• Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.

    Mateus 5:44,45

  • Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível

    .

    Mateus 17:20

  • Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre?

    Lucas 15:4

  • Então ele te dará chuva para a tua semente, com que semeares a terra, e trigo como produto da terra, o qual será pingue e abundante. Naquele dia o teu gado pastará em largos pastos.

    Isaías 30:23

  • As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;

    João 10:27

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Verso do dia

Discutindo a intercessão dos santos

Escrito por  Gustavo

intercessionHá algum tempo surgiu o vídeo de um sermão de um padre, onde este discutia a intercessão dos santos e apresentava alguns argumentos contra o que o protestantismo diz sobre este assunto. Isto nos motivou a postar um trecho da Vida de Antão, onde ele se recusa a oferecer uma oração em favor de outra pessoa, alegando ser “homem como ele”. Desde então recebemos muitos comentários de leitores católicos, alegando que o texto não estaria refutando a intercessão dos santos, ou que se o texto de fato refutasse a intercessão dos santos, ele refutaria também a oração feita por uma pessoa em prol de outra, muito comum no protestantismo.

Depois de todos estes comentários, percebemos a necessidade de esclarecer melhor o que está envolvido na discussão da intercessão dos santos. Nós então redigimos o texto que trazia o trecho da Vida de Antão, para esclarecer por que ele estava sendo usado, e prometemos fazer um texto específico sobre a intercessão dos santos. É chegada a hora, portanto, de tratar sobre este assunto. Para iniciar o assunto, precisamos conhecer primeiro como o catolicismo define a intercessão dos santos.

O que é a intercessão dos santos no catolicismo?

O catecismo católico define a intercessão dos santos da seguinte forma:

956. A intercessão dos santos. “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio1.

O catecismo católico cita ainda a Lumen Gentium:

Porque os bem-aventurados, estando mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade, enobrecem o culto que ela presta a Deus na terra, e contribuem de muitas maneiras para a sua mais ampla edificação em Cristo (cfr. 1 Cor. 12, 12-27) (148). Recebidos na pátria celeste e vivendo junto do Senhor (cfr. 2 Cor. 5,8), não cessam de interceder, por Ele, com Ele e n'Ele, a nosso favor diante do Pai (149), apresentando os méritos que na terra alcançaram, graças ao mediador único entre Deus e os homens, Jesus Cristo (cfr. 1 Tim., 2,5), servindo ao Senhor em todas as coisas e completando o que falta aos sofrimentos de Cristo, em favor do Seu corpo que é a Igreja (cfr. Col. 1,24) (150). A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos2.

A enciclopédia Católica define intercessão como:

Interceder é ir ou vir entre dois lados, pedir perante um deles em favor do outro. No Novo Testamento é usado como equivalente de entygchanein (Vulgata interpellare, em Hebreus 7:25). "Mediação" significa ficar entre dois grupos (em contenda), com o propósito de uni-los (cf. mediador, mesites, 1 Timóteo 2:5).

No uso eclesiástico ambas palavras são tomadas no sentido de intervenção, primariamente de Cristo, e secundariamente da Abençoada Virgem e dos anjos e santos, em favor dos homens. Seria melhor, contudo, restringir a palavra mediação à ação de Cristo e intercessão à ação da Abençoada Virgem, os anjos e santos3.

Assim para o catolicismo a intercessão envolve um intercessor que se coloca entre duas partes, fazendo algum pedido a uma das partes em favor de outra. Se definida nestes termos, a intercessão englobaria não só a oração de santos já falecidos em prol de fiéis vivos, mas a oração de um fiel e prol de de outro ainda em vida, e até mesmo a mediação de Cristo.

