem de si mesma mas da fonte, que constantemente fornece o que é suficiente para tanto as correntes que fluem quanto os homens que bebem dela. Da mesma forma, Cristo tem vida em si mesmo, isto é, vida perfeita, pela qual ele tanto vive por si mesmo quanto dá vida a outros; ainda ele não a tem de si mesmo, como em outro lugar ele declara que ele vive pelo Pai. E apesar de como Deus ele ter vida em si mesmo, quando ele assume a natureza humana ele recebe do Pai a dádiva de ter vida em si mesmo naquela natureza também. Estas coisas nos dão plena garantia que Cristo não poderia ser extinto pela morte, mesmo a respeito de sua natureza humana; e que apesar dele ter sido verdadeiramente e naturalmente entregue para a morte pela qual todos nós sofremos, Ele, contudo, sempre reteve a dádiva do Pai. Verdade, a morte era uma separação da alma e corpo. Mas a alma nunca perde sua vida. Tendo sido confiada ao Pai ela não poderia ser outra coisa que não salva.

Isto é intimado pelas palavras no sermão de Pedro, no qual ele afirma que era impossível que ele pudesse ser mantido pela morte, para que as Escrituras fossem cumpridas,

"Não deixarás minha alma no inferno, nem permitirá Teu Santo ver corrupção" (Atos 2:27).

Apesar de nós podermos concordar que nesta profecia "alma" é usada por vida, Cristo pede e espera duas coisas do seu Pai - que Ele não abandone sua alma à perdição nem permita que ele mesmo seja sujeito à corrupção. Isto foi cumprido. Pois sua alma foi mantida pelo poder divino, e não caiu em perdição, e o corpo foi preservado na tumba até sua Ressurreição. Todas estas coisas foram incluídas por Pedro em uma expressão, quando ele diz que Cristo não poderia ser mantido pela morte κρατεῖσθαι, isto é, rendido ao domínio, ou cair sob o poder da morte, ou continuar a ser mantido por ele. É verdade que Pedro, naquele discurso, deixando de lado a consideração da alma, continua a falar da incorrupção do corpo somente. Isto ele faz para convencer os judeus, na autoridade de seus próprios escritores, que esta profecia não se aplicava a Davi, cujo sepulcro existia entre eles, cujo corpo eles sabiam ter caído sob corrupção, de forma que eles não pudessem negar a ressurreição de nosso Senhor. Outra prova da imortalidade de sua alma foi dada a nós pelo nosso Salvador, quando ele fez do confinamento de Jonas três dias no ventre da baleia ser um tipo de sua morte, declarando que assim ele estaria três dias e três noites no ventre da terra. Mas Jonas clamou ao Senhor do ventre do peixe, e foi ouvido. Aquele ventre é a morte. Ele então teve sua alma salva na morte, e por meio disto ele podia clamar ao Senhor.

Isaque, também, que era um tipo de Cristo, e foi restaurado a seu pai da morte, por uma forma de tipo da ressurreição, como o Apóstolo diz, nos mostra a verdade em uma figura. Pois depois de ter sido amarrado e colocado no altar como uma vítima preparada, ele foi solto pela ordem de Deus. Mas o carneiro que foi pego na moita foi substituído por Isaque. E porque é que Isaque não morreu, senão justamente porque Cristo tem dado imortalidade ao que é peculiar ao homem - eu quero dizer a alma? Mas o carneiro, o animal irracional que foi dado para a morte em seu lugar, é o corpo. No amarrar de Isaque está representada a alma, que mostrou apenas uma semelhança, de morrer na morte de Cristo, e o mesmo é diariamente exibido em exemplos comuns da morte. Mas como a alma de Cristo foi liberta da prisão, assim também nossas almas são libertas antes de perecerem. Que qualquer um de vocês ponha agora um ar arrogante, e pretendam que a morte de Cristo tenha sido um sono - ou que ele revise e se junte ao acampamento de Apolinário! Cristo estava de fato desperto quando Ele se mostrou para sua salvação; mas você dorme seu sono, e, enterrado na escuridão da cegueira, dá nenhuma atenção para seu chamado de despertar!

Além disto, não só nos consola pensar que Cristo, nossa Cabeça, não pereceu na sombra da morte, mas nós temos a segurança adicional de Sua Ressurreição, pela qual Ele se constituiu o Senhor dos mortos, e levantou todos de nós que temos alguma parte nele antes da morte, de forma que Paulo não hesitou em dizer que "nossa vida está oculta com Cristo em Deus" (Colossenses 3:3). Em outro lugar ele diz, "Eu vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:20). O que resta a nossos oponentes para reclamar com boca aberta que Cristo dormiu com almas sonolentas? Pois se Cristo vive neles ele também morre neles. Se, então, a vida de Cristo é nossa, que aquele que insiste que nossa vida termina pela morte puxe Cristo da mão direita de Deus para baixo e o despache para a segunda morte. Se Ele pode morrer, nossa morte é certa; se ele não tem fim de vida, nem nossas almas enxertadas nele podem ser destruídas por qualquer morte!

Mas porque ter trabalho neste ponto? Há alguma obscuridade nas palavras,

"Porque eu vivo, vocês viverão também" (João 14:19).

Se nós vivemos porque ele vive, então se nós morrermos ele não vive. Há alguma obscuridade nesta promessa, que ele ficará em todos que estão unidos a ele pela fé, e eles nele (João 6:56)? Então, se nós fôssemos destituir os membros da vida, que separemos eles de Cristo. Nossa confissão, que é suficientemente estabelecida, é esta:

"Em Adão todos morre, mas em Cristo são feitos vivos" (1 Coríntios 15:22).

Estas coisas são esplendidamente e magnificamente tratadas por Paulo (Romanos 8:10). "Se o Espírito de Cristo vive em nós, o corpo está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida por causa da justiça". Ele sem dúvida chama o corpo de massa do pecado, que reside no homem da propriedade nativa da carne; e o espírito a parte do homem espiritualmente regenerada. Para que, quando um pouco antes ele lamentou sua miséria por causa dos restos do pecado grudando-se nele (Romanos 7:24), ele não deseja ser completamente levado, ou ser nada, para que ele possa escapar daquela miséria, mas ser liberto do corpo da morte, isto é, que a massa do pecado nele possa morrer, para que o espírito, sendo limpo, e como se fosse liberto de detritos, ele possa ter paz com Deus através desta exata circunstância; declarando que sua melhor parte foi cativa pelas correntes corporais e deveriam ser libertas pela morte.

Eu gostaria que nós pudéssemos com verdadeira fé perceber de qual natureza o reino de Deus que existe nos crentes é, mesmo quando eles estão nesta vida. Pois seria ao mesmo tempo fácil de entender que a vida eterna começou. Aquele que não pode mentir nos prometeu assim:

"Quem ouvir minhas palavras tem vida eterna, e não serão condenados, mas passarão da morte para a vida" (João 5:24).

Se uma entrada foi dada para a vida eterna, por que eles a interrompem com a morte? Em outro lugar ele diz,

"Este é o trabalho do Pai, que todo aquele que crê no Filho não pereça, mas tenha vida eterna; e eu o levantarei no último dia" (João 6:40).

Novamente,

"Aquele que come minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna; e eu o levantarei no último dia. Não como os seus pais comeram o maná no deserto e estão mortos. Aquele que come deste pão viverá para sempre" (João 6:54).

Não tente introduzir aqui seus comentários fictícios sobre O Último Dia. Ele nos promete duas coisas - Vida Eterna e a Ressurreição. Apesar de ser dito para você duas coisas, você admite apenas uma! Outra expressão de Cristo é ainda mais decisiva. Ele diz,

"Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crer em mim deverá viver, ainda que esteja morto. E quem viver e crer em mim não morrerá para sempre" (João 11:25, 26).

Não foi para dizer que aqueles que são levantados não morrem para sempre. Nosso Senhor não quis dizer somente isto, mas que é impossível que eles possam jamais morrer. Este significado é melhor expresso pelas palavras gregas εἰς τὀν αἰῶνα equivalente em latim a in seculum: pois quando ele diz que uma coisa não será in seculum, nós afirmamos que ele nunca será de um todo. Assim em outra passagem, "Quem assim manter minha palavra não verá a morte para sempre" (João 8:51). Isto invencivelmente prova, que aquele que mantiver a palavra do Senhor não verá morte; e deve ser o suficiente para armar a fé dos cristãos contra a perversidade destes homens. Esta é nossa crença, esta nossa expectativa. Enquanto isto, o que resta para eles senão continuar a dormir até que eles sejam despertos pelo soar da trombeta que deve acabar com seus sonos como um ladrão na noite?

E se Deus é a vida da alma, assim como a alma é a vida do corpo, como pode ser que a alma se mantém agindo no corpo enquanto ela está no corpo, e nunca fica ociosa por um instante, porém, Deus deveria cessar de agir como se Ele estivesse fatigado? Se tal é o vigor da alma em sustentar, mover e impelir uma massa de barro, quão grande será a energia de Deus em mover e atuar na alma cuja agilidade é natural? Alguns vão ao ponto de dizer que a alma se torna imperceptível; outros, que seu vigor não é exercitado depois que os grilhões do corpo são dissolvidos. Que resposta darão então eles ao hino de Davi (Salmos 73), onde ele descreve o começo, meio e fim da vida dos salvos? Ele diz, "Eles irão de força em força; o Senhor das Hostes será visto em Sião"; ou, como o hebraico diz, de abundância em abundância. Se eles sempre aumentam até que vejam Deus, e passam deste aumento para a visão de Deus, com base em que estes homens no sono embriagado e na profunda preguiça?

A mesma coisa é testificada ainda mais claramente pelo Apóstolo quando ele diz que se eles são dissolvidos eles não mais são capazes de resistir ao Espírito de Deus. Suas palavras são,

"Nós sabemos que se a casa terrena deste tabernáculo for dissolvido, nós temos um edifício de Deus, uma casa feita não por mãos, eterna nos céus. Por isto nós suspiramos, desejando ser revestidos por nossa habitação que está no céu; se todavia estando vestidos não sermos achados nus. Pois nós que estamos neste tabernáculo suspiramos ao ser carregados, não porque nós desejamos ser despidos, mas revestidos, para que a mortalidade seja absolvida pela vida" (2 Coríntios 5:1-3).

Um pouco depois ele diz,

"Então nós sempre temos bom ânimo, e sabemos que enquanto nós estivermos em casa no corpo nós estamos ausentes do Senhor (pois andamos por fé, não por vista); nós estamos confiantes, e estaríamos de preferências ausentes do corpo e presentes com o Senhor" (2 Coríntios 5:6-8).

Aqui a evasão que eles recorrem é que as palavras do Apóstolo se referem ao Dia do Julgamento, quando tanto nós seremos revestidos como a mortalidade será absolvida pela vida. Da mesma forma, eles dizem, o Apóstolo inclui ambos em um parágrafo,

"Nós devemos todos aparecer perante o tribunal de Cristo" (2 Coríntios 5:10).

Mas por que eles referem este revestir ao corpo, ao invés das bênçãos espirituais que nos são ricamente dadas na morte? O que força eles a interpretar a vida ali dita como significando ressurreição? O significado simples e óbvio do Apóstolo é, nós desejamos de fato partir desta prisão do corpo, não vagar indefinidamente sem um lar: Há um lar melhor que o Senhor tem preparado para nós; revestidos com ele, nós não seremos encontrados nus. Cristo é nosso revestimento, e nossa armadura é aquela que o Apóstolo nos coloca (Efésios 6:11). E está escrito, (Salmos 45:13) "O rei irá admirar a beleza de sua esposa, que será ricamente provida com presentes, e todas as glórias com eles". Ou seja, o Senhor colocou um selo em seu próprio povo, a quem ele irá confirmar tanto na morte quanto na ressurreição. (Apocalipse 7) Por que eles não olham para o que ele acabou de dizer no contexto anterior, com o qual ele conecta esta mesma sentença?

"Apesar de nosso homem exterior decair, nosso homem interior é renovado dia a dia" (2 Coríntios 4:16).

Eles acham mais difícil de escapar ao que o Apóstolo adiciona sobre nossa aparição perante o tribunal de Cristo, depois de dizer que se em casa ou vivendo fora nós trabalhamos para agradá-lo. Já que por lar ele quer dizer corpo, o que nós devemos entender por este viver fora?

Então, apesar de não adicionarmos uma palavra, o significado é óbvio sem um intérprete. É que tanto no corpo como fora do corpo nós trabalhamos para agradar ao Senhor; e que nós devemos perceber a presença de Deus quando nós formos separados deste corpo - que nós não andaremos mais pela fé, mas por vista, já que o fardo de barro pelo qual somos mantidos embaixo age como um tipo de parede de separação, nos mantendo afastados de Deus. Aqueles levianos, pelo contrário, absurdamente pretendem que na morte nós devemos ficar mais ainda afastados de Deus do que estamos durante a vida! A respeito mesmo da presente vida, é dito dos justos, "Eles andarão, ó Senhor, na luz de tua face" (Salmos 89:15) e novamente,

"O Espírito mesmo dá testemunho com nosso espírito que nós somos filhos de Deus" (Romanos 8:16),

ao lado de muitas outras passagens com o mesmo efeito. Mas estes homens privam os justos na morte tanto da luz da face de Deus quanto o testemunho do Espírito; e, então, se eles estão corretos, nós somos mais felizes agora do que nós seremos na morte! Pois, como Paulo diz (Filipenses 3), mesmo enquanto nós vivemos sob os elementos deste mundo, nós temos uma habitação e cidadania nos céus. Mas se, como eles mantém, nossas almas são vencidas na morte com letargia e enterradas em esquecimento, eles devem perder qualquer tipo de alegria espiritual que eles possuíam previamente.

Nós somos mais bem ensinados pelas Escrituras Sagradas. O corpo, que se corrompe, oprime a alma, e a confina em uma habitação terrestre, grandemente limitando suas percepções. Se o corpo é a prisão da alma, se a habitação terrena é um tipo de grilhões, qual é o estado da alma quando liberta desta prisão, quando liberta destes grilhões? Não é ela restaurada a si mesma, e como se fosse feita completa, de forma que podemos verdadeiramente dizer que tudo que ela ganha é perdido tanto para o corpo? Se eles vão ou não, eles devem ser forçados a confessar que quando nós despimos da carga do corpo, a guerra entre o espírito e a carne cessa. Em resumo, a mortificação da carne é a vivificação do espírito. Então a alma, liberta das impurezas, é verdadeiramente espiritual, tanto como está em acordo com a vontade de Deus, e não sujeita à tirania da carne, rebelando contra ela. Em resumo, a mortificação da carne será a vivificação do espírito: Pois então a alma, tendo se livrado de todos os tipos de poluição, é verdadeiramente espiritual, de forma que ela consente com a vontade de Deus, e não mais está sujeita à tirania da carne; assim habitando em tranquilidade, com todos seus pensamentos fixos em Deus. Diremos que ela dorme, quando ela pode se levantar no alto livre de qualquer carga? - que ela dorme, quando ela pode perceber muitas coisas pelo sentido e pensamento, sem obstáculos interrompendo? Estas coisas não somente manifestam os erros destes homens, mas também sua perniciosa hostilidade às palavras e operações que as Escrituras proclamam que Deus executa em seus santos.

