Richard Baxter dedica o primeiro capítulo de seu The Reformed Pastor para tratar da forma que o pastor deve atender a si mesmo. O trecho a seguir é retirado deste capítulo e dá um conselho muito útil àqueles que desejam pregar o evangelho.
Procurem os pobres e conheçam suas necessidades; mostrem compaixão em relação à sua alma e aos seus corpos. Comprem-lhes um catecismo e outros pequenos livros que lhes façam bem e peçam-lhes que prometam ler com cuidado e atenção. Abram seus bolsos ao máximo e façam todo o bem que puderem. Não se concentrem em riquezas mundanas nem busquem grandes coisas para si mesmos e para seus descendentes. Caso empobreçam por fazer o bem, terá sido ganho ou perda? Se os senhores realmente creem que Deus é o provedor do sustento, e que gastar no seu serviço é o maior investimento, ajam com base no que creem. Sei que sangue e carne lutarão para manter sua presa e não desejarão que algo seja dito contra seus interesses; no entanto, gravem bem o que digo (e que o Senhor o inculque em seus corações): se alguém tiver no mundo alguma coisa tão preciosa que não possa entregá-la a Cristo, tal pessoa não será verdadeiramente cristã. Digo mais: um coração carnal – que não acredita que Cristo poderá pedir algo que ele não esteja disposto a entregar – a si mesmo se engana, pois não se dispõe a gastar em favor de Cristo exatamente aquilo que tem de ser gasto, isto é, tudo – e não será verdadeiramente crente. Um coração falso corrompe o entendimento e alimenta as próprias ilusões. Não pretendam fazer amigos com as riquezas deste mundo, mas ajuntem tesouros de justiça, ainda que lhes sobre pouco na terra. Fazendo-se pobre na terra, nada perderão no céu. Na caminhada , quanto mais leves, melhor caminhamos.
Meras palavras não conseguirão arrancar o dinheiro das mãos do homem de coração carnal e avarento. Falem quanto quiserem. Falar é uma coisa, mas crer é outra. Entretanto, as palavras da verdade prevalecem no coração dos crentes. Que abundância de bem teriam os ministros, se desprezassem o mundo, suas riquezas e glórias, e aplicassem tudo o que têm no serviço do Mestre, constrangendo a carne para ter com que fazer o bem! Tal generosidade faria mais em termos de abrir os corações para receber a doutrina do que toda oratória existente. Sem generosidade, a singularidade da fé parecerá hipocrisia. “Quem pratica a generosidade ora ao Senhor; que arrebata um homem do perigo oferece rico sacrifício; tais são nossos sacrifícios santos para com Deus. É mais consagrado entre nós quem é menos consciente de si mesmo”, disse Minucius Felix1. Não precisamos fazer como aqueles que entregam suas propriedades e se retiram para os monastérios – e, no entanto, nada devemos possuir exceto aquilo que temos em mãos para zelar como mordomos de Deus.
Notas
1. Minucius Felix foi um advogado do período pré-niceno, cuja obra Octavius (século 2o ou 3o d.C.) é considerada como a primeira defesa cristã escrita em latim. Entretanto, não se sabe ao certo se ele é anterior a Tertuliano. M. Felix é de origem norte-africana e converteu-se ao Cristianismo já no final de sua vida. A obra Octavius é um escrito apologético, cujo fim principal é defender o Cristianismo, e é escrita em forma de diálogo, que apresenta uma conversa entre três amigos, numa praia próxima a Roma: Cecílio, um pagão, e dois cristãos: o narrador e o amigo comum, Otávio. Cecílio era um cético, ou seja, entendia não ser possível o conhecimento da verdade. Otávio, então, tem o objetivo de convencer o amigo de que a verdade é possível no Cristianismo [N. do E.].
"Manual Pastoral de Discipulado ", Richard Baxter, Ed. Cultura Cristã, páginas 48 e 49.
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