Como esta definição de intercessão acaba igualando a intercessão de Cristo com a de santos, anjos, etc., o catolicismo precisa definir em que sentido Cristo seria o único Mediador (1 Timóteo 2:5). Segundo a Enciclopédia Católica:

Ao considerar a Mediação de Cristo nós devemos distinguir entre Sua posição e Seu ofício. Como Deus-homem Ele fica entre Deus e o homem compartilhando das naturezas de ambos, e então, por este mesmo motivo, digno de agir como Mediador entre eles. Ele é, de fato, o Mediador no sentido absoluto da palavra, de uma forma que ninguém mais poderia ser. "Pois há um Deus e um mediador de Deus e homens, o homem Cristo Jesus" (1 Timóteo 2:5). Ele está unido a ambos: "A cabeça de todo homem é Cristo... a cabeça de Cristo é Deus" (1 Coríntios 11:3). Seu ofício de Mediador pertence a Ele como homem, Sua natureza humana é o principium quo, mas o valor de Sua ação é derivada do fato de que Ele é uma Pessoa Divina que age4.

Esta mediação, para o catolicismo, não exclui a intercessão dos homens em favor de outras pessoas:

A doutrina de um Mediador, Cristo, de forma alguma exclui a invocação e intercessão dos santos. Todos os méritos, de fato, vêm através Dele; mas isto não torna ilícito pedir para nossos companheiros de criação, se aqui na terra ou já no céu, para nos ajudar através de suas orações. O mesmo Apóstolo que insiste tão fortemente na única mediação de Cristo insta pela oração de seus irmãos: “Eu suplico a vós, então, irmãos, através de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela caridade do Espírito Santo, que vós me ajudeis em vossas orações por mim a Deus” (Romanos 15:30); e ele próprio ora por eles: "Eu dou graças a meu Deus em toda lembrança de vós, sempre em minhas orações fazendo súplicas por todos vós” (Filipenses 1:3-4). Se as orações dos irmãos na terra não derrogam da glória e dignidade do Mediador, Cristo, as orações dos santos também não5.

Assim, o catolicismo difere mediação de intercessão por que Cristo é Deus-homem, compartilhando das duas naturezas, e é Aquele que age nesta mediação. Os santos, por outro lado, só podem interceder por que os méritos desta intercessão são de Cristo.

Alguém a esta altura poderia se perguntar: se temos tantos irmãos aqui na terra para pedir esta ajuda, como Paulo faz na citação acima, por que então deveríamos recorrer aos santos já no céu? Vimos na citação do Catecismo Católico que um dos motivos é que, estando no céu, estes santos possuem uma ligação mais íntima com Cristo. Há outro motivo para este recurso, sempre subentendido nas explicações sobre a intercessão dos santos: os méritos que eles obtiveram perante Deus. A Enciclopédia Católica traz uma citação de Tomás de Aquino que deixa isto bem claro:

A oração é oferecida a uma pessoa de duas formas: uma como sendo concedida por ele mesmo, outra como sendo obtida através dele. Na primeira forma nós oramos a Deus apenas, porque todas as nossas orações devem ser direcionadas a obter graça e glória que somente Deus dá, de acordo com aquelas palavras do Salmo (lxxxiii, 12): 'O Senhor dará graça e glória'. Mas no segundo sentido nós oramos aos santos anjos e a homens não para que Deus saiba de nossas petições através deles, mas para que por suas orações e méritos nossas orações possam ser eficazes. Pelo que é dito no Apocalipse (viii, 4): 'E a fumaça do incenso das orações dos santos subiram perante Deus da mão do anjo' (Summ. Theol., II-II, Q. lxxxiii, a. 4)6.

Em conformidade com a citação da Lumen Gentius, acima, vemos que estes santos, para o catolicismo, apresentam seus méritos durante suas orações. Por este motivo suas orações seriam mais eficazes, o que é usado para encorajar a prática da oração aos santos.

Estes são, portanto, os principais pontos a se discutir nos próximos tópicos. Vamos iniciar a discussão pelo último ponto, pois ele basicamente define a diferença principal entre o que o católico e o protestante entende por intercessão.

A questão dos méritos

Algo que está sempre subentendido discussão sobre a intercessão é os méritos de quem a realiza. Podemos ver isto na crítica feita pelo padre ao ensino protestante sobre a oração diretamente a Deus: se a pessoa não pede a intercessão de algum santo, é por que ele é “super uper trans ultra mega power”, é “o cara”, é “deus”. Se alguém não recorre aos méritos de algum santo, ele deve ter muitos méritos próprios, não é?