Nós reconhecemos Deus como crescendo em seus eleitos, e crescendo dia a dia. Isto o sábio nos ensina, quando ele diz (Provérbios 4:18), "O caminho do justo é como a luz, aumentando até o dia perfeito". E o Apóstolo afirma que

"Aquele que tem iniciado a boa obra em vocês irá aperfeiçoá-la até o dia do Senhor Jesus" (Filipenses 1:6).

Estes homens não somente interrompem a obra de Deus por um tempo, mas até mesmo a extinguem. Aqueles que antigamente iam de fé em fé, de virtude em virtude e desfrutaram uma antecipação da bênção quando eles exercitaram a si mesmos ao pensar em Deus, eles privam tanto a fé quanto a virtude, e todo o pensamento de Deus, e meramente coloca em camas, num estado preguiçoso e letárgico! Pois como eles interpretam aquele progresso? Eles acham que almas são aperfeiçoadas quando elas são feitas pesadas com o sono como uma preparação para elas serem trazidas macias e gordas na presença de Deus quando ele se sentar em julgamento? Tivessem eles um pouco de senso, não falariam tão absurdamente sobre a alma, mas fariam toda a diferença entre uma alma celestial e um corpo terreno a que há entre céu e terra. Quando o Apóstolo deseja partir para estar com Cristo (Filipenses 1:23), eles acham que ele deseja cair em sono de forma que ele não sinta mais nenhum desejo por Cristo? Era tudo isto o que ele desejava quando ele disse que ele sabia que tinha um edifício de Deus, uma casa não feita com mãos, assim que sua casa terrena de seu tabernáculo fosse dissolvida? (2 Coríntios 5:1) Onde está o benefício de estar com Cristo se ele estivesse para deixar de viver a vida de Cristo?

O quê? Eles não ficam admirados pelas palavras do Senhor, quando, chamando a si mesmo o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, ele diz que ele é

"Deus não de mortos mas de vivos" (Mateus 22:32)?

Ele, então, não é nem um Deus para eles, nem eles são para Ele um povo? (Marcos 12:27) Mas eles dizem que estas coisas se realizarão quando os mortos se levantarem para a vida. Apesar da questão expressamente feita é, vocês não leram o que foi dito a respeito da Ressurreição dos mortos? Esta evasão não servirá para seu propósito. Cristo discutindo com os saduceus, que negavam não somente a Ressurreição dos mortos, mas a imortalidade da alma os acusa de dois erros através desta simples expressão. Pois se Deus é Deus não dos mortos, mas dos vivos, e Abraão, Isaque e Jacó partiram desta vida quando Deus disse para Moisés chamando a si mesmo de seu Deus, a inferência é que eles estavam vivendo outra vida. Aqueles certamente devem ser quem Deus diz que Ele é seu Deus. A isto Lucas adiciona, "Por que para ele vivem todos" (Lucas 20:38) não significando que todas as coisas vivem pela presença de Deus, mas pela sua energia. Segue-se, então, que Abraão, Isaque e Jacó estão vivos. A estas passagem nós adicionamos a do Apóstolo (Romanos 14:8,9), "Se vivemos, vivemos para o Senhor, se morremos, morremos para o Senhor: se nós vivermos ou morremos, somos do Senhor. Pois para isto Cristo tanto morreu quanto se levantou novamente, para que ele fosse Senhor dos vivos e dos mortos". Que mais sólida fundação poderia haver na qual edificar nossa fé, que dizer que Cristo reina sobre os mortos? Só pode haver governo sobre pessoas que existem, o exercício do governo necessariamente implicando na existência dos sujeitos.

Testemunho também é dado contra eles no céu perante Deus e seus anjos, as almas dos mártires sob o altar, que com alta voz clamam,

"Por quanto tempo, ó Senhor, não vingarás nosso sangue naqueles que habitam a terra? E foi dado a eles compridas vestes brancas, e foi dito a eles que descansem ainda por um tempo, até que o número dos seus conservos e seus irmãos que foram mortos como eles seja completado" (Apocalipse 6:10,11).

As almas dos mortos clamam alto, e vestes brancas são dadas a eles! Ó espíritos dorminhocos! O que são vestes brancas para vocês? Seriam elas travesseiros onde vocês se deitam e dormem? Vocês vêem que vestes brancas não são tão bem adaptadas para dormir, e então, quando assim vestidos, eles devem acordar. Se isto é verdade, estas vestes brancas sem dúvidas designam o princípio da glória, que a divina generosidade concede aos mártires enquanto esperam o dia do julgamento.

Não é novidade para as Escrituras designarem glória, festividade e alegria na figura de uma veste branca. Foi em uma veste brancas que o Senhor apareceu na visão a Daniel. Neste traje o Senhor foi visto no Monte Tabor. O anjo do Senhor apareceu para a mulher no sepulcro com traje branco; e sob a mesma forma os anjos apareceram aos discípulos enquanto eles continuavam olhar para o céu depois da ascensão do seu Senhor. No mesmo, também, o anjo apareceu a Cornélio, e quando o filho gastou sua herança e retornou a seu pai, ele estava vestido com a melhor veste, como um símbolo de alegria e festividade (Daniel 7:9; Mateus 17:2, 28:3; Marcos 16:5; Atos 1:10, 10:30; Lucas 15:22).

Novamente, se as almas dos mortos clamavam alto, eles não estavam dormindo. Quando, então, esta sonolência os tomou? Que ninguém aqui insira a expressão que "o sangue de Abel clamou por vingança"! Estou perfeitamente pronto a admitir que quando sangue é derramado, é uma figura comum representá-lo como clamando alto por vingança. Nesta passagem, contudo, é certo que o sentimento dos mártires está representado por nós pelo clamor, porque seu desejo é expresso e sua petição é descrita sem qualquer figura, "Por quanto tempo, Ó Senhor, tu não vingarás?", etc. Da mesma forma, no mesmo livro João descreveu uma dupla Ressurreição assim como uma dupla morte; a saber, uma da alma antes do julgamento e outra quando o corpo se levantar, e quando a alma também será levantada para a glória. "Benditos" diz ele, "são aqueles que tem parte na primeira Ressurreição; neles a segunda morte não tem efeito" (Apocalipse 20:6). Bem, então que vocês que se negam a reconhecer aquela primeira Ressurreição fiquem com medo, sendo esta a única entrada para a glória beatífica.

Um dos golpes mais fatais ao dogma destes homens é a resposta que foi dada ao ladrão que implorou por perdão. Ele rezou, "Senhor, se lembre de mim quando você vier em seu reino" e ele ouviu a resposta, "Hoje você estará comigo no paraíso" (Lucas 22:42). Aquele que está em todo lugar, promete que ele estará presente com o ladrão. E ele promete paraíso, porque aquele que assim deleita a Deus tem completo deleite. Nem ele o adiou por uma longa série de dias. Ele o chamou para as alegrias de seu reino naquele mesmo dia! Eles se esforçam em fugir da força da expressão de nosso Salvador com um torpe detalhe. Eles dizem, "Um dia para ele é como mil anos" (2 Pedro 3:8). Mas eles não se lembram que Deus ao falar para o homem, se acomoda aos sentidos humanos. Não é dito a eles que nas Escrituras um dia é usado por mil anos. Quem daria ouvidos ao expositor que, dizendo que Deus faria algo hoje, deve imediatamente explicá-lo como significando mil anos? Quando Jonas declarou aos ninivitas,

"Quarenta dias e Nínive será destruída" (Jonas 3:4),

poderiam eles ter esperado seguramente pelo julgamento futuro, já que não seria infligido até quarenta mil anos terem passado? Não foi neste sentido que Pedro disse, que nas vistas de Deus, mil anos são como um dia; mas quando alguns falsos profetas contam dias e horas com o propósito de carregar Deus com falsidades em não cumprir suas promessas, o momento que eles desejam isto, ele os lembra que com Deus está a eternidade, comparada com ela mil anos são um simples momento.

Se sentido embaraçados completamente, eles mantém que nas Escrituras "Hoje" significa a duração do Novo, e "Ontem" a duração do Velho Testamento! Para este significado eles torcem a passagem (Hebreus 13:8), "Jesus Cristo, ontem, hoje, o mesmo para sempre". Aqui eles estão totalmente errados. Pois, se ele fosse somente Ontem, não sendo então antes do começo do Velho Testamento, ele poderia em um tempo ter começado a ser! Onde então estará Jesus, o Deus eterno, em respeito à humanidade, mesmo o primogênito de toda criatura e o Cordeiro morto desde a fundação do mundo? (Colossenses 1:15; Apocalipse 13:8). Novamente, se Hoje significa o tempo o tempo que se estende entre a encarnação de Cristo e o dia do julgamento, nós mantemos que o paraíso será desfrutado pelo ladrão antes do período que eles dizem que as almas serão acordadas do sono! Assim, então, eles serão forçados a confessar que a promessa dada ao ladrão foi cumprida antes do julgamento, apesar deles aom mesmo tempo insistirem que não será cumprido até depois do julgamento. Mas se eles confinarem a expressão ao tempo que se segue o julgamento, por que o autor da epístola adiciona "para sempre"? E para fazer sua escuridão visível, se Cristo se referia naquela promessa ao período do julgamento, ele não deveria ter dito "Hoje", mas uma era futura; assim como Isaías, quando desejou expressar o mistério da Ressurreição, chamou Cristo de "o Pai da era futura" (Isaías 9:6).

Mas já que o Apóstolo usou a expressão "Ontem, hoje e sempre" para o que estamos acostumados a expressar por "Era, é e será" - os três tempos sendo para nós equivalente à eternidade - o que mais eles fazem através de suas ninharias do que perverter o significado do Apóstolo? Que o termo Ontem é usado para compreender uma duração eterna pode ser aprendido de forma distinta do Profeta, que escreve (Isaías 30:33), "Tofete tem sido ordenada para os iníquos desde o tempo de ontem", enquanto nós sabemos das palavras de Cristo que fogo tem sido preparado desde a eternidade para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41). Todos aqueles que possuem algum discernimento ou uma mente sã, aqui verão que eles não possuem meios pelos quais eles podem esquivar da verdade assim manifesta. Ainda, contudo, eles continuam a criar sofismas dizendo que o paraíso foi prometido ao ladrão naquele dia, assim como a morte foi denunciada aos nossos primeiros pais no dia em que eles provassem da árvore do bem e do mal. Se fôssemos admitir isto, nós ainda poderíamos forçá-los a admitir que o ladrão naquele dia foi restaurado da miséria que Adão caiu naquele dia que ele transgrediu a lei que tinha sido estabelecida para ele. Além do mais, quando eu for discutir sobre a morte, eu devo deixar bem claro, se não estou errado, como nossos parentes morreram no dia em que se rebelaram contra Deus.

Deixe-me agora direcionar meu discurso àqueles que com pura consciência, lembrando das promessas de Deus, as aceitam. Irmãos, que nenhum homem lhes roubem esta fé, apesar de todos os portões do inferno resistirem, já que vocês tem a garantia de Deus, que não pode negar esta verdade! Não há a mínima obscuridade em sua linguagem à Igreja, enquanto ainda uma peregrina na terra:

"Vocês não terão mais o sol para brilhar de dia, nem a lua para iluminar vocês pelo seu brilho, pois o Senhor será sua luz eterna" (Isaías 60:19).

Aqui se eles, segundo seu costume padrão, nos referirem à última ressurreição, será fácil refutar o absurdo de expressões individuais do capítulo, onde o Senhor em um tempo promete o seu Messias, e em outro promete admitir os Gentios na aliança, etc. Que nos lembremos sempre do que o Espírito tem ensinado pela boca de Davi (Salmos 92:13), "O justo florescerá como uma palmeira, ele será multiplicado como o cedro do Líbano. Aqueles que foram plantados na casa do Senhor irão florescer nos átrios de nosso Deus, eles irão brotar ainda em idade avançada, serão gordos e florescerão".

Não sejam alarmados porque se pensa que todos os poderes da natureza falham no exato momento que vocês escutam sobre uma idade avançada que brota e floresce. Reflitam consigo mesmos nestas coisas, deixem suas almas, em unissom com a de Deavi, exclamar (Salmos 103:5), "Ó minha alma, abençôe a Deus, que satisfez minha boca com o bem: sua juventudo será renovada como a da águia". Deixe o resto para o Senhor, que guarda nossa entrada e nossa saída deste tempo em diante mesmo para sempre. Ele é quem envia a primeira e a última chuva sobre seus eleitos. Tem sido dito dele para nós, "Nosso Deus é o Deus da salvação" e "ao Senhor nosso Deus pertendem as coisas da morte". Cristo expõe esta bondade do Pai para nós quando ele diz, "Pai, com respeito àqueles que tu tens me dado, eu quero que onde eu estiver eles também possam estar, para que eles possam ver minha glória que tu tens me dado" (Salmos 121:8; Joel 2:23; Salmos 68:20; João 17:24).

A fé assim sustentada por todas as profecias, verdade evangélica e o prórpio Cristo nos mantenha firmes - a fé que nosso espírito é a imagem de Deus, igual a quem ela vive, entende e é eterna. Enquanto ela está no corpo ela exerce seu próprio poder; mas quando ela se liberta desta prisão-casa ela retorna a Deus, em cuja presença, ela se deleita enquanto descança na esperança de uma abençoada Ressurreição. Este descanso é seu paraíso. Por outro lado, o espírito do réprobo, enquanto espera pelo terror do julgamento, é torturado por aquela antecipação, que o Apóstolo por esta razão chama de φοβεράν (terrível). Investigar além disto é mergulhar no abismo dos mistérios divinos. É suficiente ter aprendido o que o Espírito, nosso melhor Professor, considerou suficiente de nos ter ensinado. Suas palavras são,

"Escutem-me, e suas almas viverão" (Isaías 4:8).

Quão sabiamente, em oposição à vaidade e arrogância daqueles homens, foi dito, "As almas dos justos estão nas mãos de Deus, e as angústias da morte não os tocarão. Para os olhos dos tolos eles parecem morrer, mas eles estão em paz", etc. Este é o fim de nossa sabedoria, a qual, enquanto é sóbria e sujeita a Deus, ao mesmo tempo sabe que aqueles que aspiram algo mais alto somente procuram uma queda.

Examinemos agora o berço onde eles acalentam as almas adormecidas, e vamos dispor do gole soporífero que eles dão a elas para beber. Eles trazem consigo algumas passagens das Escrituras que parecem favorecer aquele sono, e então, como se o fato de dormir fosse claramente provado, fulminam contra aqueles que não aprovam intantaneamente ao seu erro. Eles insistem, primeiro, que Deus não infundiu no homem outra alma que não seja aquela que é comum aos brutos; pois as Escrituras atribuem a mesma "alma vivente" para todos eles; como é dito,

"Deus criou as grandes baleias e toda alma vivente" (Gênesis 2:21).

Novamente,

"A cada uma de toda carne que tem o fôlego de vida" (Gênesis 7:15),

e outras coisas do mesmo tipo. E é dito que mesmo que as Escrituras Sagradas não fazem menção deste tema em outro lugar, nós somos lembrados de forma distinta pelo Apóstolo (1 Coríntios 15:42), que aquela alma vivente difere não a respeito da presente vida que o corpo vegeta, quando ele diz, "É semeado em corrupção, será levantado em incorrupção; é semeado em fraqueza, será levantado em poder; é semeado um animal, será levantado um corpo espiritual; como está escrito, o primeiro Adão era feito uma alma vivente, o último Adão um espírito vivificante".