A questão da oração é de fato estreitamente vinculada à questão dos méritos. François Turretini, ao discutir a questão da intercessão de anjos em sua obra, explica bem a questão o que é intercessão:

III. Primeiro, só pode interceder por nós quem morreu por nós. Só pode ser nosso Paracleto (Parakletos) e advogado aquele que é nosso único sacrifício (hilasmos) e propiciação. Estes são unidos pelo apóstolo por um laço indissolúvel, como partes de um e o mesmo ofício sacerdotal, mutuamente subordinadas e mutuamente dependentes, pois, como a propiciação é a causa e fundamento da intercessão (que atrai a si necessariamente), assim a intercessão pressupõe necessariamente uma propiciação, para que seja corretamente realizada (como sob o Antigo Testamento o sacerdote não podia realizar o ato de declaração [emphanismou] sem cumprir antes o ato de sacrificar [hilasmou], e tão somente a ele pertencia oferecer incenso (Êx 30.34-38). Ora, tão somente Cristo fez satisfação por nós e, portanto, somente ele pode interceder por nós (cf. Rm 8.34,35; 1Jo 2.1,2 em que estas funções são atribuídas tão somente a Cristo, à exclusão dos demais).

IV. Segundo, apresentar a Deus as orações de outros é uma parte do ofício mediador e sacerdotal, o qual a Escritura reivindica exclusivamente para o Filho de Deus (que é o único Mediador entre Deus e os homens, 1Tm 2.5). Além disso, não se pode admitir a distinção entre mediadores secundários, mediatos e ministeriais, e primários, imediatos e principais, visto que a Escritura não reconhece nenhum mediador salvo somente aquele que (como Deus-homem [theamthropos]) pode exercer tal ofício. Hessel (Estius), professor de Louvain, sobre essa passagem, vê a negação de que os anjos e santos possam ser nossos mediadores junto a Deus, porque não podem por si sós apaziguá-lo (In Omnes Pauli Epistola [1891], 2:536, sobre 1Tm 2.5)7.

Assim, toda intercessão envolve uma propiciação. Cristo é o único Mediador pois é o único que se sacrificou por nós e é nosso sumo sacerdote (Hb 2:7), Ele se ofereceu como esta propiciação. Como diz a passagem citada por Turretini:

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.

E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. - 1 João 2:1,2

Aqui João apresenta Cristo como nosso Advogado. Como que antevendo a dúvida “mas o que Ele ofereceu para apagar tão grande pecado que tenho?”, o apóstolo logo responde: Ele ofereceu a si mesmo. Isto mostra a necessidade de haver uma oferta que acompanhe a intercessão. Turretini mais adiante continua discutindo sobre a intercessão, agora dos santos:

II. A questão não é acerca de mera oração e intercessão impropriamente assim chamadas – consistindo no intercâmbio mútuo das orações de alguns em favor de outros entre os vivos. Pois reconhecemos que os crentes podem orar em favor de outros, e especialmente os pastores devem exercer este ofício em favor do povo junto a Deus. Antes, a questão é relativa à mediação propriamente assim chamada, pela qual alguém pode ser considerado intercessor por sua própria virtude, e não só oferecendo orações a Deus, mas também recomendando aqueles que são apresentados a Deus, fazendo-os aceitáveis por seus próprios méritos.

III. A questão não é se os santos são nossos mediadores junto a Deus num grau igual a Cristo. Pois isto os papistas evitam afirmar e por isso mesmo fazem distinção entre mediador primário e secundário – mediador de redenção e de intercessão. Mas a questão é se, em algum sentido, podem ser chamados propriamente nossos mediadores. Eles afirmam isto, e nós o negamos.

IV. A questão chega a isto – se além de Cristo os santos são nossos mediadores junto a Deus, os quais não só intercedem por nós com suas orações, mas também conciliam seu favor para conosco por meio de seu patrocínio e méritos. Ou se Cristo é o único que exerce o ofício de Mediador e Advogado em nosso favor. Nós asseveramos este ponto; nossos adversários defendem o primeiro

V. No ofício sacerdotal de Cristo, geralmente se distinguem duas partes – satisfação e intercessão. Os papistas não se acanham de atribuir ambas aos santos. Quanto à intercessão, sabemos que ela é atribuída aos santos, quando contendem que suas orações são oferecidas por eles; sim, demandam que se lhes conceda perdão em razão de suas orações, e que estas devem ser respondidas8.