Eu admito que uma alma vivente é repetidamente atribuída aos brutos, porque eles, também, tem sua própria vida; mas eles vivem segundo uma forma, o homem segundo outra. O homem tem uma alma vivente pela qual ele sabe e entende; eles tem uma alma vivente que dá a seus corpos sentido e movimento. Vendo, então, que a alma do homem possui razão, intelecto e vontade - qualidades que não são anexadas ao corpo - não é maravilhoso que ela sobreviva sem o corpo e não pereça como os brutos, que não possuem nada mais do que seus sentidos corporais. Daí Paulo não ficou envergonhado de adotar a expressão de um poeta pagão, e nos chamar de geração de Deus (Atos 17:28). Que eles então, se quizerem, façam uma alma vivente comum ao homem e aos brutos, já que conquanto se diz respeito ao corpo eles todos possuem a mesma vida, mas que não empreguem isto como um argumento para confundir a alma do homem com a dos brutos.

Nem que eles imponham para mim a expressão do Apóstolo, que é mais comigo do que contra mim. Ele diz,

"O primeiro Adão era uma alma vivente, o último Adão um espírito vivificante" (1 Coríntios 15:45).

Sua resposta aqui corresponde à questão daqueles que não podiam ser persuadidos da Ressurreição. Eles objetavam, como os mortos se levantarão novamente? Com qual corpo eles virão? O Apóstolo, para confrontar esta objeção, assim endereçou a eles: Se nós aprendemos pela experiência que a semente, que vive, cresce e dá frutos, anteriormente morreu, por que não o corpo, depois que ele morreu, se levanta novamente como uma semente? E se o grão seco e exposto, depois que morreu, produz crescimento mais abundante por uma extraordinária virtude que Deus implantou nela, por que não o corpo, pelo mesmo poder divino, ser levantado melhor que ele morreu? E que vocês não se espantem com isto: Como é que o homem vive, senão só porque ele foi formado como uma alma vivente? Esta alma, contudo, apesar de por um tempo atua e sutenta a massa corporal, não comunica a ele imortalidade ou incorrupção, e enquanto mesmo manifesta sua própria energia; não é suficiente por si mesma, sem o auxílio de comida, bebida, sono, que são sinais da corrupção; nem ela o mantém em um estado uniforme e constante sem estar sujeito a vários tipos de inclinações. Mas quando Cristo nos receber em sua própria glória, não só o corpo animal será vivificado pela alma, mas será feito espiritual de uma forma que nossa mente não pode compreender nem nossa língua expressar (Veja Tertuliano e Agostinho, Ep. 3, para Fortunato). Vocês vejam, então, que na Ressurreição nós não seremos uma coisa diferente, mas uma pessoa diferente (perdoem a expressão). Estas coisas foram ditas do corpo, que a alma ministra vida sob os elementos deste mundo; mas quando o modelo deste mundo tiver passado, a participação na glória de Deus irá exaltá-lo acima da natureza.

Agora temos o significado genuíno da expressão do Apóstolo. Agostinho, tendo errado ao expô-lo, assim como aqueles homens agora fazem, depois reconheceu seu erro, e o inseriu entre suas Retratações. Em outro lugar ele trata de todo o tema com a maior distinção (Retrat., c. 10, Ep. 146, Consentio). Eu farei algumas transcrições: "A alma de fato vive em um corpo animal, mas não o vivifica a tal ponto de retirar a corrupção; mas quando, em um corpo espiritual, dedicando-se perfeitamente ao Senhor, um espírito é formado, ela assim o vivifica fazendo-o um corpo espiritual, consumindo toda corrupção, temendo nenhuma separação". Em resumo, se eu concedesse a eles tudo o que eles questionam a respeito de uma alma vivente (em cuja expressão, como eu já disse, não acho muito), ainda aquele alicerce da imagem de Deus sempre se mantém a salvo, mesmo que eles a chamem de "alma" ou "espírito", ou dêem a ela outro nome.

Não é mais difícil refutar a objeção deles tirada de Ezequiel 37:9, onde o Profeta, fazendo um tipo de Ressurreição supositória, chama um espírito dos quatro ventos para soprar nos ossos secos. Disto eles se acham capacitados a inferir que a alma humana não é nada mais do que o poder e faculdade de movimento sem substância - um poder e faculdade que pode se tornar imperceptível na morte, e será novamente reunido na Ressurreição. Como se eu não pudesse da mesma forma inferir que o Espírito de Deus é ou vento ou movimento imperceptível, vendo que o próprio Ezequiel, em sua primeira visão, usa o "vento" como sendo o eterno Espírito de Deus! Mas para qualquer homem não completamente estúpido é fácil dar a solução, apesar deste bom povo, por estupidez ou ignorância, não a observa. Em ambas passagens nós vemos exemplos do que sempre e presentemente ocorre nos Profetas, que figuram coisas espirituais muito altas para os sentidos humanos em símbolos corpóreos e visíveis. Da mesma forma, quando Ezequiel desejou dar uma distinta e, como se ela fosse, corporal representação do Espírito de Deus e o espírito do homem - uma coisa completamente impossível a respeito de uma natureza espiritual - ele tomou emprestado uma similaridade a objetos corporais para servir como um tipo de imagem.

Sua segunda objeção é, que a alma, apesar de dotada de imortalidade, caiu em pecado, e assim afundou e destruiu sua imortalidade. Este foi o punimento apontado pelo pecado como denunciado por nossos primeiros pais - "Morrendo vocês deverão morrer" (Gênesis 2:17). E Paulo diz, "O salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23). E o profeta exclama que "A alma que pecar, esta morrerá" (Ezequiel 18:4). Eles citam outras passagens similares. Mas eu pergunto, primeiro, se o mesmo salário do pecado não foi pago ao demônio? E ainda sua morte não foi tal que o prevenisse de estar sempre acordado, indo atrás daqueles que ele pode devorar e trabalhando nos filhos da desobediência. Eu pergunto, segundo, se há ou não algum fim para aquela morte? Se não, como nós devemos certamente reconhecer, então, apesar de mortos, eles devem ainda sentir o fogo eterno e o verme que não morre. Estas coisas manifestam que a imortalidade da alma, que nós declaramos, e a qual nós dizemos consiste em uma percepção do bem e mal, existe mesmo quando se está morto e que aquela morte é algo mais do que a aniquilação à qual eles a reduzem.

Nem são as Escrituras silenciosas neste ponto, se eles pudessem trazer suas mentes para submeter suas próprias visões às Escrituras, ao invés de afirmar arrogantemente o que seja que suas mentes obscuras e sonolentas possam ditar. Quando Deus pronunciou esta sentença contra o homem como um pecador, "Tu és pó e ao pó retornarás", ele disse mais que aquele que foi tirado da terra retornará à terra? Para onde então vai a alma? Ela desce para a tumba, para a podridão e corrupção? Estes pontos serão considerados mais completamente logo. Mas agora, por que eles se preocupam com ninharias? Nós temos ouvido que aquele que é da terra retornará para a terra. Por que nós mergulhamos o espírito do homem sob a terra? Ele não diz que o homem irá retornar para a terra, senão que aquele que é pó retornará para o pó. Mas pó é aquilo que foi formado do barro. Ele retornará para o pó, mas não o espírito, que Deus derivoude outro quarto, e deu ao homem. Da mesma forma, nós lemos no livro de Jó,

"Se lembre como tu tens me feito do barro e me reduzirá ao pó" (Jó 10:9).

Isto é dito do corpo. Um pouco depois ele diz,

"Vida e perdão tu tens me dado, e tua visitação tem preservado meu espírito" (Jó 10:12).

Aquela vida, então, não deveria retornar ao pó.

A morte da alma é muito diferente. É o julgamento de Deus, o peso do qual a alma infame não pode suportar sem ser completamente confundida, esmagada e desesperada, como tanto as Escrituras nos ensinam e a experiência tem ensinado aqueles a quem Deus uma vez atinge com seus terrores. A começar com Adão, que primeiro recebeu o salário fatal, o que nós achamos que seus sentimentos foram quando ele ouviu a terrível pergunta, "Adão, onde estás?" É mais fácil imaginá-lo do que expressá-lo, apesar da imaginação poder cair bem longe da realidade. Como a sublime majestade de Deus não pode ser expressa em palavras, nem também sua terrível ira sobre aqueles em quem Ele a inflige pode ser expressa. Eles vêem o poder do Todo-Poderoso realmente presente: para escapar dele, eles devem se mergulhar em mil abismos; mas não poderão escapar. Quem não confessaria que esta é a própria morte? Aqui eu novamente digo que não tinham nenhuma necessidade de palavras aqueles que sentiram os aguilhões da consciência; e que aqueles que nunca os tenham sentido apenas ouçam as Escrituras, nas quais "nosso Deus" é descrito como "um fogo consumidor", e como matando quando Ele fala em julgamento. Eles sabiam tanto que Ele era assim, que disseram (Êxodo 20:19; Deuteronômio 18:16), "Que o Senhor não fale conosco, senão morreremos!".

Vocês saberiam o que seria a morte da alma? É estar sem Deus - ser abandonado por Deus, e deixado por conta própria: pois se Deus é sua vida, ela perde sua vida quando ela perde a presença de Deus. Aquilo que foi dito em geral pode ser mostrado em partes particulares. Se sem Deus, não há raios para iluminar nossa noite, certamente a alma, enterrada em sua própria escuridão, está cega. Ela também está muda, não sendo capaz de confessar para salvação o que ela acreditava para justiça. Ela está surda, não ouvindo aquela voz vivificante. Ela é fraca, não, incapaz de suportar a si mesma, tendo ninguém a quem ela pode dizer, "Tu tens segurado minha mão direita, e me conduzido em tua vontade". Em resumo, ela não executa nenhuma função de vida. Pois assim diz o Profeta, quando ele deveria mostrar que a fonte de vida está com Deus (Baruque 3:14) - "Aprenda onde há prudência, onde há virtude, onde há entendimento, onde há largura de vida e comida, onde há luz para os olhos e paz".

O que mais vocês requerem para a morte? Mas, para não parar aqui, consideremos conosco o que a vida de Cristo tem trazido para nós e então nós entenderemos o que a morte é do que ele nos tem redimido. Somos ensinados sobre ambos pelo Apóstolo, quando ele diz,

"Acordem, vocês que dormem, e levantem dos mortos, e Cristo os dará luz" (Efésios 5:14).

Aqui não são corpos que ele endereça, mas aqueles que, envolvidos em pecado, carregam morte e inferno com eles. Novamente,

"Vocês, quando estavam mortos em pecados, ele vivificou juntamente com Cristo, perdoando todas suas transgressões" (Efésios 2:1).

Da mesma forma, como o Apóstolo diz, que "nós morremos para o pecado" quando a concupiscência é extinta em nós, assim também nós morremos para Deus quando nós nos tornamos sujeitos à concupiscência vivendo em nós (Colossenses 2:13; Romanos 6:2). Não, (para compreender em uma palavra o que ele diz da viúva vivendo em prazer), "enquanto vivos estamos mortos", em outras palavras, nós somos imortais em respeito à morte (1 Timóteo 5:6). Pois apesar de mente reter seu poder de percepção, a concupiscência maligna ainda é, como se fosse, um tipo de adormecimento mental.

Então, Cristo experimentou tal morte que a alma suporta por nossa conta; pois tudo que as profecias prometeram a respeito de sua vitória sobre a morte ele executou através de sua morte. Os profetas declararam, "Ele vencerá a morte para sempre". Novamente, "Eu serei sua morte, ó morte! Seu devorador, ó inferno!" (Isaías 15:8; Oséias 13:14). Os Apóstolos proclamaram o cumprimento destas coisas, "Ele de fato destruiu a morte e iluminou a vida pelo evangelho (Colossenses 2). E novamente,

"Se, pelo erro de um, a morte reinou por um, muito mais deverão aqueles que receberam a exuberância da graça reinar através da vida em Cristo" (Romanos 5:17).

Que eles resistam, se puderem, a estas passagens, que não são muito mais palavras do que raios de luz!

Quando eles dizem, o que nós de fato admitimos, que a morte é de Adão - morte, contudo, não como eles inventam, mas tal qual nós temos ultimamente mostrado ser aplicável à alma - nós, de outro lado, dizemos que a vida é de Cristo, e isto eles não podem negar. Toda controvérsia se volta em uma comparação entre Adão e Cristo. Eles devem necessariamente conceder ao Apóstolo não somente que tudo que caiu em Adão é renovado em Cristo mas enquanto o poder da graça era mais forte que aquele do pecado, tão mais Cristo tem sido mais poderoso em restaurar que Adão em destruir: pois ele distintamente declara que a dádiva não é como o pecado, mas é muito mais exuberante, não de fato por incluir um maior número de indivíduos, mas por conceder bênçãos mais ricas naqueles que ela inclui. Que digam, se eles quiserem, que ela foi exuberante, não por dar mais abundante vida, mas por eliminar muitos pecados, vendo que o pecado de Adão nos mergulhou na ruína. Eu não peço mais nada.

Novamente, quando ele diz em outro lugar que "o aguilhão da morte é o pecado" (1 Coríntios 15:56), como poderia a morte ainda nos aguilhoar, se seus aguilhões foram enfraquecidos, não, destruídos? O escopo completo de vários capítulos na epístola aos Romanos é fazer manifesto que o pecado foi completamente abolido de tal forma que não tem mais domínio sobre os crentes. Então, se a força do pecado é a lei, o que mais eles fazem, quando eles matam aqueles que vivem em Cristo, do que subjugá-los à maldição da lei que eles foram libertados? Disto o Apóstolo confiantemente declara (Romanos 8:1) que "não há agora condenação àqueles que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito". Naqueles que o Apóstolo assim liberta de todas as condenações, eles pronunciam a mais severa de todas as sentenças, "Morrendo, vocês morrerão!" Onde está a graça, se a morte ainda reina entre os eleitos de Deus? Pecado, como o Apóstolo diz, de fato reinou até a morte, mas a graça reina até a vida eterna, e, vencendo o pecado, não deixa lugar para a morte. Então, como a morte reinou entrando por Adão, assim agora a vida reina por Jesus. E nós sabemos que

"Cristo, sendo levantado dos mortos, não morre mais: morte não terá mais domínio sobre ele: pois quanto a ter morrido, ele morreu uma vez para o pecado; mas quanto ao que ele vive, ele vive para Deus" (Romanos 6:9).

Aqui nós podemos ver como eles mesmos dão à sua heresia seu golpe fatal! Quando eles dizem que "a morte é a punição pelo pecado", eles ao mesmo tempo implicam que o homem, se não tivesse caído, teria sido imortal. O que ele começou a ser, ele uma vez não era; e o que ele é por punição ele não é por natureza. Então o Apóstolo exclama que o pecado é absolvido pela graça, assim que ele não tem mais poder sobre o eleito de Deus; e daí nós concluímos que o eleito agora é igual a Adão antes de seu pecado; e como ele foi criado como inextinguível, agora se tornaram assim, aqueles que foram renovados por Cristo para uma natureza melhor. Não há nada diferente disto na declaração do Apóstolo (1 Coríntios 15:54), "A palavra será cumprida (fiet): a morte foi tragada na vitória", já que nenhum homem pode negar que o termo fiet (deve ser feito) é o sinônimo de implebitur (deve ser cumprido). Se cumprirá no corpo aquilo que agora começou na alma; ou melhor, aquilo que só começou na alma será cumprido tanto na alma e no corpo: pois esta morte comum que todos sofrerão, como se isto fosse por uma necessidade comum da natureza, é mais para o eleito um tipo de passagem para o mais alto grau de imortalidade, do que um mal ou uma punição, e como Agostinho diz (De Discrimine Vitae Human. et Brut., c. 43), é nada mais que a queda da carne, que não consome as coisas ligadas a ela, mas as divide, vendo ela restaura cada um ao seu original.