Aqui Turretini explica bem o que é o ponto de discussão, observando alguns pontos que já pudemos perceber pelos textos católicos citados acima: a questão não é se os santos são mediadores como Cristo ou se ninguém pode orar pelos outros. O que se discute aqui é se alguém pode apresentar méritos próprios para recomendar outra pessoa.

É por isto que católicos defendem a intercessão dos santos: por que eles acreditam que ao orar, por exemplo, para santo Expedito, este intercede apresentando seus próprios méritos, facilitando o atendimento da oração. E é basicamente por este motivo que apresentamos o texto da vida de santo Antão: Martiniano, certamente impressionado pelos relatos miraculosos a respeito de Antão, foi até ele para pedir que ele fizesse uma oração em prol de sua filha. Ele pensou que Antão teria mais méritos diante de Deus para ter a oração atendida. Por isto a resposta de Antão foi: “Sou homem como tu”. Alguns católicos sugeriram que os motivos para Antão não fazer a oração são desconhecidos, mas está bem claro no texto que o motivo é exatamente Martiniano achar que Antão teria tais méritos diante de Deus (principalmente se lermos os vários relatos trazidos por Atanásio dos milagres feitos por Antão).

Então, há uma diferença crucial entre o que o católico entende por intercessão, e o que o protestante entende por intercessão. Turretini mesmo até nega que orações uns pelos outros devam ser chamadas de intercessão. O protestante não faz orações pelos méritos próprios, mas sim pelos méritos de Cristo.

Turretini ainda responde à distinção feita entre mediações

VII. Segunda objeção: “isso se refere ao Mediador da redenção, que é apenas um, porém não ao Mediador da intercessão, que pode admitir associados”. Respondemos: (a) a distinção é estranha às Escrituras que mencionam um só Mediador, não muitos. (b) A distinção entre o Mediador de redenção e de intercessão é falsa, porque ninguém pode ser mediador da intercessão sem ser também mediador da redenção. Pois estas duas funções – propiciação (hilasmos) e intercessão (emphanismos) – são as duas partes da mediação, pertencentes ao mesmo ofício e nunca devem ser separadas, visto que estão amalgamadas na Escritura (1Jo 2.1,2; Rm 8.34; Hb7.25), até mesmo quando sob a lei cabia ao sacerdote entrar no lugar santo e fazer súplicas pelo povo (a quem competia oferecer sacrifício).

É interessante o que Turretini chama a atenção aqui: até no Antigo Testamento, o sacerdote tinha que apresentar um sacrifício antes da intercessão pelo povo, mostrando que a intercessão e a propiciação são partes de um só ofício. Tal conceito é trazido novamente em Hebreus:

Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a seus irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de fazer propiciação pelos pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados. - Hebreus 2:17-18

Em Hebreus, Cristo é feito sumo sacerdote para fazer a propiciação pelos pecados, socorrendo quem é tentado. O texto não dá margem aqui para separar a propiciação do socorro.

Separados pelo pecado, reconciliados por Cristo

segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor, no qual temos ousadia e acesso em confiança, pela nossa fé nele. - Ef 3:11-12

Um dos grandes temas de Romanos é como o pecado nos afastou de Deus. Somos chamados de inimigos (Rm 5:10) e nos é informado que a inclinação da carne é inimizade contra Deus (Rm 8:7). Estaríamos perdidos se Cristo não houvesse nos reconciliado (Rm 5:10).

A intercessão dos santos católica parece dar a entender que esta reconciliação não foi completa, ou que agora há uma separação entre nós e Cristo. E para sanar este problema, precisaríamos dos santos e sua intercessão.

O que nos diz as Escrituras sobre isto?

Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus, pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa - Hebreus 10:19-22

Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. - Romanos 5:8-9

Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles. Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime que os céus; que não necessita, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez por todas, quando se ofereceu a si mesmo. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens que têm fraquezas, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, para sempre aperfeiçoado. - Hebreus 7:25-28

Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós; quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. - Romanos 8:34-39

A ênfase bíblica é dada ao fato de que antes separados, somos agora reconciliados por Cristo. E em nenhum momento se diz que esta reconciliação é parcial, ou que precisamos de algo além de Cristo para termos acesso ao Pai.