Seu terceiro argumento é que aqueles que morreram são em muitos lugares referidos como dormindo, como no caso de Estevão, "Ele caiu no sono no Senhor"; novamente, "Nosso Lázaro dorme"; novamente, "Não estejais ansiosos sobre aqueles que dormem" (Atos 7:60; João 11:11; 1 Tessalonicenses 4:13). O mesmo acontece frequentemente nos livros dos Reis, que há raramente uma expressão que seja mais familiar. Mas a passagem onde eles mais ativamente insistem é tirada do livro de Jó:

"Uma árvore tem esperança: se ela é cortada ela cresce novamente, e seus galhos brotarão, etc.; mas quando o home morre e se deita e é consumido, onde está ele? Como quando as águas se retiram do mar, e o canal vazio se torna seco, assim o homem fica quando ele dorme, não levantará nem será acordado de seu sono até os céus serem esmagados" (Jó 14:7-12).

Mas se você mantém que as almas dormem porque a morte é chamada de sono, então a alma de Cristo deve ter sido presa com o mesmo sono: pois assim Davi fala em seu nome (Salmos 3:6), "Eu me deitei e dormi; Eu levantei, por que o Senhor me sustentou". E ele ouve seus inimigos em insulto exclamar (Salmos 41:9), "Aquele que dorme irá se levantar novamente?" Mas se, como se tivesse sido mais completamente discutido, nada tão desprezível e odioso poderia ser imaginado em respeito à alma de Cristo, nenhum homem pode duvidar que as Escrituras referiram-se meramente à composição externa do corpo, e a descreveu como sono da aparência do homem. As duas expressões são usadas indiscriminadamente, "ele dormiu com os pais", "ele se deitou com seus pais" - apesar de nenhuma alma humana se deitar com a alma de seus pais quando seu corpo é carregado para sua sepultura. Neste mesmo sentido, eu acho que este sono é atribuído aos reis ímpios, no livro de Reis e Crônicas.

Quando você ouve que o homem ímpio dorme, você pensa em um sono de sua alma? Ela não poderia ter um pior carrasco para atormentá-la do que uma má consciência. Como poderia ter sono no meio de tal angústia? Os ímpios são como o mar tempestuoso que não pode descansar, e cujas ondas lançam lama e sujeira.

"Não há paz para o ímpio, diz o Senhor" (Isaías 57:21).

E ainda quando Davi desejou descrever a dor mais amarga da consciência, ele diz, (Salmos 13:4) "Ilumina meus olhos, para que eu não durma o sono da morte". As mandíbulas da morte se abrem para engolí-lo, o poder do pecado o sacode e ainda ele dorme, não dorme só porque ele sofre assim! Aqui também nós devemos enviar de volta aos seus rudimentos aqueles que não aprenderam ainda que por sinédoque o todo é algumas vezes tomado por uma parte, e algumas vezes uma parte por um todo - uma figura que ocorre constantemente nas Escrituras. Eu não desejo que o fato seja tomado como minha palavra, mas eu irei produzir passagens para prová-lo. Quando Jó diz,

"Eis que eu agora durmo no pó, e se vocês me buscam na manhã eu não subsistirei" (Jó 7:21),

ele pensou que sua alma seria subjugada com sono? Sua alma não foi jogada ao pó, e então não foi dormir no pó. Quando ele disse em outra passagem,

"E ainda eles irão dormir no pó, e os vermes os cobrirão" (Jó 21:26),

e quando Davi disse,

"Como os feridos dormindo nas suas tumbas" (Salmos 88:6),

você acha que eles colocam as almas embaixo perante os vermes para serem consumidos por eles?

Da mesma forma o Profeta, quando descreve a futura destruição de Nabucodonosor, diz,

"Toda a terra descansou e está silenciosa, as faias também e os cedros do Líbano se alegram sobre ti; do tempo que tu caíste no sono, ninguém mais veio para nos cortar" (Isaías 14:7,8).

Um pouco depois ele diz,

"Todos os reis das nações dormiram em glória, cada homem em seu lugar, mas tu tens sido lançado da sepultura" (Isaías 14:18, 19).

Todas estas coisas foram ditas de um corpo morto, "dormindo" sendo usado como equivalente a deitar ou ser estendido, como dorminhocos fazem quando se estendem no chão. Este modo de expressão poderia ser ensinado a nós por escritores profanos, um dos quais disse, "Uma vez que nossa pequena luz for estabelecida, uma noite eterna deve ser dormida"; e outro, "Tolo, o que é dormir?" e novamente, "Que os ossos de Naso se deitem gentilmente". Estas expressões são usadas por escritores que possuem várias ficções monstruosas a respeito de regiões inferiores, e descrevem os muitos e vários sentimentos pelos quais as sombras da morte são intencionadas, daí o próprio nome dado pelos antigos aos lugares destinados para sepultura ser κοιμητηριον ("cemitério" ou "local de descanso"). Eles não imaginam que almas mortas estavam então deitadas para descansar, mas falavam apenas do corpo. Eu presumo que agora eu tenha suficientemente liquidado com a névoa na qual eles envolvem seu "Sono da Alma", por provar que em nenhum lugar das Escrituras o termo dormir é aplicado à alma, quando é usado para designar morte. Nós temos discursado completamente em outro lugar sobre o "Descanso da Alma".

O quarto argumento que eles nos constrange, como seu mais poderoso aríete de ataque, é a passagem na qual Salomão assim escreve em seu Eclesiastes (Eclesiastes 3:18-21), "Eu disse em meu coração dos filhos dos homens que Deus provaria eles para mostrar que eles eram como os brutos. Pois como o homem morre, assim também eles morrem. Da mesma forma todas as coisas respiram, e o homem não tem mais do que um animal de carga. Todas as coisas são sujeitas à vaidade, e se apressam para um lugar. Da terra foram feitos, e para terra eles igualmente voltarão. Quem sabe se o espírito dos filhos de Adão sobem, e os espíritos das bestas descem?"

E se o próprio Salomão aqui respondê-los com uma palavra? "Vaidade de vaidades, disse o Pregador, vaidade de vaidades, e tudo é vaidade!" Pois o que mais ele visa do que mostrar o vão sentido do homem, e a incerteza de todas as coisas? O homem vê que ele morre como os brutos, que ele tem vida e morte em comum com eles; e ele então infere que sua condição está em igualdade com a deles: e como nada resta com eles depois da morte, assim ele não faz nada ficar com ele próprio. Esta é a mente do homem, esta é sua razão, este é seu intelecto!

"Pois o homem animal não recebe as coisas do Espírito; elas são tolices para ele, nem ele pode entendê-las" (1 Coríntios 2:14).

O homem olha com os olhos da carne e observa a presente morte, e a única reflexão que ele faz é que todas as coisas brotam da terra, e igualmente retornam para a terra; enquanto isto, ele não considera a alma. E este é o significado da cláusula adicionada, "Quem sabe se o espírito dos filhos de Adão sobe?" Pois se a alma é considerada, a natureza humana, completamente contraída em si mesma, não compreende nada distintamente ou claramente pelo estudo, meditação e raciocínio.

Então, quando Salomão mostra a vaidade do sentido humano, da consideração, que ao examinar a mente, ela flutua e fica em suspense, ele de nenhuma forma aprova seus erros, mas nobremente suporta nossa fé. Aquilo que excede a capacidade e pequena medida da mente humana, a sabedoria de Deus explica, nos assegurando que os espíritos dos filhos de Adão sobem. Eu trarei uma passagem parecida do mesmo escritor com o propósito de alguma forma dobrar seu obstinado pescoço.

"O homem não entende nem a ira nem o amor de Deus para com os homens, mas todas as coisas são mantidas incertas, porque todas as coisas acontecem igualmente para os justos e os réprobos, o bem e o mal, para o que sacrifica e para o que não sacrifica" (Eclesiastes 9:1).

Se todas as coisas são mantidas incertas a respeito do futuro, deveria o crente, para quem todas as coisas trabalham juntamente para o bem, considerar aflição como uma evidência o ódio divino? De forma alguma. Pois foi dito para os crentes, "No mundo vocês terão tribulação - em mim, consolação". Suportados por esta consideração, eles não somente suportam o que for que acontecer a eles com magnanimidade inabalável, mas mesmo glória em tribulação, concordando com o abençoado Jó, "Ainda que ele nos mate, nós esperaremos nele" (Jó 13:15).

Como, então, todas as coisas são mantidas incertas a respeito do futuro? Isto é dito apenas humanamente. Mas cada homem vivo é vaidade. Ele adiciona,

"A pior coisa que eu tenho visto debaixo do sol é que as mesmas coisas acontecem a todos; daí os corações dos filhos dos homens estão cheios de malícia e desprezo em suas vidas, e depois são levados para as regiões baixas. Não há nenhum homem que pode viver para sempre, ou tem expectativa de tal coisa. Um cão vivo é melhor que um leão morto. Pois os vivos sabem que irão morrer, mas os mortos não sabem mais de nada. Nem possuem eles mais alguma recompensa; pois sua memória foi entregue ao esquecimento", etc. (Eclesiastes 9:3-5).

Ele não fala assim da grande estupidez daqueles que vêem somente o que é realmente presente, esperando nem pela Vida Futura nem pela Ressurreição? Pois mesmo se fosse verdade que nós não somos nada depois da morte, ainda resta a Ressurreição; e, se eles fixassem suas esperanças nisto, eles nem sentiriam desprezo por Deus, nem seriam preenchidos por todo tipo de perversidade, para não mencionar outras coisas. Concluamos então com Salomão que todas estas coisas estão acima do alcance da razão humana. Mas se nós quisermos ter alguma certeza, corramos para a lei e o testemunho, onde estão a verdade e os caminhos do Senhor. Eles declaram para nós -

"Até que o pó volte para a terra de onde veio, e o espírito volte para Deus que o deu" (Eclesiastes 12:7).

Que ninguém, então, que tenha ouvido a palavra do Senhor, tenha alguma dúvida que os espíritos dos filhos de Adão sobem. Por "subir" naquela passagem, eu entendo simplesmente subsistindo e retendo imortalidade, assim como "descer" parece para mim falhar, decair, se tornar perdido.

Seu quinto argumento eles vociferam com tanto barulho, que poderia levantar aqueles que dormem seu sono mais profundo. Eles colocam sua grande esperança de vitória nele, e quando eles evitam falar de outras matérias para seus neófitos, colocam a maior dependência nele como meio de balançar a fé deles e vencer seu bom senso. Há um julgamento, dizem eles, que irá levar a todas suas recompensas - aos piedosos, glória - aos ímpios, o fogo do inferno. Nenhuma bênção ou miséria é fixada antes daquele dia. Isto as Escrituras uniformemente declaram -

"Ele enviará seus anjos com um trompete e uma alta voz, e eles ajuntarão seus eleitos dos quatro ventos, das alturas do céu até as suas extremidades" (Mateus 24:31).

Novamente,

"No fim do mundo, o Filho do homem irá enviar seus anjos, e eles irão retirar de seu reino tudo que ofende, e aqueles que cometem iniquidade, e irão enviá-los para a fornalha de fogo. Então os justos irão brilhar como o sol no reino de seu Pai" (Mateus 13:41).

Novamente,

"Então o Rei dirá para aqueles que estão à sua mão direita, venham, abençoado de meu Pai, herdem o reino preparado para vocês desde a fundação do mundo". "Apartem-se de mim, vocês amaldiçoados, para o fogo eterno". "E eles deverão partir, os últimos para a punição e os primeiros para a vida eterna" (Mateus 25:34).

Da mesma forma é a passagem em Daniel 12,

"E naquele tempo seu povo será salvo, todos aqueles cujos nomes forem encontrados escritos no livro".

Eles perguntam, se todas estas coisas foram escritas sobre o dia do julgamento, como os eleitos serão chamados para a possessão do reino celestial, se eles já o possuem? Como poderia se dizer a eles para vir, se eles já estão lá? Como será então o povo salvo se eles já estão salvos agora? Para que crentes, que até mesmo agora andam em fé, não esperam qualquer outro dia de salvação, como Paulo diz (2 Coríntios 4:14),

"Sabendo que aquele que levantou Jesus dos mortos também nos levantará com Jesus".

E em outro lugar, "Esperando pela revelação de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos confirmará mesmo no fim, contra o dia de sua vinda", etc.

Mas mesmo se nós concedermos todas estas coisas para eles, por que eles fazem sua própria adição sobre "dormir"? Pois em todas estas e outras passagens similares, eles não podem produzir uma sílaba a respeito de dormir. Apesar de eles estarem acordados, eles podem estar sem glória. Para que, já que parte de um homem sem sentido, para não dizer presunçoso, decidir peremptoriamente, sem qualquer autoridade das Escrituras, sobre pontos que não dizem respeito ao sentido humano, com qual apoio aqueles novos e inchados dogmáticos procedem para manter um sono do qual eles não ouviram nada dos lábios do nosso Senhor? Todas as pessoas com sentido e sobriedade podem daí ver que um sonho que não pode ser provado pela clara palavra de Deus é uma ficção perversa. Mas que nós tomemos as passagens em ordem, para que os mais simples não se movam quando ouvirem que a salvação das almas é adiada para o dia do julgamento.

Primeiro, nós desejamos que fosse mantido como um ponto comum, como já explicamos, que nossas bênçãos estão sempre em progresso até aquele dia que deverá terminar com todo o progresso, e assim a glória do eleito e completa consumação da esperança olham para aquele dia para seu cumprimento. Pois é admitido por todos que perfeição ou bênção ou glória não existe em lugar nenhum exceto em perfeita união com Deus. Quanto mais perto todos nós nos movemos, quanto mais perto nós nos apressamos, mais perto todas as Escrituras e as promessas divinas nos enviam. Pois aquilo que uma vez foi dito a Abraão também se aplica a nós (Gênesis 15:1) "Abraão, eu sou teu grandíssimo galardão". Vendo, então, que o galardão apontado para todos que tem parte com Abraão é de possuir Deus e alegrá-lo, e que, além e acima disto, não é lícito desejar qualquer outra coisa, para lá que nossos olhos devem se voltar quando a matéria de nossa expectativa é considerada. Até aqui, se não me engano, nossos oponentes estão de acordo conosco. Por outro lado, eu espero que eles concedam que aquele reino, para o qual somos chamados para possessão, e que em outro lugar é denominado de "salvação" e "recompensa" e "glória", é nada mais que aquela união com Deus pela qual eles estão completamente em Deus, eles são preenchidos por Deus, por sua vez eles se aderem a Deus, completamente o possuem - em resumo, são "um com Deus". Pois assim, enquanto eles estiverem na fonte de toda a perfeição, eles alcançam o último objetivo da justiça, sabedoria e glória, estes sendo as bênçãos das quais o reino de glória se constitui. Pois Paulo anuncia que o reino de Deus está em sua mais alta perfeição quando "Deus é tudo em todos" (1 Coríntios 15:28). Depois daquele dia, somente Deus será tudo em todos, e completamente preencherá seus fiéis, é chamado, não sem razão, "o dia de nossa salvação", antes do qual nossa salvação não está aperfeiçoada em todas suas partes. Para aqueles que Deus preenche, são preenchidos com riquezas que nem os ouvidos podem ouvir, olhos ver ou língua dizer, nem imaginação conceber.