De fato, esta foi uma característica que diferenciava o cristianismo de outras religiões pagãs. Larry Hurtado nos informa isto em seu livro, Destroyer of the gods:

Nas tradições filosóficas, uma deidade última e radicalmente transcendente era frequentemente postulada, mas você normalmente não engajava com aquela deidade transcendente diretamente. Por exemplo, você normalmente não fazia sacrifícios para esta deidade ou fazia súplicas a ela diretamente. Pelo contrário, alguns filósofos que postulavam as elevadas visões de uma deidade transcendente estavam satisfeitos com a adoração às deidades tradicionais e menores e, de fato, tomavam parte nisto eles mesmos. Mas o posicionamento cristão primitivo era que um verdadeiro e radicalmente transcendente Deus era, contudo, também disponível para uma relação direta com o povo. Cristãos acreditavam que você poderia orar diretamente para este Deus e esperar ser ouvido. Você poderia adorar este Deus diretamente e saber que isto era bem vindo. De fato, oração e adoração diretamente a este único Deus foi tipicamente exigido como a única apropriada e legítima adoração em círculos cristãos. Em contraste com a prática e pontos de vista do mundo pagão, incluindo tradições especificamente filosóficas, cristãos deveriam tratar as várias outras deidades do seu tempo como seres indignos, e a adoração a eles como idolatria9.

Temos então que o catolicismo está adotando em nossos dias um modo de pensar que fora rejeitado pelos primeiros cristãos. Não seria, portanto, mais prudente, confiar na obra definitiva de Cristo e fazer como estes cristãos primitivos, orando diretamente ao Pai?

Intercessão significa o mesmo para católicos e protestantes?

Gostaríamos de finalizar esta discussão fazendo uma simples comparação entre Romanos 15:30, que foi apontado pela Enciclopédia Católica como um pedido de intercessão por parte de Paulo, e algumas orações feitas aos santos católicos. O texto bíblico é:

Rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas vossas orações por mim a Deus, para que eu seja livre dos rebeldes que estão na Judéia, e que este meu ministério em Jerusalém seja aceitável aos santos; a fim de que, pela vontade de Deus, eu chegue até vós com alegria, e possa entre vós recobrar as forças.

Vemos que em momento algum Paulo fala de algum mérito por parte dos Romanos. Mesmo quando pede para os Romanos orarem por ele, ele pede por Cristo e pelo amor do Espírito Santo. Não é isto que podemos ver, por exemplo, nas orações da novena a santo Expeditox (nossos grifos):

Ato de Contrição

Meu Pai e meu Senhor Jesus Cristo, caridade sem fim, eu sinceramente me arrependo dos meus pecados. Concedei-me, portanto, o perdão dos meus pecados e a graça que peço pelos méritos das dores de Sua Mãe amorosa e pelas virtudes de Seu mártir Santo Expedito.

...

Oh, glorioso mártir Santo Expedito! Pelos sofrimentos e humilhações que recebeste para o amor de Deus, concedei-me esta graça também que é muito agradável a Deus e me liberta da raiva e da dureza de coração, que é a pedra de tropeço da minha alma.

O pedido de Paulo ainda tem em vista a vontade de Deus, como destacamos acima. Isto mostra Deus como Aquele que atenderá a oração, fazendo o que foi pedido.

Muitas das orações aos santos não se acanham em apresentar o próprio santo como aquele que atenderá a oração. Vemos isto por exemplo, em uma oração a Dom Boscoxi, onde outras coisas, é atribuído ao santo a infusão de disposições no coração humano (grifo nosso):

Oh, Dom Bosco Santo, que com tão grande amor e zelo cultivastes às múltiplas formas de ação católica que hoje florescem na Igreja, concedei a suas associações o maior progresso e desenvolvimento. Redobrai, em todos os corações, a devoção à Santíssima Eucaristia e a Maria Auxiliadora dos cristãos.