Se estes dois pontos estão acima de controvérsias, nossos hipnólogos (mantenedores do sono) se esforçam em vão em provar que os santos servos de Deus, ao partir desta vida, não entram ainda no reino de Deus, por ser dito "vir", "herdar o reino" e outros mais. Pois é fácil para nós responder que não significa que não há reino porque não há um perfeito; pelo contrário, nós mantemos que aquilo que já se iniciou será então aperfeiçoado. Isto eu só quero ser concedido para mim quando eu deixar claro por argumentos certos das Escrituras.

Aquele dia é chamado "o reino de Deus", porque ele sujeitará então os poderes adversos, matar Satanás pelo fôlego de sua boca e destruí-lo pelo brilho de sua vinda, enquanto que ele mesmo habitará e reinará completamente em seu eleito (1 Coríntios 15:24; 2 Tessalonicenses 2:8). O próprio Deus não poderá reinar de forma diferente que tem reinado do princípio. De sua majestade não pode haver aumento ou diminuição. Mas é chamado "Seu reino" porque será manifesto a todos. Quando nós oramos para que seu reino venha, imaginamos que ele anteriormente não existia? E quando ele será? "O reino de Deus está em vós" (Lucas 17:21). Deus, então, agora reina em seus eleitos a quem Ele guia pelo Seu Espírito. Ele reina também em oposição ao diabo, pecado e morte, quando Ele ordena a luz, pela qual erro e falsidade são confundidos, para brilhar no escuro e quando ele proíbe os poderes da escuridão de machucarem aqueles que têm a marca do Cordeiro em suas testas. Ele reina, eu digo, mesmo agora, quando nós oramos para que seu reino possa vir. Ele reina, de fato, enquanto Ele faz milagres em seus servos, e dá a lei para Satanás. Mas seu reino virá propriamente quando ele for completado. E ele será completado quando ele manifestar claramente a glória de sua majestade a seus eleitos para salvação, e aos réprobos para confusão.

E o que mais deve ser dito ou crido dos eleitos, cujo reino e glória é para ser no glorioso reino de Deus, e como se fosse reinar com Deus e glória nele - em resumo, ser compartilhadores da glória divina? Este reino, apesar de se dizer que ainda vem, pode ainda ser em certa medida visto. Pois aqueles que de certa forma possuem o reino de Deus dentro deles, e reinam com Deus, começam a estar no reino de Deus; os portões do inferno não podem prevalecer contra eles. Eles são justificados em Deus, sendo dito deles,

"No Senhor será toda a semente de Israel justificada e louvada" (Isaías 45:25).

Aquele reino completamente consiste na edificação da Igreja, ou o progresso dos crentes, que, descrito para nós por Paulo (Efésios 4:13), cresce, através de todos os diferentes estágios da vida, até um "homem perfeito".

Estes bons povos vêem o princípio deste reino - vêem o crescimento. Assim que estes desaparecem dos olhos deles, eles não dão lugar à fé, e são incapazes de crer no que os olhos da carne pararam de ver. Muito diferente é a conduta do Apóstolo! Ele diz,

"Vocês estão mortos, e sua vida é escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, sua vida, aparecer, então vocês também aparecerão com ele em glória" (Colossenses 3:4).

Ele de fato atribui a nós uma vida escondida com Cristo nossa Cabeça ao lado de Deus; ele atrasa a glória para o dia da glória de Cristo, que, como Cabeça da Igreja, trará seus membros com ele. A mesma coisa é expressa por João, apesar de ser por termos diferentes:

"Amados, agora somos filhos de Deus; mas ainda não apareceu o que deveremos ser: mas sabemos que quando ele aparecer, seremos como ele, já que o veremos como ele é" (1 João 3:2).

Ele não diz que enquanto, por algum período de tempo, nós seremos nada; mas, vendo que somos filhos de Deus, que esperam pela herança do Pai, ele conserva e mantém nossa expectativa, até o dia em que a glória de Cristo seja manifesta em todos, e sejamos glorificados nele. Aqui, novamente, nós não temos culpa de nos espantar que, quando eles escutam "filhos de Deus", eles não retornam a uma mente sã, e percebem que esta é uma geração imortal que é de Deus, e pela qual somos participantes de uma imortalidade divina.

Que eles clamem o quanto quiser, que eles não são chamados os abençoados de Deus antes do dia do julgamento, e que não antes dele a salvação é prometida ao povo de Deus. Eu respondo que Cristo é nossa Cabeça, cujo reino e glória ainda não apareceram: se os membros precedem, a ordem é pervertida e absurda. Nós devemos seguir nosso Príncipe quando ele vier na glória de seu Pai, e sentar no trono de sua majestade. Enquanto isto há vida em tudo dentro de nós que é de Deus - ou seja, nosso espírito, porque Cristo, nossa vida, vive. Pois seria absurdo dizer que nós perecemos, enquanto nossa viva está viva! Esta vida está tanto ao lado de Deus como em Deus, e é abençoada porque está em Deus. Todas estas coisas são auto-evidentes, e de acordo com a verdade. Por que não se diz daqueles que morreram no Senhor que ainda não são salvos, ou não possuem o reino de Deus? Por que eles esperam por aquilo que eles ainda não têm, e não alcançaram o auge de sua felicidade. Por que eles estão, não obstante, felizes? Por que eles tanto percebem que Deus é propício a eles, e vêem sua recompensa futura à distância, e descansam na esperança certa de uma abençoada Ressurreição. Enquanto nós habitarmos esta prisão de barro, nós esperamos pelo que não vemos, e contra esperança cremos na esperança, como o Apóstolo diz de Abraão (Romanos 4:18). Mas quando os olhos de nossa mente, agora inertes por estar enterrados na carne, lançarão esta inércia, nós veremos o que esperamos, e nos deleitaremos naquele descanso. Não tememos dizer assim, segundo o Apóstolo, que diz reciprocamente, que um olhar terrível para o julgamento aguarda os réprobos (Hebreus 10:27). Se isto é chamado "terrível", o outro certamente pode ser chamado de forma justa de "alegre" e "abençoado".

Já que é mais meu propósito instruir do que esmagar meus oponentes, que eles me dêem ouvidos por um instante, enquanto nós extraímos a realidade da figura do Velho Testamento, e não sem autoridade. Como Paulo, ao falar da passagem dos Israelitas através do Mar Vermelho, alegoricamente representa o afogamento do faraó como o modo de libertação pela água (1 Coríntios 10:1), assim podemos ser permitidos a dizer que no batismo nosso faraó é afogado, nosso velho homem é crucificado, nossos membros são mortificados, nós somos enterrados com Cristo, e removidos do cativeiro do demônio e o poder da morte, mas removidos somente para o deserto, uma terra árida e pobre, a menos que o Senhor faça chover maná do céu, e fazer água jorrar da rocha. Pois nossa alma, como aquela terra sem água, está em necessidade de todas as coisas, até que Ele, pela graça de seu Espírito Santo, faça chover sobre ela. Nós depois disto passamos para a terra prometida, sob a orientação de Josué o filho de Nun, em uma terra cheia de leite e mel; ou seja, a graça de Deus nos liberta do corpo da morte, pelo nosso Senhor Jesus Cristo, não sem suor e sangue, já que a carne é então a mais repugnante, e mostra sua máxima força em rivalizar contra o Espírito. Depois de tomarmos nossa residência na terra, nós nos alimentamos abundantemente. Vestes brancas e descanso são dados para nós. Mas Jerusalém, a capital e trono do reino, ainda não foi erigida; nem ainda Salomão, o Príncipe da Paz, segura o cetro e reina sobre tudo.

As almas dos santos, então, que escaparam das mãos dos inimigos, estão depois da morte em paz. Eles são amplamente supridos com todas as coisas, pois é dito deles, "Eles irão de abundância em abundância". Mas quando a Jerusalém celestial se levantar em sua glória, e Cristo, o verdadeiro Salomão, o Príncipe da Paz, se sentar em seu tribunal, os verdadeiros israelitas irão reinar com seu Rei. Ou - se você escolher pegar emprestada uma semelhança com as coisas dos homens - nós estamos lutando com o inimigo, enquanto nós tivermos nossa disputa com a carne e sangue; nós conquistamos o inimigo quando nós nos despirmos do corpo do pecado, e nos tornamos totalmente de Deus; nós celebraremos nosso triunfo, e nos deleitaremos dos frutos da vitória, quando nossa cabeça se levantar sobre a morte em brilho, ou seja, quando a morte for derrotada na vitória. Este é nosso alvo, este é nosso objetivo; e disto tem sido escrito,

"Eu estarei satisfeito quando eu acordar observando sua glória" (Salmos 17:15).

Estas coisas podem ser facilmente aprendidas pelas Escrituras, por todos aqueles que aprenderam a ouvir Deus e escutar atentamente a sua voz.

As mesmas coisas têm sido passadas para nós através da tradição, daqueles que manusearam cautelosamente e reverentemente os mistérios de Deus. Pois escritores antigos, enquanto declaravam que as almas estão de fato no paraíso e no céu, não hesitaram em dizer que eles ainda não tinham recebido sua glória e recompensa. Tertuliano diz, (Lib. de Resurrect. Carnis,) "Tanto a recompensa quanto o risco dependem do evento da Ressurreição". E ainda ele ensina, sem nenhuma ambiguidade, que "antes daquele evento as almas estão com Deus e vivem em Deus". Em outro lugar ele diz, "Por que não compreendemos que por seio de Abraão se quer dizer um receptáculo temporário de almas fiéis, onde a imagem da fé é delineada, e uma clara visão de ambos os julgamentos exibida?" As palavras de Ireneu (Lib. 9, adv. Haeres.) são, "Já que nosso Senhor partiu no meio da sombra da morte, para o lugar onde as almas dos mortos estavam, depois disto se levantou novamente de forma corporal, e depois de sua Ressurreição foi levado, é manifesto tanto que as almas de seus discípulos, em respeito das quais o Senhor fez estas coisas, partirão para o local invisível designado para eles pelo Senhor, quanto ficam ali até a Ressurreição, esperando pela Ressurreição; depois disto recuperando seus corpos, e se levantando novamente de forma perfeita, ou seja, corporalmente, como o Senhor também se levantou, eles virão para a presença de Deus. ‘Pois o discípulo não está acima de seu Mestre,'" etc.

Crisóstomo diz, (Hom. 28, in 11 ad Hebr.,) "Entendam o que e quão grande coisa é para Abraão se sentar e o Apóstolo Paulo, quando for aperfeiçoado, que eles possam então ser capazes de receber sua recompensa. A menos que nós cheguemos ali o Pai nos disse de antemão que ele não daria a recompensa, como um bom pai que ama seus filhos diz para prováveis filhos e aqueles terminando seu trabalho, que ele não dará comida até que os outros irmãos voltem. Você está ansioso porque você ainda não recebeu? O que então Abel fará, que outrora conquistou e ainda se senta sem uma coroa? O que fará Noé? O que os outros daqueles tempos farão? Veja, eles esperaram e ainda esperam por outros que vieram depois deles". Um pouco depois ele diz, "Eles foram antes de nós para a disputa, mas eles não estarão diante de nós no coroamento; pois há apenas um tempo de coroação para todas as coroas".

Agostinho, em muitas passagens, descreve os receptáculos secretos onde as almas dos justos são mantidas até que elas recebam a coroa e a glória, enquanto neste tempo os réprobos sofrem punição, aguardando a medida precisa ser fixada pelo julgamento (De Civitate, Lib. 12 c. 9; Lib. 13 c. 8, et alibi). E em uma epístola para Jerônimo ele diz, "A alma depois da morte do corpo terá descanso, e irá finalmente receber o corpo na glória". Bernardo, abertamente tratando desta questão em dois sermões entregues na Festa de Todos os Santos, ensina que "as almas dos santos, despidas de seus corpos, ainda estão nas cortes do Senhor, admitidas para descansar, mas ainda não para a glória. Para aquela mais abençoada residência", diz ele, "eles não entrarão sem nós nem sem seus próprios corpos", ou seja, nem santos sem outros crentes, nem espíritos sem carne: e muitas outras coisas com o mesmo propósito.

Aqueles que os colocam no céu, contanto que não atribuam a eles a glória da Ressurreição, não diferem desta visão. Este mesmo Agostinho, em outro lugar, aparentemente faz assim (De Ecclesiastes Dogmat). Pois enquanto é certo que os maus demônios são agora atormentados (como Pedro afirma, 2 Pedro 2), ainda aquele fogo que o réprobo será lançado no dia do julgamento, é dito aqui ser preparado para o diabo (Judas). Ambas as coisas são expressas quando é dito que eles são "reservados em correntes eternas contra o julgamento do grande dia" - "reservados" aqui sugerindo a punição que eles realmente suportam. E o próprio Agostinho explica em outra passagem (em Salmos 36), onde ele diz, "Seguramente seu último dia não pode ser muito distante. Prepare-se para ele. Assim como você parte desta vida, assim você será restaurado para aquela vida. Depois daquela vida você não estará instantaneamente onde os santos estarão, para quem é dito ‘Venham, benditos de meu Pai, herdem o reino que foi preparado para vocês desde a fundação do mundo'. Que vocês não estarão ainda ali todo mundo sabe; mas vocês deverão estar onde o orgulhoso e avarento homem rico no meio dos seus tormentos viu o pobre mendigo, que outrora estivera coberto com chagas, descansando à distância. Colocado naquele descanso você irá aguardar seguro contra o dia do julgamento, quando você irá recuperar seu corpo, quando você será transformado e ficará igual aos anjos".

Também não faço objeção à ilustração que ele dá em outro lugar, (De Quantitat. Animae,) contanto que uma interpretação sã e moderada seja dada a ela, a saber, que "há vários estados da alma, primeiro, animação; segundo, sentido; terceiro, arte; quarto, virtude; quinto, tranquilidade; sexto, entrada; sétimo, contemplação: ou, se você preferir escolher, primeiro, do corpo; segundo, para o corpo; terceiro, sobre o corpo; quarto, para si mesma; quinto, em si mesma; sexto, a Deus, sétimo, com Deus". Eu tenho sido induzido a citar estas palavras do sagrado escritor, antes, para mostrar o que seus pontos de vista são, do que com a idéia de ligar qualquer um, ou até mesmo eu, a adotar estas distinções. Mesmo o próprio Agostinho, eu penso, não queria isto, mas tinha desejo, apesar da forma mais clara possível, de explicar o progresso da alma: mostrando como ela não alcança sua perfeição final até o dia do julgamento. Além do mais, me ocorre que aqueles que insistem demais neste dia de julgamento podem por meio dele serem convencidos de seus erros. Pois no Credo, que é o Compêndio de nossa Fé, nós confessamos a Ressurreição, não da alma, mas do corpo. Não há espaço para o sofisma que por "corpo" se quer dizer todo o homem. Nós admitimos que algumas vezes ele tem este significado, mas nós não podemos admiti-lo aqui, onde expressões simples e significantes são usadas, em favor dos leigos. Certamente os fariseus, fortes defensores da Ressurreição, e constantemente tendo o termo em suas bocas, na época não acreditavam que era do espírito

Ainda, contudo, eles insistem, nos mantendo em discussão, citando as palavras nas quais Paulo declara que

"nós somos de todos os homens os mais miseráveis se os mortos não se levantam" (1 Coríntios 15:19).

Qual a necessidade há na Ressurreição, eles perguntam, se nós estamos felizes antes da Ressurreição? Não, onde está a grande miséria dos Cristãos, uma miséria que ultrapassa aquela que todos os outros sofrem, se é verdade que eles estão em descanso enquanto outros são afligidos e fortemente torturados. Aqui eu devo dizer a eles que se eu tivesse algum desejo de fugir da dificuldade (algo que eles estão sempre planejando), eu teria aqui uma ampla oportunidade. Pois o que nos impede de adotar a visão tomada por alguns Expositores sensatos que entendem que as palavras foram ditas não somente da Ressurreição final, pela qual nós devemos recuperar nossos corpos da corrupção, incorruptível; mas da vida que nos resta depois que nossa vida mortal termina e é frequentemente designada nas Escrituras pelo nome de Ressurreição? Pois quando é dito que os Saduceus negavam a ressurreição, não é do corpo que se referia, mas o simples significado é que, de acordo com sua opinião, nada do homem sobrevive à morte.

Esta visão é provável pelo fato de que todas as bases nas quais o Apóstolo fundamenta sua declaração poderiam ter sido removidas por responder que a alma de fato vive, mas que o corpo, quando uma vez se deteriora em pó, não pode ser levantado. Vamos fornecer exemplos. Quando ele diz, "Aqueles que dormiram em Cristo pereceram", ele poderia ter sido refutado pelos filósofos que ativamente declaram a imortalidade da alma. Quando ele pergunta, "O que farão aqueles que se batizaram pelos mortos?" ele poderia facilmente ter sido respondido que as almas sobrevivem à morte. À questão, "Por que estamos em risco a cada hora?" a resposta poderia ter sido que nós expomos esta vida frágil pela imortalidade na qual nossa melhor parte irá sobreviver.

Agora, temos dito coisas que não haveria razão de serem ditas entre pessoas de disposição receptiva ao ensino. Pois o Apóstolo mesmo diz que somos miseráveis se nós temos esperança em Cristo somente nesta vida. Isto está claro acima de qualquer disputa, até mesmo ele sendo testemunha, que admite que seus pés quase se foram e que estes passos estavam bem perto de se mover quando ele viu pecadores se alegrando na terra. E certamente, se nós olharmos somente para o presente, nós chamaremos aqueles para quem tudo se torna um desejo de felizes. Mas se nós estendermos nossa visão mais longe, nós vemos que feliz é o povo cujo Deus é o Senhor, pois em Suas mãos estão as questões da morte.

Nós podemos aduzir algo ainda mais certo, não somente para refutar suas objeções, mas para explicar o significado genuíno do Apóstolo a estes que estão desejosos de aprender sem ser argumentador. Pois se não há Ressurreição da carne, ele por causa desta única razão justamente chama os piedosos de infelizes, porque eles suportam muitas feridas, açoites, tormentos, ofensas, em resumo, necessidades de todos os tipos em seus corpos, que eles acham ser destinados à imortalidade; vendo que eles serão desapontados em suas expectativas. Pois o que pode ser, eu não diria "mais miserável", mas até mesmo mais ridículo, que ver os corpos daqueles que vivem para o dia perdoando todos os tipos de sutilezas, enquanto os corpos dos cristãos são desgastados com fome, frio, açoites, e todos os tipos de ofensas, se os corpos de ambos igualmente perecerão! Eu poderia comparar isto pelas palavras que se seguem, "Por que estamos em perigo toda hora, eu morro diariamente através de vossa glória, irmãos", etc. "Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos". Seria melhor, ele diz, agir de acordo com a máxima, "Comamos", etc., se as afrontas que nós sofremos em nossos corpos não são compensadas por aquela glória que nós esperamos! Isto não pode ser a não ser pela Ressurreição da carne. Então, apesar disto ser entregue, eu posso aduzir outra argumento, a saber, que nós somos mais miseráveis que todos os homens se não há Ressurreição, porque, apesar de nós sermos felizes antes da Ressurreição, nós não somos felizes sem a Ressurreição. Pois nós dizemos que os espíritos dos santos são felizes no que eles descansam na esperança de uma bendita Ressurreição, o que eles não poderiam ter, se toda esta bênção perecesse. Verdade há na declaração de Paulo que nós somos mais miseráveis que todos os homens se não houver Ressurreição, e não há repugnância destas palavras ao dogma que os espíritos dos justos são benditos antes da Ressurreição, já que é por causa da Ressurreição.

Eles também trazem o que é dito na Epístola aos Hebreus a respeito dos Patriarcas (Hebreus 11:13), "Todos estes morreram na fé, não tendo recebido as promessas, mas vendo-as à distância, porque eles foram estranhos e peregrinos na terra. Pois aqueles que assim dizem assim mostram que eles procuram uma pátria. E, de fato, se lembrassem da pátria de onde vieram, eles teriam a oportunidade de retornar, mas agora eles desejam uma melhor, que é a pátria celestial". Aqui nossos oponentes argumentam como se segue: Se eles desejam uma pátria celestial, eles não a possuem ainda. Nós, pelo contrário argumentamos que se eles desejam, eles devem existir, pois não pode haver desejo sem um sujeito onde ele reside. E, como eu tento forçar deles apenas, deve haver um senso de bem e mal onde há desejo que ou segue o que carrega uma aparência de bem, ou mostra que aquilo aparece mal. Aquele desejo, dizem eles, subsiste em Deus, nada pode ser imaginado mais ridículo do que isto. Pois uma das duas coisas deve-se seguir - ou que Deus deseja algo melhor que ele tem ou que há algo em Deus que não pertence a Deus. Esta circunstância me faz supor que eles estão meramente brincando com um assunto sério.

Para omitir isto, o que se quer dizer por "o poder de retornar"? Que eles então, retornem a uma mente sã e ouçam algo melhor que eles têm adotado; se, de fato, eles estão realmente persuadidos daquilo que eles professam com seus lábios. O Apóstolo está falando de Abraão e sua posteridade que vive em uma terra estrangeira entre estranhos; não só exilados, mas certamente hóspedes, mal abrigando seus corpos ao viver em pobres cabanas, em obediência ao comando de Deus dado a Abraão, que ele deveria deixar sua terra e sua família. Deus prometeu a eles o que ele ainda não tinha exibido. Então eles confiaram nas promessas distantes e morreram na firme crença que as promessas de Deus um dia seriam cumpridas. De acordo com esta crença, eles confessaram que eles não tinham residência fixa na terra, e que além da terra havia uma pátria pela qual eles ansiavam, a saber, o céu. No fim do capítulo ele anuncia que todos aqueles que ele enumerou não obtiveram a promessa final, que eles não poderiam ser aperfeiçoados sem nós. Se eles tivessem se atentado para o significado peculiar desta expressão, eles nunca teriam exercitado tantos distúrbios. É estranho como eles podem ser cegos com tanta luz; mas ainda mais estranho que eles nos dêem pães ao invés de pedras - em outras palavras, suportam nossa visão enquanto buscam vencê-la!

Eles acham que recebem um grande suporte do que é dito nos Atos dos Apóstolos sobre Tabita, que, quando uma discípula de Cristo, estava cheia de esmolas e boas obras, foi levantada dos mortos por Pedro (Atos 9:40). Eles dizem que uma injustiça foi feita a Tabita, se nós estivermos corretos em manter que a alma, quando liberta do corpo, vive com Deus e em Deus, já que ela foi trazida de volta da sociedade de Deus e uma vida de bênçãos para este mundo maligno. Como se a mesma coisa não pudesse ser rebatida para eles! Pois se ela dormia, ou era nada, ainda que ela tivesse morrido no Senhor ela estava abençoada. Não foi então conveniente para ela retornar à vida que ela tinha terminado. Eles mesmos devem então primeiro desatar o nó que eles fizeram, já que é senão justo que eles obedeçam a lei que eles querem que os outros pratiquem. E ainda é fácil para nós o desatar.

Qualquer que seja a sorte que nos aguarda depois da morte, o que Paulo diz de si mesmo (Filipenses 1:23), é aplicável a todos os crentes - "para nós, morrer é ganho, e para estar com Cristo é melhor". E ainda Paulo diz para Epafrodito, que certamente estava no número dos crentes, "obteve piedade do Senhor quando estava doente e próximo da morte", ele se recuperou (Filipenses 2:27). Aqueles homens, de fato, que lidam com os mistérios de Deus com tão pouca reverência e sobriedade, deveriam interpretar esta piedade como crueldade. Nós, contudo, sentimos e admitimos que foi piedade, vendo isto como um passo do piedade divina para santificar o eleito e glorificar o santificado. O Senhor então não mostra sua piedade quando ele nos santifica mais e mais? O quê? Se a vontade de Deus é ser magnificado em nosso corpo pela vida, como Paulo diz, isto não é piedade? Certamente não é a nossa vontade estabelecer leis para as obras miraculosas de Deus; é suficiente se a glória de seu autor brilhar neles. E se dissermos que Deus não consultou as vantagens de Tabita, mas teve respeito ao pobre cuja oração a fez levantar, enquanto eles continuavam chorando e mostrando as peças de roupas que Tabita tinha o costume de costurar para eles? Paulo pensou que este modo de vida bastava a ele, apesar de ser muito melhor para ele partir para Deus. Depois de dizer que Deus teve piedade de Epafrodito, ele adiciona, "E não apenas dele, mas de mim também, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza". Vá agora e levante uma disputa contra Deus por ter devolvido a pobre mulher que era diligente em suprir suas necessidades! Pois, apesar da operação poder parecer para nós, Cristo, que morreu e se levantou novamente, para que ele possa governar sobre os vivos e os mortos, é certamente designado para ser glorificado tanto em nossa vida quanto em nossa morte.

Davi também, o melhor defensor de nossa causa, eles chamam de um defensor da causa deles, mas com tanta afronta e de uma forma tão destituída de um senso comum que alguém é envergonhado e aflito de mencionar os argumentos que eles pegam emprestado dele. Tudo, contudo, que conhecemos pessoalmente nós devemos agora honestamente declarar. Primeiro, eles se arriscam a citar as palavras (Salmos 82:6), "Eu disse, vós sois deuses, e todos vocês filhos exaltados, mas vós deveis morrer como homens", etc. E eles interpretam que crentes são de fato deuses e filhos de Deus, mas que eles morrem e caem como os réprobos, de forma que há a mesma sorte para ambos até que as ovelhas sejam separadas dos filhos. Nós damos a resposta que nós recebemos de Cristo (João 10:34), que "aqueles a quem a palavra de Deus vem são chamados de deuses", ou seja, ministros de Deus, a saber, juízes que conduzem em suas mãos a espada que eles tem recebido de Deus. Mesmo que não tivéssemos a interpretação de Cristo e o uso das Escrituras, que concorda em todo lugar, não há obscuridade na própria passagem, na qual aqueles que julgam a iniquidade e respeitam a face dos pecadores são censurados. Eles são chamados deuses, porque agem como representantes de Deus enquanto eles presidem sobre outros; mas eles são lembrados de um futuro Juiz a quem eles devem dar um relatório de suas obras. Veja um exemplo do caminho em que nossos oponentes argumentam!

Vamos prestar atenção em outra argumentação. É dito, em segundo lugar (Salmos 146:4), "Sai-lhe o espírito e retorna para sua terra. Naquele dia todos os seus pensamentos perecem". Aqui eles tomam "espírito" por vento, e dizem que o homem voltará para a terra; que não haverá nada além da terra; que todos os seus pensamentos irão perecer; considerando que se houvesse alguma vida eles iriam permanecer. Nós não somos tão sutis, mas em nossa ignorância chamamos um barco de barco e espírito de espírito! Quando este espírito parte do homem, o homem retorna para a terra de onde ele foi tomado, como nós temos completamente explicado. O que resta, então, é ver o que se quer dizer por pensamentos "perecerem". Nós somos admoestados a não colocar confiança nos homens. Confiança deve ser imortal. Seria de outra forma incerta e instável, vendo que a vida do homem passa rapidamente. Para sugerir isto, ele disse que "seus pensamentos perecem", ou seja, que o que quer que eles tenham planejado enquanto vivo é dissipado e dado ao vento. Em outro lugar ele diz, "O pecador verá e ficará nervoso; ele irá ranger seus dentes e se consumir em desgosto; o desejo do pecador irá perecer", como é dito em outro lugar, "dissipar": "O Senhor dissipa o conselho dos gentios", novamente, "Forme um esquema e ele será dissipado". A mesma coisa, na forma de uma perífrase é expressa pela bendita Virgem em sua canção, "Ele dispersou o orgulho na imaginação de seus corações" (Salmos 112:10; 32:10; Isaías 8:10; Lucas 1:51).

Uma terceira passagem que eles aduzem é (Salmos 78:39), "E ele lembrou que eles são carne, o espírito saindo e não retornando". Eles disputam aqui, como eles geralmente fazem, que "espírito" é usado por sopro. Nisto eles percebem que não somente destroem a imortalidade da alma, mas também cortam toda a esperança de Ressurreição. Pois se há uma ressurreição, o espírito certamente retorna; e se ele não retorna, não há Ressurreição! Pelo que eles deveriam aqui pelo contrário implorar perdão por sua imprudência que insistir em tal concessão sendo feita por eles. Eu disse tudo isso meramente para permitir que todos os homens vejam quão facilmente eu poderia ficar livre se meu único objetivo fosse refutar seus argumentos. Pois nós de boa vontade admitimos, de acordo com sua afirmação, que o termo sopro aqui é aplicável. Nós admitimos que homens sejam "um sopro que voa e não retorna", mas se eles torcerem isto para seus próprios pontos de vista, eles erram, não conhecendo as Escrituras, que é comum por este tipo de perífrase sugerir uma hora a fraqueza da condição humana, e em outra a brevidade da vida.

Quando Jó diz do homem (Jó 14:2), "Ele é uma flor que sai e é cortada, e foge como uma sombra", o que mais ele queria dizer que justamente o homem é passageiro, e frágil, e como uma flor murcha? Isaías novamente é ordenado a exclamar,

"Toda carne é relva, e toda a glória do homem como a flor da relva; a relva seca e a flor daí cai; mas a palavra do Senhor subsiste para sempre" (Isaías 40:6).

Que eles concluam aqui, em uma palavra, que a alma do homem murcha e se consome, e vejam um pouco mais agudamente que o tolo pescador que prova disto que todos os crentes são imortais, porque nascem novamente de uma semente incorruptível - que é, a palavra de Deus, que subsiste para sempre. As Escrituras dão o nome de "flor murcha" e "vento passageiro" àqueles que colocam sua confiança nesta vida. Tendo aqui como se tivessem fixado sua casa permanente, eles pensam que reinarão eternamente; não olhando para o final pelo qual sua condição é mudada, e eles deverão ir para outro lugar. De tais pessoas o Profeta também diz (Isaías 28:15), "Nós combinamos com a morte e fizemos um trato com o inferno". Zombando de sua esperança vã, ele não considera vida aquilo que é para eles o início da pior morte. E ele afirma que eles cessam e morrem, já que é melhor para eles não ser do que ser o que eles são.