Acrescentai neles o amor ao Papa, o zelo pela propagação da fé, um solícito esmero pela educação da juventude e grandes entusiasmos para suscitar novas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Fazei que, em cada uma das nações, fomente-se e inicie a guerra contra a blasfêmia, o mal falar e a imprensa ímpia; fazendo surgir em todas as partes novos cooperadores para as diversas formas de apostolado recomendadas pelo Vigário de Cristo.

Infundi em todos os corações católicos a chama de vosso zelo, para que, vivendo em caridade difusiva, possam, ao fim de suas vidas, recolher o fruto das muitas obras boas praticadas durante ela.

Temos o mesmo com a oração a Nossa Senhora do Perpétuo socorroxii. A oração pede a ela para impedir que o fiel caia em tentação (grifo nosso):

Ó Mãe do Perpétuo Socorro, nós vos suplicamos, com toda a força do nosso coração, amparar a cada um de nós em vosso colo materno, nos momentos de insegurança e sofrimento. Que o vosso olhar esteja sempre atento, para não nos deixar cair em tentação, e que, em vosso silêncio, aprendamos a aquietar nosso coração e fazer a vontade do Pai. Intercedei junto ao Ele pela paz no mundo e por nossas famílias. Abençoai todos os vossos filhos e filhas enfermos.

A oração é feita de tal forma que, não apenas faz a petição esperando que o próprio santo a atenda, mas também que ele a atenda em coisas que geralmente só Deus atenderia (por exemplo mudando a disposição do coração das pessoas). Tal atitude é bem diferente daquela apresentada por Paulo em Romanos 15:30, é bem diferente da atitude protestante ao se pedir súplicas por outros cristãos. A definição de intercessão católica é tão ampla que admite inclusive a intercessão de objetos inanimados, como a cruzxiii.

Por ser assim tão ampla, é compreensível que os católicos vejam a prática protestante de pedir oração aos irmãos como “intercessão”. Como vimos, a definição bíblica não é tão ampla assim. Por seguirmos a definição bíblica, não apenas de intercessão mas também de como a oração deve ser feita com base nos méritos de Cristo, não estamos em conflito com 1 Timóteo 2:5.

Notas

1. Catecismo da Igreja Católica, item 956, pág. 322, Edições CNBB.

2. Lumen Gentium, 49. Texto disponível em http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html

3. Traduzido de http://www.newadvent.org/cathen/08070a.htm

4. Ibid.

5. Ibid.

6. Ibid.

7. TURRETINI, François, Compêndio de teologia apologética, Volume I, Ed. Cultura Cristã, págs. 702 e 703.

8. TURRETINI, François, Compêndio de teologia apologética, Volume II, Ed. Cultura Cristã, págs. 465 e 466.

9. HURTADO, Larry W., Destroyer of the gods, Early Christian distinctiveness in the Roman world, Baylor University, pág. 63.

10. https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/novena/novena-a-santo-expedito/, acessado em 08/09/2017.

11. https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/oracao-d-para-obter-alguma-graca-especial/, acessado em 08/09/2017.

12. https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/oracao-a-nossa-senhora-do-perpetuo-socorro/, acessado em 08/09/2017.

13. https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/oracao/oracao-a-santa-cruz/, acessado em 08/09/2017.

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Comentários   

+1 #3 Cícero 29-07-2019 17:38
Excelente explanação, Gustavo! Só acrescentaria mais uma coisa que considero fundamental para entendermos a diferença entre a intercessão de um santo católico pelo suplicante e a intercessão de um cristão por outra pessoa. No primeiro caso, normalmente, o intercessor está morto, e, no segundo, está vivo. De acordo com a Bíblia, nós não deveríamos tentar falar com os mortos.
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-2 #2 Lucas 15-05-2018 01:49
Os cristãos celebram as memórias dos santos mártires para que possam participar de seus méritos e ser auxiliados pelas suas orações, pois a justiça deles é perfeita. E, uma vez que eles saíram tão perfeitos desta vida, não são nossos protegidos, mas nossos protetores.
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-1 #1 Neilom 16-01-2018 18:55
Gustavo, excelente! Que Deus continue a te abençoar mais e mais.
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