Da mesma maneira lemos em outro Salmo,

"Assim como um pai se compadece de seu filho, assim o Senhor se compadece de todos que o temem. Pois ele conhece nossa estrutura, ele lembra que nós somos pó. E o homem é relva, seu dia é uma flor do campo, assim ele florescerá. Pois seu espírito irá sair dele, e ele não irá subsistir, e ele não mais conhece seu lugar" (Salmos 103:13-16).

Se eles afirmam destes versos que o espírito perece e desaparece, eu vou novamente prevení-los de que não abram uma porta para ateus, se há os tais, se levantarem e trabalhar para derrubar sua fé e a nossa na Ressurreição, como certamente há vários. Pois da mesma forma eles irão inferir que o espírito não retorna ao corpo, vendo que é dito que ele não mais verá seu lugar. Eles podem dizer que a inferência é errada, já que tal argumentação é clara em face das passagens relacionadas à Ressurreição; mas eu me alegro que a inferência deles também é errônea, já que o modo de argumentar é comum a ambos.

Quase parecido com este é a passagem em Eclesiástico "O número dos anos do homem, tanto quanto cem anos, tem sido contado como as gotas de água no oceano, e como a areia na praia; mas eles são poucos, comparados com toda a duração do tempo. Então Deus é paciente para com eles, e derrama sua misericórdia neles" (Eclesiástico 18:8- 10). Aqui eles devem admitir que o sentimento do profeta era bem diferente daquilo que eles sonham, e significa que o Senhor se compadece daqueles que ele conhece por sua misericórdia apenas, e que, se ele retirasse por um pouco sua mão, retornariam para o pó de onde foram tomados. Depois disto ele adiciona uma breve descrição da vida humana, comparando-a a uma flor que, apesar de florescer hoje, não será nada mais que erva morta amanhã.

Se ele tivesse pelo menos declarado que o espírito do homem perece e se torna nada, nem assim ele teria dado defesa para o erro deles. Pois quando nós dizemos que o espírito do homem é imortal, nós não afirmamos que ele pode oferecer resistência à mão de Deus, ou subsistir sem sua ação. Longe de nós tal blasfêmia! Mas nós dizemos que é sustentado por sua mão e bênçãos. Assim Ireneu, que conosco declara a imortalidade do espírito, (Irenaeus adv. Haeres. lib. 5,) nos deseja, contudo, aprender que pela natureza somos mortais, e somente Deus é imortal. E no mesmo lugar ele diz, "Não sejamos inflados e nos levantemos contra Deus, como se nós tivéssemos vida de nós mesmos; e aprendamos pela experiência que nós temos duração para a eternidade através de sua bondade, e não de nossa natureza". Nossa controvérsia inteira com Davi, então, a quem eles insistem fazer nosso oponente, é simplesmente esta - Ele diz, (Salmos 39:11), que o homem, se o Senhor retirar sua misericórdia dele, cai e perece; nós ensinamos que ele é suportado pela bondade e poder de Deus, já que ele sozinho possui imortalidade, e que qualquer que seja a vida que existe se origina dele.

Uma quarta passagem que eles produzem é,

"Minha alma está cheia com o mal, e minha vida foi arrastada para perto do inferno. Estou contado com aqueles que vão para baixo nas profundezas, como um homem sem ajudador, como o morto dormindo em suas tumbas, de quem tu não fazes mais conta, eles sendo cortados de suas mãos" (Salmos 88:4).

O quê? Eles perguntam, se eles forem cortados da energia de Deus, se eles caírem de seus cuidados e lembrança, eles não teriam cessado de existir? Como se não pudesse responder. O quê? Se eles forem cortados da energia de Deus, se eles escaparam de sua lembrança, como eles voltarão a ser? E quando a Ressurreição será? Novamente, como as coisas concordam? "As almas dos justos estão nas mãos de Deus" (Sabedoria 3:1), ou, para citar somente dos oráculos certos de Deus,

"O justo estará em eterna lembrança" (Salmos 112:6).

Eles não caíram então das mãos do Senhor, nem escaparam de sua lembrança. Não, ao invés disto, neste modo de expressão, percebamos o profundo sentimento de um homem aflito, que se queixa perante Deus que ele está completamente abandonado com os réprobos na perdição, de quem Deus diz que não conhece e tem esquecido; porque seus nomes não estão escritos no livro da vida; e que foram cortados de suas mãos, porque ele não os guia pelo seu Espírito.

A quinta passagem é (Salmos 88:10),

"Farás tu maravilhas aos mortos ou médicos os levantarão, e eles irão confessar a ti? Alguém irá narrar tua misericórdia na tumba, ou tua justiça na terra do esquecimento?"

Novamente, (Salmos 115:17),

"Os mortos não te louvarão, ó Senhor, nem todos que descem para as partes mais baixas; mas nós que vivemos abençoamos o Senhor de agora em diante, sim, para sempre".

Novamente (Salmos 30:9),

"Que utilidade há em meu sangue quando eu descer para a corrupção? O pó confessará a ti, ou anunciará a verdade?"

A estas passagens eles juntam outra de mesma importância da música de Ezequias (Isaías 38:18),

"Pois a sepultura não confessará a ti, nem os mortos te louvarão: aqueles que descem para o abismo não aguardarão por tua verdade. Os vivos, os vivos irão confessar a ti, como eu também faço hoje, o pai fará conhecida tua verdade a seus filhos".

Eles adicionam de Eclesiástico, "Dos mortos, como sendo nada, não há nada; não há confissão. A ti os vivos confessarão" (Eclesiástico 17:26).

Nós respondemos que nestas passagens o termo "morto" não é aplicado àqueles que pagaram o comum débito da natureza quando eles partem desta vida: nem é simplesmente dito que os louvores de Deus cessam na morte; mas o significado parcialmente é que ninguém cantará louvores ao Senhor salvo aqueles que sentiram sua bondade e misericórdia; e parcialmente que seu nome não é celebrado depois da morte, porque seus benefícios não são declarados ali entre os homens como na terra. Consideremos todas as passagens, e lidemos com elas em ordem, de forma que nós possamos dar a cada uma seu significado apropriado. Primeiro, aprendamos isto bastante, que apesar de que a dissolução da vida presente é repetidamente representada, e pela região inferior (infernus), a cova, ainda que não seja incomum para as Escrituras empregar estes termos para a ira e retirada do poder de Deus; assim que pessoas são ditas morrer e descer para as regiões inferiores, ou habitar nas regiões inferiores, quando elas estão alienadas de Deus, ou prostadas pelo julgamento de Deus, ou esmagadas por suas mãos. A própria região inferior (infernus ipse) pode significar, não a cova, mas o abismo e confusão. E este significado, que ocorre através de todas as Escrituras, é mais familiar nos Salmos: "Que a morte venha sobre eles, e que vão vivos para o abismo" (infernum). Novamente, "Ó meu Deus, não se silencie, para que eu não me torne como aqueles que vão para o abismo" (lacum). Novamente, "Ó, Senhor, tu tens trazido minha alma das regiões inferiores (inferno), e me salvado de ir para o abismo" (lacum). Novamente, "Que os pecadores se voltem para o infernus, e todas as nações que se esquecem de Deus". Novamente, "Se o Senhor não tivesse me ajudado, minha alma quase moraria no infernus". Novamente, "Nossos ossos foram espalhados pelo infernus". Novamente, "Ele me colocou nos lugares sombrios, como o morto do mundo". (Salmos 28:1; Salmos 53:15; Salmos 30:4; Salmos 9:18; Salmos 14:7; Salmos 143:3).

No Novo Testamento, onde os Evangelistas usam o termo ᾄδης, o tradutor o traduziu por infernus. Assim, é dito do homem rico, "Quando ele estava no inferno" (infernus), etc. (Lucas 16:23). Novamente, "E tu, Carfanaum, deve ser exaltada até o ceu? Verdadeiramente eu dito para vocês, vocês descerão até mesmo para o inferno" (infernus) (Mateus 11:23). Nestes lugares ele significa não tanto a localidade como a condição daqueles a quem Deus tem condenado e sentenciado à destruição. E esta é a confissão que nós fazemos no Credo, a saber que Cristo "desceu ao inferno" (in inferos), em outras palavras, que Ele foi sujeitado pelo Pai, por nossa causa, por todas as dores de morte; que ele suportou todas suas agonias e terrores, e foi verdadeiramente aflito, sendo previamente dito que "ele foi enterrado".

Por outro lado, se diz que aqueles que o Senhor visita em benevolência viverão, e estão prestes a viver: "Pois lá o Senhor tem comandado as bênçãos e vida até mesmo para sempre". Novamente, "Que ele possa livrar suas almas da morte, e os alimentar na penúria". Novamente, "O Senhor irá arrancá-los de seu tabernáculo e sua raiz da terra dos vivos". Novamente, "Eu agradarei o Senhor na região dos vivos" (Salmos 133:3; Salmos 33:19; Salmos 52:7; Salmos 56:14).

Para concluir, que uma passagem nos seja suficiente, que mostra tão graficamente ambas as condições como explica completamente seu próprio significado, sem nós falarmos uma palavra: Está no Salmo 49, "Aqueles que confiam em muita força e se gloriam na multidão das riquezas. O irmão não redime, o homem redimirá? Não dará ele sua própria expiação a Deus, e o preço da redenção por sua alma, e trabalhar para sempre, e ainda viver até mesmo até o fim? Ele não verá a morte, quando ele deverá ver o sábio morrer? Os ignorantes e os tolos irão perecer juntos. Como ovelhas eles tem sido são postos na sepultura (infernus). Morte se alimentará deles; e o justo irá reinar sobre eles na manhã, e o auxílio irá perecer na sepultura (infernus) de sua glória. Mas Deus irá redimir minha alma das mãos do inferno (infernus), quando Ele irá me receber". O resumo é que aqueles que confiam em suas riquezas e poder irão morrer e descer ao infernus; o rico e o pobre, o tolo e o sábio, irão perecer juntos: aquele que espera no Senhor será liberto do poder do inferno (infernus).

Eu mantenho que estes nomes "morte" e "inferno" (Mors et Infernus), não podem ter outro significado nos versos dos Salmos que eles impõe a nós, nem naquela música de Ezequias; e eu mantenho que isto pode ser provado por claros argumentos: pois nos versos, "Farás maravilhas para os mortos?" etc., e "Que vantagem há em meu sangue?" etc., tanto Cristo, o cabeça dos crentes, como a Igreja, seu corpo, falam, evitando e depreciando a morte como algo horrível e detestável. Isto também é feito por Ezequias em sua música. Por que eles tremem tanto pelo nome da morte, se eles sentem Deus ser misericordioso e gracioso a eles? É por que eles não são mais nada? Mas eles escaparão deste mundo turbulento, e ao invés de tentações e inquietudes prejudiciais, terão o maior tranquilidade e bendito descanso. E como eles não serão nada, eles não sentirão mal algum, e serão despertos no tempo apropriado para a glória, que não é adiada pela sua morte nem apressada pela sua vida. Que nos voltemos para os exemplos dos outros santos, e ver como eles se sentiram sobre o tema. Quando Noé morreu, ele não deplorou sua sorte infeliz. Abraão não lamentou. Jacó, mesmo durante seu último suspiro, rejubilou-se em aguardar pela salvação do Senhor. Jó não derramou nenhuma lágrima. Moisés, quando informado pelo Senhor que sua última hora estava próxima, não se agitou. Todos, até onde podemos ver, abraçaram a morte com mente decidida. As palavras nas quais os santos respondem a chamada do Senhor uniformemente são, "Aqui estou, Senhor!"

Deve haver então algo que compele Cristo e seus seguidores a tais queixas. Não há dúvidas que Cristo, quando se ofereceu em nosso lugar, contendeu com o poder do diabo, com os tormentos do inferno e as dores da morte. Todas estas coisas foram feitas em nossa natureza, para que elas pudessem perder o direito que elas tinham sobre nós. Nesta contenda então, quando Ele estava satisfazendo o rigor e a severidade da justiça Divina, quando ele se engajou com o inferno, morte e o diabo, ele rogou o Pai para não abandoná-lo em tais dificuldades, não entregá-lo ao poder da morte, pedindo nada mais do Pai que nossas fraquezas, que ele carregou em seu próprio corpo, pudessem ser libertadas do poder do diabo e da morte. A fé na qual nós agora nos apoiamos é que a penalidade do pecado cometida em nossa natureza, e que foi paga na mesma natureza, para satisfazer a justiça Divina, foi paga e cumprida na carne de Cristo, que era nossa. Cristo então não depreciou a morte, mas sim aquele penoso sentido de severidade de Deus com que, para nosso bem, ele foi capturado pela morte. Você saberia de que sentimento sua exclamação procedeu? Eu não posso expressá-lo melhor que ele mesmo fez, de outra forma, quando ele exclamou, "Pai, Pai, por que me abandonaste?"

Aqueles então que estão mortos e enterrados, e são levados para a terra do esquecimento, Ele chama "abandonados por Deus". Neste sentido os santos, ensinados pelo Espírito de Deus, não usam estas expressões para evitar a morte, quando vindo ao chamado de Deus, mas para depreciar o julgamento, ira e severidade de Deus, com a qual eles se sentem capturados por meios da morte. Que isto não possa parecer uma invenção minha, eu pergunto se um crente poderia chamar uma simples e natural morte "a ira e terror de Deus"? Eu não acho que eles seriam tão desavergonhados de afirmar isto. Mas na mesma passagem o Profeta assim interpreta aquela morte (Salmos 88:7), "Tua ira, ó Deus, veio sobre mim, e os terrores da morte me perturbam". E ele adiciona muitas outras coisas aplicáveis à ira Divina. Em outra passagem (Salmos 30:6), as palavras são, "Já que há força (momentum) em sua indignação, e vida em seu favor". Mas eu exorto meus leitores a recorrerem ao volume sagrado, que dos dois Salmos inteiros e a Canção eles possam se satisfazer. Assim não haverá falsa interpretação, e eu estou certo da concordância daqueles que lêem com julgamento.

Nós concluímos então que nestas passagens "morte" é equivalente a um sentimento de ira e julgamento de Deus, e sendo perturbado e alarmado por este sentimento. Assim, Ezequias, quando viu que ele estava deixando seu reino exposto ao insulto e devastação do inimigo, e não deixando descendência da qual a esperança dos gentios pudesse descender, ficou cheio de ansiedade, por estes sinais de um irado e punidor Deus, não pelo terror da morte, que ele depois venceria sem qualquer reprovação. No todo, eu concordo que a morte em si mesma é um mal, quando é a maldição e a penalidade do pecado, e é tanto cheia de terror e desolação, dirigindo ao desespero aqueles que sentem que é infligida neles por um irado e punidor Deus. A única coisa que pode moderar a amargura de suas agonias é saber que Deus é nosso Pai, e que nós temos Cristo como nosso líder e companheiro. Aqueles destituídos deste alívio consideram a morte como confusão e perdição eterna, e então não podem honrar Deus em suas mortes.

O verso, "Os mortos não te louvarão", etc., conclui os louvores do povo, quando dá graças a Deus por ter sido protegido por Suas mãos do perigo. Seu significado é que se o Senhor tivesse permitido que nós fôssemos oprimidos, e cair no poder do inimigo, eles teriam insultado Seu Nome, e se gabariam de ter vencido o Deus de Israel; mas agora, quando o Senhor repeliu e esmagou seu orgulhoso espírito, quando ele nos tem livrado da crueldade deles com mão forte e braço erguido, os Gentios não podem perguntar, "Onde está o Deus deles?" Ele se mostrou ser verdadeiramente o Deus vivo! Nem pode haver qualquer dúvida sobre sua misericórdia, que ele exibiu de forma tão maravilhosa. E aqui são chamados "mortos" e "amaldiçoados de Deus" aqueles que não sentiram sua ação e bondade para com eles, como se ele tivesse abandonado seu povo à cobiça e ferocidade dos descrentes.

Este ponto de vista é claramente confirmado por uma declaração que ocorre no livro de Baruque, ou pelo menos no livro que leva seu nome, - "Abra teus olhos e veja: pois não os mortos que estão no inferno (infernus) cujo espírito tem sido dividido de seus intestinos, irão atribuir glória e justiça a Deus; mas a alma que, triste pela magnitude do mal, anda curvada e fraca, e os olhos falhos e a alma faminta dará glória" (Baruque 2:17). Aqui nós induvidavelmente vemos que sob o nome de "mortos" estão incluídos aqueles que, aflitos e esmagados por Deus, foram para a destruição; e que a alma triste, curvada e fraca é a que, falhando em sua própria força, e não tendo confiança em si mesma, corre para o Senhor, o chama e dele espera assistência. Qualquer um que considerar todas estas coisas como prosopopéia, encontrará um método fácil de explicá-los. Substituindo coisas por pessoas, e morte por mortos, o significado será que o Senhor não obtém louvores por misericórdia e bondade quando ele aflige, destrói e pune (apesar da punição ser justa), mas então só cria um povo para si mesmo, que canta e celebra os louvores de sua bondade, quando ele livra e restaura as esperanças daqueles que foram aflitos, feridos e em desespero. Mas para que eles não possam sofismar e alegar que nós estamos recorrendo a alegoria e interpretações figuradas, eu adiciono que as palavras podem ser tomadas sem uma figura.

Eu disse que eles agem erroneamente em concluir, destas passagens, que os santos depois da morte desistem dos louvores de Deus, e que "louvores" pelo contrário significa fazer menção da bondade de Deus, e proclamar seus benefícios entre os outros. As palavras não somente admitem, mas necessariamente requerem este significado. Para anunciar, narrar e fazer conhecido, como um pai a seus filhos, não é meramente ter uma concepção mental da glória Divina, mas celebrá-la com os lábios para que outros possam ouvir. Se eles adicionarem aqui que eles possuem o poder de fazer a mesma coisa, se (como nós cremos) eles estão com Deus no paraíso, eu respondo que estar no paraíso e viver com Deus não é falar um com o outro, e um ser ouvido pelo outro, mas é simplesmente desfrutar de Deus, sentir sua boa vontade e descansar nele. Se algum Morfeu revelou isto a eles em um sonho, que eles mantenham esta certeza para si mesmos! Eu não tomarei parte naquelas tortuosas questões, que apenas promovem discussões e ministra não para a piedade. O tema de Eclesiastes não é mostrar que as almas dos mortos morrem, mas enquanto ele nos exorta cedo e como nós temos a oportunidade de confessar a Deus, ele ao mesmo tempo ensina que não há tempo de confessar depois da morte; ou seja, que não há então tempo para arrependimento. Se algum deles ainda perguntar, o que é que se tornarão os filhos da perdição? Isto não é da nossa conta. Eu respondo a respeito dos crentes,

"Eles não morrerão, mas viverão, e mostrarão as obras do Senhor". "Aqueles que habitam em Sua casa irão louvá-lo para sempre" (Salmos 118:17; Salmos 84:5).

A sexta passagem que eles aduzem é (Salmos 144:2), "Eu irei louvar o Senhor em minha vida; eu cantarei para meu Deus enquanto eu existir". Nisto eles argumentam que se ele vai louvar o Senhor em vida, e enquanto ele tiver existência, ele não irá louvá-lo depois da vida, e quando ele não tiver existência! Já que eu acho que eles falam assim de mera brincadeira e divertimento, eu os levarei em seu próprio humor. Quando Aeneas de Virgílio prometeu gratidão à sua anfitriã enquanto permanecer memória, quer dizer que ele subentendeu que ele um dia perderia sua memória? Quando ele disse, "Enquanto a vida animar estes membros", ele não achou que ele seria grato, mesmo entre os Manes, naquelas planícies fabulosas? Longe de nós permitirmos que eles torçam a passagem, de forma a caírem na heresia de Helvídio! Agora falarei seriamente. Para que eles não finjam que eu não igual por igual, eu irei retribuir cinco vezes:

"Meu Deus, eu confessarei a ti para sempre", "Eu abençoarei o Senhor todos os tempos; seu louvor estará sempre em minha boca", "Eu confessarei a ti para sempre, pois tu fizeste isto", "Eu louvarei teu nome para todo sempre", "Assim cantarei louvores em teu nome para sempre, que eu possa diariamente cumprir meus votos" (Salmos 30:12; Salmos 34:1; Salmos 52:9; Salmos 145:1; Salmos 111:8).

Eles ultimamente clamam que Davi é seu amigo! Percebem eles agora quão ativamente ele os critica? Terminando então com argumentos que foram formados de passagens ou fragmentos deturpados!

Sua sétima passagem é,

"Poupa-me até que eu tome alento, antes que eu me vá e não seja mais". (Salmos 39:13).

A esta eles adicionam a passagem de Jó,

"Deixa-me para que eu possa por um pouco de tempo lamentar meu sofrimento, antes que eu vá e não retorne; para a terra de escuridão, uma terra armada com a sombra da morte, uma terra de miséria e escuridão, onde há a sombra da morte e nenhuma ordem, e onde o horror eterno habita" (Jó 10:20).

Tudo isto é irrelevante. As palavras são cheias de sentimento e ansiedade de consciência, verdadeiramente expressando e, como se fosse, graficamente mostrando o sentimento daqueles que cativados pelo terror do julgamento Divino, não são mais capazes de suportar a mão de Deus. E eles oram, que se eles merecem ser rejeitados por Deus, que eles possam pelo menos ser permitidos a se livrar um pouco da ira de Deus, pela qual eles estão agitados, e aquilo sob extremo desespero. Nem é estranho que os sagrados servos de Deus são trazidos para isto, pois o Senhor mortifica e os vivifica, os leva para as regiões inferiores e os traz de volta. A expressão "não seja" é equivalente a ser alienado de Deus. Pois se Ele é o único ser que verdadeiramente é, aqueles que não estão nele verdadeiramente não são; porque eles são perpetuamente rejeitados e expulsos de sua presença. Então eu não vejo porque o modo de expressão deveria ser tão ofensivo a eles, quando não se diz que eles estão absolutamente mortos, mas mortos apenas com referência aos homens. Pois eles não estão mais com os homens, nem na presença de homens, mas somente com Deus. Assim (para explicar em uma palavra) "não seja" não é existir visualmente, como expressado na passagem de Jeremias, "Uma voz foi ouvida em Ramá, Raquel chorando por seus filhos, e não será consolada, pois eles não existem" (Jeremias 31:15; Mateus 2:18).

Consideremos agora o resto das passagens tiradas da história de Jó. Nós falamos de algumas de passagem quando ocorriam. A primeira é (Jó 3:11-19),

"Por que não morri no útero? Por que não morri em meu nascimento? Por que fui pego no joelho e levado ao peito? Pois agora, dormindo, eu estaria silencioso e descansando em meu sono com os reis e governantes da terra que construíram desertos para si mesmos, ou com príncipes que possuem ouro e enchem suas casas com prata, ou como um aborto oculto não existiria, mas sendo como aqueles que foram concebidos e nunca viram a luz. Lá os maus cessam de perturbar e os presos descansam; e aqueles uma vez amarrados seriam livres do incômodo, não teriam ouvido a voz do opressor. O pequeno e o grande estão ali e o escravo é livre de seu mestre".

E se eu replicasse com o décimo quarto capítulo de Isaías, onde "os mortos" são descritos como vindo de suas tumbas e indo se encontrar com o rei da Babilônia, e assim endereçando ele: "Veja! Você é humilhado como nós", etc? Eu teria tão boas bases para argumentar que os mortos sentem e entendem, como eles tem para inferir que eles perderam todo seu poder de percepção. Mas eu os faço bem-vindos a todas leviandades deste tipo. Ao explicar a passagem que eles citam, nós não devemos achar muita dificuldade, se não fizermos labirintos para nós mesmos. Jó, quando pressionado com dolorosas aflições, e de certa maneira vencido pela carta, vê somente sua presente miséria e a faz não somente a maior de todas as aflições, mas também quase a única aflição. Ele não treme diante da morte, não, ele a deseja como colocando tudo no mesmo nível, como acabando com a tirania de reis e a opressão de escravos, como, em resumo, o objetivo final, no qual cada um pode deixar de lado a condição que foi outorgada a ele nesta vida. Assim ele espera que ele mesmo veja o fim de sua calamidade; enquanto isto, ele não considera em que termos ele viverá lá, o que ele fará, o que sofrerá. Ele somente deseja sinceramente uma mudança de seu estado presente, como é comum com aqueles que são pressionados e vencidos com qualquer dolorosa angústia. Pois se, durante o calor ardente do verão, nós consideramos o inverno prazeroso, e de outro lado, quando paralisados pelo frio do inverno nós desejamos de todo coração pelo verão, o que faria aquele que sente a mão de Deus em oposição a ele? Ele não vai recuar de nenhum mal, contanto que ele possa escapar do mal presente. Se eles não forem persuadidos disto, não há o que se espantar. Eles selecionam e provêem a si mesmos com minúsculas passagens, mas ignoram o escopo global. Aqueles que olham distintamente para toda a narrativa irão, estou certo disto, aprovar minha explicação.

A segunda passagem é (Jó 7:7).

"Lembre-se que minha vida é um sopro e meus olhos não voltarão a ver o bem, nem o olho do homem me verá. Teus olhos estão sobre mim, e eu não subsistirei. Como a nuvem é consumida e passa, assim aquele que foi para as partes baixas não voltará a subir".

Nestas palavras, Jó, deplorando sua calamidade perante Deus, exagera nisto, que não há esperança de escapar é mencionado. Ele só vê sua calamidade, que o perseguem até a cova. Então ocorre a ele que uma morte miserável será o fim de uma vida de calamidades. Pois aquele que sente a mão de Deus em oposição a ele não pode pensar de forma diferente. Pois desta amplificação ele desperta compaixão e lamenta seu caso perante Deus. Eu não vejo o que mais você pode descobrir nesta passagem, a menos que seja que nenhuma Ressurreição deve ser esperada - um ponto que este não é o lugar de discutir.

A terceira passagem é (Jó 17:1), "Só a sepultura basta para mim". Novamente, "Tudo meu descerá para as profundezas do inferno" (infernus). Isto, de fato, é bem verdade. Pois nada melhor fica para aquele que não tem Deus propício, como Jó então pensava ser seu caso, do que a morte e o inferno. Então, quando ele recapitulou toda a história da sua miséria, ele diz que o ultimo ato é a confusão. E este é o fim daqueles em quem Deus deita sua mão. Pois há morte em sua ira, e vida em sua misericórdia! Isto não é declarado de forma deselegante por Eclesiástico quando ele diz (Eclesiástico 37:28), "A vida de um homem está no número de seus dias, mas os dias de Israel são inumeráveis". Mas como a autoridade daquele autor é duvidosa, deixemo-lo e escutemos um profeta, admiravelmente ensinando a mesma coisa, em suas próprias palavras (Salmos 102:24),

"Ele quebrou minha força em seu curso, ele encurtou meus dias: mas eu disse, ó Senhor, não me tomes no meio de meus dias. Teus anos são eternos. Céu e terra, que tu fundaste na antiguidade, perecerão, como uma veste eles envelhecerão".

Até aqui ele mostrou quão passageira e frágil a condição do homem é, e como nada debaixo dos céus é estável, vendo que eles também estão beirando a destruição. Ele depois adiciona,

"Mas tu és o mesmo, e teus anos não terão fim. Os filhos de seus servos habitarão seguros, e sua posteridade será estabelecida perante ti" (Salmos 102:27, 28).

Nós aqui vemos como ele conecta a salvação do justo com a eternidade de Deus. Tão frequentemente, então, como eles trazem Jó, afligido pela mão de Deus e quase desesperado, representando que nada resta para ele senão a morte e a sepultura, eu responderei que enquanto Deus é ira, isto é o único fim que nos aguarda, e que Sua misericórdia consiste em nos resgatar das mandíbulas da morte.

A quarta passagem é (Jó 34:14),

"Se Ele direcionar seu coração para ele, ele irá retirar o espírito e fôlego do homem para si, ao mesmo tempo toda carne se extinguirá e o homem retornará para as cinzas".

Se estas palavras forem entendidas do julgamento, como se fosse dito que por Sua ira o homem é dissolvido, cortado, confundido e transformado em nada, eu concordaria com eles mais do que eles pedem. Se eles entendem que espírito, ou seja, a alma, na morte, retorna a Deus, e que o fôlego (flatus), ou seja, o poder de locomoção ou a ação vital, abandonando o homem, eu não tenho objeção. Se eles contendem que a alma perece, eu me oponho a eles vigorosamente, apesar do significado do hebraico ser um pouco diferente. Mas, satisfeito em dispor de seus sofismas, eu não vou levar a questão muito adiante.

Eles brandem alguns outros dardos, mas eles são sem sentido. Eles não dão nenhum golpe, e eles nem mesmo causam muito temor. Pois eles citam algumas passagens que, além de ser irrelevantes, são tomadas de livros de autoridade duvidosa, como 4 Esdras e 2 Macabeus. A estes, a resposta que nós damos ao discursar sobre a Ressurreição é suficiente. Em uma coisa seu procedimento é desavergonhado, e é visto por todos ser assim, a saber, em clamar Esdras, apesar de ele estar completamente do nosso lado. E eles não têm vergonha de trazer os livros de Macabeus, onde Jeremias morto ora para o Senhor em benefício de seu povo hostil, e onde orações são feitas pelos mortos, para que eles sejam libertos de seus pecados! Possivelmente eles possuem outros argumentos, mas eles são desconhecidos para mim, já que não tem sido minha sorte ver todas suas ficções. Eu não omiti nada intencionalmente que poderia desencaminhar ou fazer qualquer impressão no simples.

Eu novamente desejo a todos meus leitores, se eu tiver algum, a lembrar que os Catabatistas (em quem, como se encarnasse todo tipo de abominações, é suficiente ser nomeado) são os autores deste famoso dogma. Bem podemos nós suspeitar de qualquer coisa que proceda de tal forja - uma forja que já fabricou e está diariamente fabricando, tantos monstros.

Fonte: http://www.monergism.com/thethreshold/sdg/calvin_psychopannychia.html

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Comentários   

0 #1 Ewerton B Tokashiki 15-09-2015 14:23
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Solicito autorização para compartilhar este texto traduzido em meu blog. Se for possível, comprometo-me dar os créditos do tradutor e postar o link deste site. Para isto, também destas informações.

Aguardo e muito agradecido,
Ewerton B. Tokashiki
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